Uma seca severa deve levar os agricultores dos Estados Unidos a colherem sua pior safra nos últimos 60 anos. A expectativa é de que cerca de um terço do trigo de inverno cultivado em todo o país seja abandonado porque não é economicamente vantajoso colhê-lo este ano. É a maior taxa de abandono desde 1917, superando a taxa de trigo abandonada durante o Dust Bowl dos anos 1930, a tempestade de areia que atingiu os EUA e teve duração de quase 10 anos. O país está entre os cinco maiores exportadores globais do cereal.
Mais da metade do trigo duro vermelho de inverno no Kansas, maior produtor de trigo de inverno dos EUA, está em condições ruins ou muito ruins, de acordo com o Departamento de Agricultura do país (USDA). Estima-se que o Estado produzirá uma média de 29 bushels por acre (0,79 toneladas por hectare) colhido, significativamente abaixo dos 52 bushels por acre (1,42 toneladas por hectare) que produziu em 2021. Perto de 93% das localidades no Estado em que o trigo de inverno é cultivado estavam em algum estágio de seca no início de junho, com quase metade do Kansas em uma seca extrema ou “excepcional”, segundo as classificações do Monitor de Seca dos EUA.
Há trigo de inverno suficiente para o consumo doméstico, mas as condições voláteis do mercado mundial motivaram moinhos dos EUA a começar a importar trigo para farinha, de forma que o impacto para os agricultores do país é grande. Estados das Grandes Planícies, como Oklahoma e Texas, ainda devem abandonar maiores áreas do que o Kansas.
O baixo rendimento norte-americano é somado a um contexto global que inclui a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, um volume excedente de trigo russo e do Leste Europeu, altas tarifas ferroviárias para a chegada aos portos e o dólar fortalecido, que torna as commodities cotadas na divisa dos EUA menos competitivas. Diante desse cenário, crescem os temores de que os moinhos tomem a medida incomum de importar trigo europeu para farinha, como já tem sido feito.