Fenômenos climáticos extremos, como a seca no Sul e o excesso de chuvas no Sudeste, e seus impactos sobre os preços da comida podem ser mais um fator de risco para inflação deste ano, alerta o coordenador de índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), André Braz. “À medida que esse fenômeno persistir, o saldo pode ser de preços mais altos para alguns alimentos básicos e isso pode gerar um problema maior para conter o avanço da inflação.”
Para 2022, o economista projeta uma inflação de 5%, sem considerar o risco de uma alta adicional da alimentação por conta do clima. Se a projeção se confirmar, a inflação de 2022 medida pelo IPCA será a metade da registrada no ano passado, de 10,06%, o maior resultado anual desde 2015. Braz frisa que, apesar da desaceleração esperada para este ano, o brasileiro não deve sentir um alívio, já que a alta acumulada nos preços em dois anos será de 15%. “Vamos viver um período de inflação persistente, acima da meta, com juro alto, que vai continuar causando mal estar às famílias.” A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o sr. avalia o resultado da inflação de 2021, que atingiu 10,06%?
Era um resultado esperado por causa das pressões muito concentradas em energia e combustíveis. Praticamente a metade da inflação do ano passado foi influenciada por esses dois preços, que contaminam outros setores, como a indústria e os serviços, por exemplo. Esse espalhamento se materializou. Vimos uma recuperação grande da inflação de serviços e de bens duráveis.
A fatia dos preços que subiram de novembro para dezembro aumentou mais de dez pontos porcentuais, de 63,13% para 74,8%. É um descontrole?
Essa é a prova do espalhamento, mas não é descontrole, porque a taxa em 12 meses até recuou em relação a novembro.