Após dias de campanha nas redes sociais, bolsonaristas se reúnem na tarde deste domingo para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. O ato foi convocado pelo pastor Silas Malafaia e parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), “em defesa do estado democrático de direito”, dos “direitos humanos” e da “memória de Cleriston da Cunha”, réu dos atos golpistas de 8 de janeiro que morreu durante banho de sol no Complexo da Papuda, no último dia 20. Os organizadores levaram a família do réu para o carro de som.
O ex-presidente, que chegou a publicar a convocação em seus perfis na redes, decidiu não ir ao ato, como noticiou o colunista Lauro Jardim. Bolsonaro fez um vídeo na semana passada, e chegou a dizer a Malafaia que iria, mas deixou o Rio de Janeiro na manhã deste domingo e seguiu diretamente para Brasília.
Antes das 14h, manifestantes vestidos de camisetas verde e amarelas e bandeiras do Brasil e de Israel já se reuniam em frente ao Masp, na Avenida Paulista. O ato teve início oficialmente às 14h40, com um minuto de silêncio em memória de Cleriston, homem que foi preso após participar dos atos de vandalismo e invasão na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro e morreu na Penitenciária da Papuda.
No único trio elétrico da manifestação, foi estendida uma faixa com a frase: “Em defesa do Estado democrático de direito, dos Direitos Humanos e em memória de Cleriston Pereira da Cunha”. Sob gritos de “Fora Xandão” e “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” e com bandeiras do Brasil e de Israel, manifestantes e parlamentares faziam ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente Lula.
O deputado federal Marcel Van Hattem (Novo – RS) criticou os “abusos” da Corte.
— Chega de tanto abuso. Eu estive essa semana junto com colegas e tantos outros brasileiros no velório do nosso querido Clezão. Ele sofreu essa tortura injusta durante meses ele se tornou não apenas o meu amigo, mas um amigo do Brasil. Vocês estão aqui honrando a vida do Clezão — discursou — Há gente que está sendo torturada por uma Corte que se acha acima da Constituição. Nós atuamos sempre dentro da lei e da Constituição. A hora dos ministros do STF vai chegar e está chegando.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) pediu “justiça” e direcionou sua fala aos familiares de Cleriston que estavam no palco.
— Ele não vai ser esquecido, ele vai continuar vivendo no coração de cada um de nós que tem certeza que esse país vai ter justiça.
Disputa municipal
Um dos políticos bolsonaristas presentes no evento foi o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que aproveitou sua fala para atacar o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Salles fez um discurso questionando Nunes como representante de pensamento de direita.
— Não são poucos aqueles que tentam usurpar a legitimidade e a força da direita. Aqui, na nossa cidade de São Paulo, nós temos um que está sentado lá por acaso, só está lá porque o prefeito infelizmente morreu, e quer se fazer passar por direita. Mas nós sabemos que ele não é — disse.
Salles enfrenta uma queda de braço dentro do próprio partido para tentar se candidatar à prefeitura da capital Paulista, já que a direção da legenda quer apoiar o emedebista.
Ataque a Moraes
Sem o clã Bolsonaro no ato, o posto de figuras mais aclamada foi ocupado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que chegou por volta das 15h ao ato. Muitas pessoas pediram para tirar foto com o parlamentar mais votado do país em 2022 enquanto ele tentava chegar ao trio, mas foram contidas por seus seguranças.
Em seu discurso, Nikolas atiçou a multidão contra Moraes.
— Tiraram a liberdade das pessoas injustamente e tiraram a vida de uma pessoa. Poderia ter sido teu pai, teu irmão, um familiar seu, e como você estaria? Qual seria sua reação diante do que está acontecendo? Eu acredito que isso aqui é o começo de algo. Nós somos maioria, mais de 58 milhões de pessoas. Eu não tenho dúvidas que daqui a dez, 20 anos, o que estamos fazendo aqui hoje vai ecoar por toda a eternidade. Se tem alguém aqui nessa Paulista que deseja ver o Alexandre de Moraes fora de sua cadeira, dê um grito — pediu o deputado mineiro, que foi respondido com gritos e palmas fervorosas — Alexandre de Moraes, o Brasil não tem medo de você.
Outros parlamentares presentes foram os deputados federais Paulo Bilynskyj (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o senador Magno Malta (PL-ES) e os deputados estaduais paulistas Major Mecca (PL), Paulo Mansur (PL) e Tomé Abduch (Republicanos).
O pastor protestante Silas Malafaia usou seu espaço no caminhão de som para fazer ataques à imprensa e ao STF, além de defender as pessoas que estavam nos atos de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes.
— O máximo que o ‘ditador de toga’ Alexandre de Moraes tinha que fazer, para quem quebrou, mandar para a primeira instância. Que moral esse cara tem para ser ministro do STF? O presidente (do Supremo), o Barroso, disse ‘nós derrotamos o bolsonarismo’. Esses caras não têm moral de serem ministros do STF — afirmou. — Se esses caras escaparem do supremo poder, que é o povo, eles não vão escapar da justiça divina, eu declaro em nome de Jesus. Nós não temos um Supremo Tribunal Federal, temos um supremo tribunal político.