Segundo a coluna de Malu Gaspar, do jornal O Globo, desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, o site oficial do Palácio do Planalto já passou a chamar o impeachment de Dilma Rousseff (PT) de golpe e o próprio Lula se referiu a Michel Temer (MDB) como golpista, em uma reunião com presidentes da América do Sul no Uruguai. Temer retrucou chamando Lula de bandido e ameaçando “falar umas verdades” ao petista.
Por enquanto, porém, o conflito de Lula com o impeachment parece estar restrito apenas a Temer e ao âmbito retórico. Além de seu governo ter sete ministros que apoiaram o impeachment — incluindo o vice-presidente, Geraldo Alckmin –, ainda agregou na semana passada um dos dos participantes mais ativos do esforço de Eduardo Cunha para afastar Dilma Rousseff: Carlos Henrique Menezes Sobral, que se tornou secretário de Sustentabilidade Desenvolvimento Territorial e Infraestrutura do ministério do Turismo sob Daniela Carneiro, mais conhecida como Daniela do Waguinho.
Sobral, conhecido em Brasília como Carlão, foi um dos “planilheiros do impeachment”, um dos assessores da presidência da Câmara que computou os votos carreados por Eduardo Cunha e Eliseu Padilha pela saída de Dilma do poder.
Segundo outros assessores que acompanharam os bastidores do impeachment, Carlão chegou a apostar qual seria o placar da votação com outros membros da tropa de choque de Eduardo Cunha. Não se sabe se ele acertou. Dilma foi afastada com 367 votos favoráveis e 137 contra.
Quando Temer virou presidente, Sobral foi para o Planalto ser chefe de gabinete de Eliseu Padilha na Secretaria de Governo, lidando com as demandas dos parlamentares. Sob Bolsonaro, foi assessor de Marcelo Queiroga no ministério da Saúde e depois trabalhou com Flávia Arruda na secretaria de governo, de novo.
No governo Lula, sua nomeação é tratada como indicação do MDB, na cota do ex-ministro de Lula e deputado baiano Geddel Vieira Lima, preso e condenado no caso em que a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões de reais em malas num apartamento ligado a ele em Salvador.
Depois de cumprir pena no presídio da Papuda, em Brasília, Geddel teve a condenação por associação criminosa anulada pelo Supremo Tribunal Federal e passou para a liberdade condicional. Geddel continua condenado por lavagem de dinheiro. Ele apoiou Lula na eleição de outubro e indicou aliados também para o governo da Bahia, hoje ocupado pelo petista Jerônimo Rodrigues.
Apesar do discurso de Lula, pelo jeito a indicação de Geddel tem mais peso para o governo Lula do que a participação de Sobral no impeachment.
Em nota sobre a nomeação, o Ministério do Turismo disse que Carlos Henrique Menezes Sobral “possui capacidade técnica para ocupar o cargo tendo, inclusive, já atuado na Pasta”. O ministério afirmou também que “o secretário deve desempenhar um importante papel no desenvolvimento de projetos em razão de sua atuação junto ao Congresso Nacional”.