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segunda-feira 17 de outubro de 2022 às 19:20h

Seja Lula ou Bolsonaro, Mato Grosso está construindo independência, diz governador do União Brasil

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Reeleito no primeiro turno com 68,45% dos votos válidos, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), 58, afirma em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo, que, independentemente do resultado da rodada final da disputa pela Presidência, o estado caminha para não ser dependente do governo federal.

Líder de desempenho do agronegócio no país, Mato Grosso terá obras como uma ferrovia que liga Rondonópolis e cidades como Nova Mutum e Lucas do Rio Verde à capital, Cuiabá, com o objetivo de melhorar a logística. Assim, escoará commodities como soja e milho até o Porto de Santos e fertilizantes para o norte do estado, além de abastecer o Sudeste com etanol de milho.

Apesar de Bolsonaro ter recebido em Mato Grosso quase 60% dos votos válidos no último dia 2, no Pantanal —incluindo no vizinho Mato Grosso do Sul—, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve mais de 60% de apoio em cidades como Poconé e Nossa Senhora do Livramento. Para Mendes, isso se deve às características locais, não às queimadas recordes de 2020 na região pantaneira.

Qual avaliação o sr. faz da vantagem em relação aos seus adversários [a segunda colocada, Marcia Pinheiro, do PV, obteve 16,41%]? Herdamos um estado quebrado, que não conseguia pagar nem salário, 13º atrasou, estava numa trajetória muito ruim. No início tomamos as medidas corretas, alguns chamaram de duras, mas deram muito resultado. Hoje Mato Grosso está com um grande programa de investimento. Nós já estamos com dois anos consecutivos investindo 15% da receita. Isso já foi percebido e agradou a grande maioria dos cidadãos e talvez por isso que eu tive essa excelente votação.

O sr. é ligado ao presidente Bolsonaro. Como será o novo governo do senhor caso Lula seja eleito? Sigo acreditando que Bolsonaro tem todas as chances de ganhar essa eleição. Mas, independentemente de quem ganhe, nosso estado está construindo uma independência do governo federal. Claro que os repasses constitucionais precisam ser feitos e serão importantes, mas tudo que está acontecendo em Mato Grosso volta para o cidadão. A indústria mato-grossense tem crescido fortemente nos últimos anos na transformação das matérias-primas oriundas do agro, e tudo isso cria uma autonomia para que possamos ter tranquilidade de projetar o nosso futuro com as nossas próprias pernas.

O sr. vai às ruas fazer campanha para Bolsonaro ou atuará de forma mais discreta? Campanha de segundo turno tem características diferentes, porque a mídia e os meios de comunicação ganham uma importância muito grande, já que só tem dois atores no cenário. Então as pessoas observam muito mais o que é dito nos programas eleitorais, nas inserções, nos debates. Vamos aqui fazer a mobilização política, vou chamar apoiadores do presidente, todos que ganharam no campo do presidente, para que a gente possa somar forças e defender o nosso candidato. Democraticamente isso tem que ser respeitado, assim como tem que respeitar os que estão fazendo do outro lado.

No primeiro turno, apesar de Bolsonaro ter vencido em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal foi uma espécie de ilha com vitórias de Lula. Para o sr., isso se deve às queimadas de 2020 ou ao fato de ser uma região em que o agro não tem a mesma força? Não tem muito a ver com a questão ambiental, acredito que tem a ver mais com o perfil socioeconômico da região e da população.

Depois das queimadas recordes de dois anos atrás a situação melhorou no Pantanal, segundo o sistema de monitoramento do estado. Que trabalho está sendo feito para cuidar do bioma? Durante muitos anos não houve queimadas de proporções maiores, então houve um grande acúmulo de material orgânico. Esse material acumulado virou um barril de pólvora. Bastaram alguns pequenos focos de incêndios de maneira indevida em aldeia indígena, por algum pescador, por algum acidente ou até mesmo por alguém que praticou um crime, para tomar proporções de difícil controle em função daquele grande acúmulo de material seco no Pantanal [pesquisadores, no entanto, alegam que fogo e desmate estão ligados porque, após derrubar a mata, o fogo é usado para limpar o material orgânico].

Como queimou muito, houve limpeza desse grande acúmulo, e o governo tomou uma série de providências e de estratégias para evitar. Equipamos mais o Corpo de Bombeiros, os produtores da região fizeram aceiros maiores, que foram autorizados. Autorizamos extinguir um certo tipo de vegetação para que ocupe melhor o Pantanal, com apecuária extensiva.

O crescimento do agro no estado motivou o surgimento de uma ferrovia estadual. A logística é o principal gargalo no estado, dadas suas dimensões [atrás somente de Amazonas e Pará]? Mato Grosso se transformou no maior produtor brasileiro de commodities agrícolas enfrentando enormes dificuldades logísticas. Mesmo com estradas ruins, precárias, passando em cima de balsa para atravessar rios, o progresso aconteceu nesse setor e nos tornamos uma economia agrícola extremamente competitiva.

De alguns anos para cá, a logística tem melhorado, ferrovia chegou à região sul do estado, algumas estradas estão melhorando, o governo termina esse ciclo asfaltando 2.500 quilômetros, recorde absoluto em Mato Grosso e acredito que talvez até no Brasil. A melhoria dessa logística vai permitir mais competitividade para o agronegócio. Imagine o que seremos quando essa logística continuar melhorando, como tem acontecido nos últimos anos. Ninguém vai segurar o agro mato-grossense nem o estado de Mato Grosso. A logística é, de longe, o principal problema. A ferrovia estadual que autorizamos terá 100% do seu investimento feito pela iniciativa privada, o estado criou as permissões legais para que o empreendedor [Rumo Logística] pudesse fazer mais 700 km de ferrovia dentro de Mato Grosso.

Além da ferrovia, as hidrovias são uma alternativa de transporte, mas sempre com questionamentos ambientais. Como conciliar o desenvolvimento econômico com o ambiente? Temos que saber separar ambientalistas de ambientalistas, pessoas que estão a favor do ambiente e pessoas que usam o ambiente e querem prejudicar o Brasil. Nós temos nesse meio de transporte uma possibilidade de melhorar ainda mais essa logística navegando pelo rio Paraguai, ganhando os portos ali na Argentina e a partir daí chegar aos grandes mercados para os quais exportamos. O mundo inteiro, onde tem essas oportunidades, usa os rios. Navegar por um rio não provoca nenhum tipo de dano ambiental, é impossível comprovar isso [esse tipo de transporte é menos poluente, por ter baixa emissão de carbono, mas é alvo de questionamentos por envolver obras como retirada de pedras de rios e até mesmo construção de eclusas].

Quando as pessoas falam que estão defendendo o ambiente, elas querem que você deixe de usar um meio de transporte altamente eficiente, com baixa emissão de carbono, para jogar toda essa carga em cima de caminhões e fazer a queima de bilhões de toneladas de carbono com consumo do diesel, de origem fóssil.

Depois de um imbróglio que se arrasta desde antes da Copa do Mundo de 2014, o estado optou por transformar o VLT de Cuiabá num BRT. Essa questão está definitivamente resolvida? Está 100% resolvida, o contrato com a empresa que venceu a licitação já foi assinado, a ordem de serviço já foi emitida e a empresa está trabalhando normalmente, com medições já sendo feitas.

Manter o VLT como previsto inicialmente era inviável? Não é uma opinião minha, é um relatório de mais de mil páginas feito por técnicos do governo. Quando vi os argumentos, não tive a menor dúvida de que a decisão tomada lá atrás foi motivada por argumentos não republicanos, o próprio governador da época confessou que recebeu propina deste consórcio e trocou uma obra que deveria ter custado R$ 600 milhões por uma de R$ 1,5 bilhão. Corrigimos um erro histórico, e as obras estão em curso.


RAIO-X | MAURO MENDES FERREIRA, 58

Atual governador de Mato Grosso, foi reeleito com 68,45% dos votos válidos no primeiro turno. Natural de Anápolis (GO), é formado em engenharia elétrica na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Foi presidente da Fiemt (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso) e prefeito de Cuiabá (2013-16).

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