O colunista do UOL, Josias de Souza, falou sobre o cenário pós-eleição no Brasil. Para ele, independentemente da vitória de Jair Bolsonaro (PL) ou de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o país viverá um clima de de “3º turno” pelos próximos quatro anos, tendo em vista a polarização e divisão que tomou conta do Brasil.
“A única certeza que nós temos hoje é que haverá, sim, um 3º turno, e não importa qual será o resultado. No dia 30 de outubro, o Brasil vai escolher um vencedor, mas não vai escolher um presidente capaz de unificar a nação, que está muito dividida. Então, um 3º turno é inevitável e terá a duração de quatro anos”, disse.
Josias também alertou que, em caso de derrota de Bolsonaro, é tão “certo como o nascer do sol” que o atual presidente irá contestar judicialmente o resultado das urnas, causando certo tumulto. Também afirmou que Lula poderá contestar o resultado em eventual derrota acusando excesso do uso de fake news, e concluiu dizendo que os próximos quatro anos serão de grande oposição ao governo.
“Independente de contestações judiciais vamos ter um 3º turno porque o lado perdedor vai infernizar o governo durante quatro anos e isso vai criar no Brasil uma oposição extraparlamentar”.
Sobre a possibilidade de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) combater as fake news sem anuência do Ministério Público, Josias de Souza avaliou que isso significa que a Corte não conseguiu conter as notícias falsas durante o pleito.
“A declaração do ministro Alexandre de Moraes [presidente do TSE], se serve para alguma coisa, é para potencializar a conclusão de que o TSE perde a guerra contra a difusão de fake news”, afirmou.
Ele também se disse impressionado pelo fato de apenas a 11 dias das eleições, o ministro ter se reunido com representantes das redes sociais para discutir formas de se combater a difusão de notícias falsas.
“Estava entendido que o TSE estava equipado para evitar a repetição de 2018, e o que estamos vendo é um filme pior do que aquele que ocorreu há quatro anos”.
Por fim, Josias reforçou que o simples fato dessa conversa ter existido, evidencia a derrota da Justiça Eleitoral. “A Justiça Eleitoral está perdendo a guerra e o TSE chega tarde nos lances. Veta propagandas convencionais e ordena a retirada de vídeos da internet, mas essas determinações têm sido incapazes de prevenir o estrago porque a difusão já ocorreu”.
“Alexandre de Moraes, com várias medidas que toma pelas precipitações dele, corre o risco de se transformar no Bolsonaro da Justiça Eleitoral. Ele sabe plenamente que a guerra está perdida e deveria reforçar a Justiça Eleitoral”, afirmou o jurista e colunista do UOL Wálter Maierovitch.
Sobre as atitudes do ministro Alexandre de Moraes, ele também fez críticas, dizendo que ele às vezes age com a cabeça de um promotor, e não de um magistrado.
“Alexandre de Moraes essa semana promoveu uma censura prévia no caso Jovem Pan, ele também exagera quando age de ofício. Então ele evoca sempre um poder de polícia, de fiscalização, mas há necessidade de provocação. (…) Essa história de agir de ofício com poder de polícia a título de fiscalização que vai ser decidido hoje no tribunal, é uma coisa perigosa com Moraes porque ele tem cabeça de promotor e não tem cabeça de magistrado”.