Poucos meses depois de Jair Bolsonaro (PL) se eleger presidente em 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi para os Estados Unidos costurar uma aproximação com a direita americana. Conseguiu a bênção do então presidente norte-americano Donald Trump. O vídeo deste momento está fixado no topo de seu Instagram e funcionou como passaporte diplomático conservador. A gravação ajudou o deputado a ser recebido por líderes da extrema direita mundo afora.
Em entrevista exclusiva ao UOL, Eduardo Bolsonaro conta a história de como conectou o bolsonarismo à direita internacional. Ele também fala que a pauta identitária é a razão de a direita crescer no Ocidente.
Questionado sobre as novas frentes de batalha em território nacional, afirma que se aproxima o momento de combater a agenda verde e as práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança). Na avaliação do deputado, foi este o motivo de os europeus darem mais votos à direita — que ele recusa chamar de “extrema” — na eleição para a nova composição do Parlamento em junho.
Eduardo Bolsonaro ainda diz ter esperança de o pai recuperar os direitos políticos e ser candidato em 2026 e revela um plano para eternizar a direita conservadora, que sua família representa, como força política nacional: criar um instituto e oferecer cursos para formar lideranças. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Qual foi o momento mais importante durante a aproximação da direita conservadora brasileira com movimentos do mesmo campo político de outros países?
Eu considero o encontro com Trump em março de 2019. O Trump me fez um elogio publicamente. É um vídeo que está no topo do meu Instagram. Foi meu primeiro contato pessoal com ele.
O Trump entrou com o meu pai no Salão Oval [gabinete do presidente dos Estados Unidos] e depois eu entrei junto. Aí ele me fez um elogio na coletiva de imprensa no Rose Garden [jardim da Casa Branca].
Como foi a conversa com o Trump?
Teve muita sinergia, porque ele basicamente fazia tudo que meu pai faz: apoio à polícia, redução de taxas de tributos, etc. Então, surgiu uma agenda convergente. Peguei amizade com os assessores dele, com o filho dele, o Don Junior [Donald Trump Junior].
O negócio foi indo.
Eduardo Bolsonaro, sobre a convergência com os Trump
Deu match?
Sim, sim. Amor à primeira vista.
A bênção de Donald Trump facilitou a aproximação com conservadores do resto do mundo?
Depois de se aproximar do entorno do Trump, da família do Trump, você começa a ter notoriedade. O Trump me recebeu, aí eu fui à Hungria e o Viktor Orbán [primeiro-ministro] me recebeu. As portas foram se abrindo.
E eu fui pesquisando quem são os nossos caras em Portugal, na Espanha. Aí na Espanha era o Vox, o Santiago Abascal. Em Portugal foi Partido Chega, do [deputado] André Ventura, que foi criado recentemente e não para de crescer.
E qual a importância da dita pauta de costumes para o crescimento da direita conservadora e cristã no Ocidente?
É importantíssima. O meio aglutinador não é o meramente econômico.
Geralmente, a política sempre pensa muita na geração de emprego, dinheiro no bolso da pessoa. Se for um cara de esquerda, vai pensar em direitos trabalhistas. E não é só isso. A pauta de costumes é importantíssima.
O senhor considera que o avanço da direita na América do Sul, Estados Unidos e Europa é uma reação ao avanço de pautas identitárias?
Com certeza. Inclusive, a melhor definição de direita é não ser de esquerda. Você é contrário à ideologia de gênero, você é contrário aos criminosos, contrário a essa pauta de pseudodireitos humanos e você vai vendo que é de direita. Porque a definição em si não tem.
Existem particularidades de cada continente ou país que fazem a direita crescer num determinado local?
Na Europa, eu vejo que foi uma resposta nem tanto à agenda identitária. É principalmente com relação à agenda verde. Esses protestos de tratoraço na Alemanha, principalmente, e na Holanda, também teve na França, isso daí é que faz o pessoal ir para a direita.
É o que está afetando diretamente o bolso dos caras.
E nos Estados Unidos, qual a mola propulsora da direita?
Eu acho que o principal é essa pauta contra ESG , contra a economia verde. Não está tendo muito nexo, não está soando muito bem essa agenda.
E aqui na América do Sul será agenda verde, pauta dos costumes ou um mix?
Eu acho que é mais um mix. A agenda verde está começando a ter presença aqui. Por agenda verde, entenda-se também ESG. Mas como tudo no Brasil, demora um pouco mais para as coisas chegarem aqui. Veio na reforma tributária um pouquinho, o governo Lula toma atitudes neste sentido.
Meu termômetro é quando vou na rua e faço meus eventos. Mas não vejo o pessoal me pedindo [para atuar] contra essa agenda [verde e ESG]. Aquilo que mais impacta e o que mais tem criado base para a direita é a pauta identitária.
Se for como o senhor projeta, o avanço da agenda verde tornará o agro ainda mais fechado com a direita?
Com certeza. O Lula já ajuda muito. O Lula tem que ter muita liberdade de expressão.
Ele comete muitos erros de comunicação na sua avaliação?
Ele falou que o agro é fascista, ele fala que pegou o Brasil igual à faixa de Gaza, que policial não é gente, que o Maduro tem que construir a narrativa para mudar a história da Venezuela. O Lula ajuda muito.
A gente só precisa de uma coisa: liberdade de expressão. Se tivermos liberdade de expressão naturalmente a gente vai voltar ao poder. Queira Deus com o meu pai. Eu acredito muito na reversão da inelegibilidade dele.
Como será a engenharia jurídica da direita para retomada dos direitos políticos de Jair Bolsonaro?
As cadeiras do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) são rotativas. O Alexandre de Moraes não está mais no TSE.
Com qualquer outro [ministro], será uma composição muito mais balanceada do que foi Benedito Gonçalves – missão dada é missão cumprida. Do que foi Alexandre de Moraes e o pessoal que não deixou meu pai nem fazer live dentro de casa.
Nota da redação: Jair Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030 pelo TSE em duas ações. Ao UOL, ministros da Corte disseram acreditar que a revogação da decisão será muito difícil diante da estratégia adotada pela defesa do ex-presidente em desistir de recorrer no próprio TSE e partir logo para o STF, onde tem minoria.
Qual vai ser o gatilho para disparar essa costura de devolver Jair Bolsonaro à corrida presidencial?
Olha, tem muita água para passar embaixo desta ponte. Você fala ‘Eduardo, é certeza’? Com certeza não é.
Mas uma crise se aprofundando [no Brasil], uma eleição nos Estados Unidos com Trump… Porque a eleição nos Estados Unidos vai afetar o resto da região. Temos aqui [na América do Sul países] que não são de esquerda: Argentina, Uruguai, Paraguai e Equador.
Chile e Colômbia dão todos os sinais de que vão mudar para alguma coisa diferente do atual [esquerda]. O [Gabriel] Boric [presidente do Chile] e o [Gustavo] Petro [presidente da Colômbia] estão com aprovações horríveis.
Se os Estados Unidos, que são o farol da região, mudarem, vai asfaltar o caminho para muita coisa.
O senhor fala da volta da direita ao poder com Jair Bolsonaro. Uma direita conservadora que é majoritária no Congresso e que formou laços com grupos de mesma ideologia em outros países. Como uma corrente que era pouco expressiva cresceu tanto no Brasil?
Teve a grande manifestação de rua em 2013, depois veio o impeachment da Dilma em 2016 e a eleição do meu pai em 2018. Nesse meio tempo, o pessoal perdeu a vergonha de dizer que era de direita. Até então, falar que era de direita era associado ao regime militar, era associado a torturadores e etc.
Com a liderança do meu pai, Olavo de Carvalho no espectro filosófico e os movimentos de rua, isso tudo foi popularizando e a galera falando: ‘Se ser de direita é isso daí, eu também sou de direita’.
O que ser de direita significa?
Defender a família, ser a favor do armamento para legítima defesa, defesa nacional, livre mercado.
Isso tudo foi aflorando e a gente começou a asfaltar esse caminho. A ponto de permitir a realização de um evento do CPAC no Brasil [maior encontro conservador do mundo e que acontece no próximo final de semana em Balneário Camboriú].
E quais passos o senhor planeja para a direita conservadora continuar a crescer no Brasil? Esta integração internacional forneceu algum modelo a ser seguido?
Eu encontrei o Santiago Abascal, do Vox [partido de extrema direita da Espanha], num CPAC em Washington. Eles me convidaram para ir à Espanha, que para mim é o exemplo de organização de um movimento.
Eles têm uma fundação bem sólida, um prédio bem-organizado, conexão com institutos que fazem cursos de verão e cursos de longo prazo. Eles têm uma fábrica de conhecimento com olhar conservador. Para mim, o Vox é o melhor partido do Ocidente.