Ao ser eleita vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF), no início de setembro, a subprocuradora-geral da República Elizeta Ramos cacifou-se a uma missão que assumirá a partir desta quarta-feira (27): comandar interinamente a Procuradoria-Geral da República (PGR). Isso porque uma das principais atribuições do posto para o qual ela foi escolhida é chefiar a cadeira máxima do Ministério Público Federal (MPF) em caso de vacância, o que acontecerá com a saída do atual PGR, Augusto Aras, que ainda não teve o substituto anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e cujo mandato encerra-se nesta terça.
Como mostrou o portal Metrópoles, Elizeta foi uma das signatárias, no fim de 2018, de uma nota de apoio à nomeação de Sergio Moro (União Brasil-PR) — ex-juiz federal e hoje senador — como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), que estava, à época, prestes a assumir a Presidência da República. O documento, assinado por mais de 150 procuradores, encampava uma profusão de elogios a Moro, destacando um “extraordinário desprendimento pessoal, em benefício do Brasil e dos interesses da sociedade” do ex-magistrado. Como juiz, Moro foi o responsável por condenações que chegaram a colocar Lula atrás das grades, posteriormente derrubadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Atualmente, Ramos é coordenadora da Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional, órgão que supervisiona ações do Ministério Público Federal (MPF) relacionadas a esses dois temas. Ela também já atuou como corregedora-geral do MPF e coordenou a Câmara de Direitos Sociais e Fiscalização de Atos Administrativos em Geral.
Em 2020, quando era corregedora, Ramos determinou a abertura de uma sindicância para analisar uma acusação da antiga força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba de que a subprocuradora Lindôra Araújo teria tentado copiar dados sigilosos da operação ilegalmente. Em 2021, ainda na Corregedoria, ela escreveu em um ofício interno que uma manobra adotada por Augusto Aras poderia ser usada “para o atendimento de expectativas pessoais ou politicas” com o objetivo de blindar aliados ou perseguir adversários.
Ramos protestou, à época, contra o fato de o procurador-geral ter enviado para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) um processo contra um assessor seu que estava na Corregedoria do MPF.
No ano passado, ela reclamou publicamente do serviço de transporte da PGR. Durante uma sessão do CSMPF, Elizeta relatou que deixou de ter um motorista dedicado somente a ela, e que um dia teve que pedir um Uber porque não havia ninguém para buscá-la.
— Será que subprocurador não pode andar de Uber? Claro que pode — afirmou, acrescentando depois: — O problema é: nós vamos ficar com um transporte assim? Cada vez que eu pedir um motorista, no dia seguinte vai ser uma dolorosa interrogação? Ele vai ou não? Eu que vou ter que ligar para cá, vou ter que pegar o Uber.