Por causa da alta popularidade da CPI da Covid ou por ter adotado uma postura mais crítica em relação ao governo Jair Bolsonaro, o Senado ganhou proeminência e visibilidade ao longo do ano de 2021, ao ponto de senadores aproveitarem o momento para tentar a candidatura a presidente.
Segundo a Folha de S. Paulo, cinco senadores chegaram a apresentar pré-candidaturas ou são cotados para disputar a eleição presidencial de 2022. Em contrapartida, na Casa vizinha, nenhum deputado federal tem seu nome vinculado à disputa pela sucessão de Bolsonaro.
São pré-candidatos ou veem seus nomes aparecerem nos principais cenários eleitorais os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Simone Tebet (MDB-MS), Jorge Kajuru (Podemos-GO) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Tasso Jereissati (PSDB-CE) chegou a apresentar seu nome para as prévias internas do PSDB. No entanto, decidiu na semana passada sair da disputa, optando por apoiar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).
Políticos e analistas afirmam que a quantidade de senadores pré-candidatos é um reflexo do momento vivido pela Casa, que esteve à frente de iniciativas importantes, como as propostas que permitiram uma nova rodada do auxílio emergencial e a compra de vacinas contra a Covid-19.
Em contraste com a Câmara, mais alinhada ao Planalto durante a presidência de Arthur Lira (PP-AL), o Senado em determinados momentos se tornou um foco de oposição a ações e arroubos de Bolsonaro.
“Isso ocorre pelas escolhas que foram feitas por cada uma das Casas. O Senado resolveu cumprir protagonismo, tentar ser uma válvula de contraponto aos excessos do bolsonarismo”, afirmou o líder da oposição e vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
“A Câmara, lamentavelmente com Arthur Lira, se tornou uma correia de transmissão”, disse.
As sessões ao vivo da CPI da Covid se tornaram um fenômeno midiático. Os fatos revelados, as brigas e as polêmicas instantaneamente figuram entre os temas mais comentados das redes sociais.
Dois dos nomes incluídos na corrida presidencial, Alessandro Vieira e Simone Tebet, inclusive, são personagens de destaque nas sessões da comissão. Mas senadores afirmam que a CPI não é o único fator.
“A política é feita de circunstâncias, fatos momentâneos e é muito dinâmica. No atual momento, o que se tem aparentado é uma evidência maior do Senado em função dos acontecimentos políticos que estão se desdobrando”, afirmou Nelsinho Trad (PSD-MS), líder da segunda maior bancada da Casa.
“A CPI é um deles. A própria questão dentro do Senado, de ser um colegiado mais progressista, isso faz com que se aproxime do eleitor. Mas isso é momentâneo, é um retrato que pode evoluir de acordo com a dinâmica da política”, disse.
Alguns especialistas também apontam uma mudança no perfil dos deputados federais, com uma grande parcela cada vez mais voltada para as questões de suas regiões, em detrimento dos grandes problemas nacionais.
“A Câmara foi perdendo status ao longo do tempo. Eu brinco que antes a gente usava aquela expressão alto clero e baixo clero. Hoje a gente não fala mais em baixo clero, porque não existe o alto. De um tempo para cá, as lideranças partidárias experientes, deputados de opinião, foram desaparecendo”, disse Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.
O analista afirma que os congressistas que tratam preferencialmente dos temas nacionais ainda existem, mas são minoria.
Além disso, segundo ele, houve uma mudança geracional e os mais comprometidos com grandes temas, como economia, educação, meio ambiente, são jovens, ainda sem nome e bagagem para alçar voos mais altos.
Melo cita os exemplos de Tabata Amaral (PSB-SP), Felipe Rigoni (PSB-ES) e Kim Kataguiri (DEM-SP).
Em contrapartida, deputados citam que a maior “estabilidade” dos senadores os torna candidatos naturais. Isso porque os mandatos são de oito anos, contra quatro dos deputados federais.
Por isso, dizem, alguns senadores podem arriscar uma candidatura majoritária, com a garantia de que retornarão a Brasília em caso de derrota.
“O Senado é composto por políticos conhecidos em todo o estado, muitas vezes com o apoio de governadores e quase sempre com muitos prefeitos. Além disso, é possível disputar eleição sem perder o mandato, coisa que deputados não conseguem fazer”, afirma Kataguiri.
Alessandro Vieira é até o presente momento o único pré-candidato oficial. O delegado de polícia se tornou um dos principais destaques durante os depoimentos da CPI, por sua forma de inquirir os convocados.
Ele lançou seu nome em suas redes sociais, buscando preencher o espaço da terceira via, contrapondo os polos ocupados por Bolsonaro e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Cidadania oficializou a pré-candidatura.
O MDB trabalha nos bastidores com o nome de Simone Tebet, em um movimento de renovação política, buscando lançar lideranças mais jovens.
A senadora tem dito a interlocutores que pretende anunciar sua decisão até a metade de outubro.
Um dos focos de resistência é o fato de ela ser uma senadora em fim de mandato e, por isso, seria natural buscar a reeleição, para não ficar sem cargo.
No entanto, muitos enxergam a movimentação do MDB como uma forma de barganhar espaço em uma eventual chapa, indicando um nome para a vice-presidência.
Na eleição para a presidência do Senado, em fevereiro, o partido lançou Tebet e prometeu unidade até o fim. No entanto, pouco antes da eleição, se dividiu para não ficar sem cargos importantes da Casa.
A pré-candidatura de Rodrigo Pacheco, por sua vez, envolve a aguardada movimentação de filiação ao PSD. O presidente da legenda, Gilberto Kassab, patrocina abertamente o nome de Pacheco ao Planalto.
Jorge Kajuru, no entanto, lançou sua pré-candidatura, mas ele próprio deixa claro não ter certeza de que seguirá até o fim e diz estar aberto a apoiar outros nomes de sua confiança.