No Dia da Unidade Alemã, que marca a reunificação da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental em 1990, chanceler federal aponta para a necessidade de mais trabalho para equilibrar disparidades entre regiões. O establishment político da Alemanha se reuniu nesta quinta-feira (3) para comemorar o Dia da Unidade Alemã, a celebração anual da reunificação alemã. As festividades deste ano ocorreram na cidade de Schwerin, capital do estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, no Leste da Alemanha.
No Castelo de Schwerin, que também é a sede do parlamento de Mecklenburgo, políticos alemães destacaram a necessidade de um maior reconhecimento da experiência da Alemanha Oriental 34 anos após a reunificação.
Todo ano, em 3 de outubro, a Alemanha marca a reunificação entre a Alemanha Ocidental e a antiga Alemanha Oriental comunista em 1990, que ocorreu oficialmente pouco menos de um ano após a queda do Muro de Berlim.
O desafio da unificação
Em Schwerin, o chanceler federal Olaf Scholz iniciou seus comentários observando que a “unidade e a liberdade alemãs foram finalmente alcançadas neste dia”.
“Nós, alemães, comemoramos a grande sorte de as coisas terem acontecido dessa forma. E é bom que sempre aproveitemos essa oportunidade para lembrar a nós mesmos e aos outros que tudo poderia ter acontecido de forma muito diferente em uma época muito menos autodeterminada, muito menos pacífica e muito menos feliz”, disse Scholz.
O chanceler alemão afirmou ainda entender que nenhum país no mundo lidou com um desafio como o que a Alemanha enfrentou nas últimas quatro décadas. “O desafio de unir duas sociedades que foram divididas ao longo de quatro décadas e organizadas de maneiras completamente diferentes – econômica, política, cultural e mentalmente”, acrescentou Scholz.
Para o Leste “tudo mudou”
O feriado sempre gera um debate sobre a situação do país após a reunificação, com críticos apontando que o prometido boom econômico no Leste da Alemanha não se concretizou e que disparidades entre as duas regiões persistem até hoje. As disparidades não ocorrem apenas na economia, mas também na política.
Nos últimos anos, por exemplo, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de ultradireita, fincou raízes no Leste alemão e vem obtendo mais apoio na região do que nos estados do Oeste. Pesquisas de opinião também mostram que também há uma maior prevalência de opiniões favoráveis à Rússia entre a população do Leste.
Isso pode ser observado em parte nesta quinta-feira, quando uma “marcha pela paz” em Berlim reuniu milhares de pessoas para protestar contra exportações de armas alemãs para Israel e também para a Ucrânia, que trava uma guerra defensiva contra o regime de Vladimir Putin. A marcha contou com a participação da política populista Sahra Wagenknecht, que iniciou sua carreira política ainda na antiga Alemanha Oriental.
Em Schwerin, vários políticos falaram sobre a necessidade de maior reconhecimento da experiência do Leste alemão e das promessas não cumpridas da reunificação. A governadora de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Manuela Schwesig, falou sobre a desigualdade de experiências.
“Para a maioria das pessoas nos estados da Alemanha Ocidental, pouca coisa mudou como resultado da reunificação alemã”, disse Schwesig. “Mas para nós, na Alemanha Oriental, para nossas famílias, quase tudo mudou.”
Schwesig disse que o Leste “continua diferente: com suas expectativas e experiências, com suas atitudes e perspectivas de vida”. Ela ainda afirmou que as desigualdades ainda assolam a região, com os alemães do leste tendo menos riqueza em comparação com os do Oeste.
A reunificação “não está completa”
Scholz fez eco ao ponto de vista de Schwesig, acrescentando que “para milhões de pessoas, a turbulência nos anos que se seguiram à reunificação significou uma coisa acima de tudo: um colapso”.
Os alemães orientais sofreram “uma desvalorização de seus conhecimentos, suas experiências, o trabalho de suas vidas”, disse ele.
Scholz admitiu que, embora a reunificação do país tenha progredido significativamente desde a queda do Muro de Berlim, o processo está longe de ser perfeito.
“Não estou revelando um segredo aqui: A reunificação alemã, é claro, não foi concluída nesse sentido, mesmo depois de 34 anos”, disse Scholz.
O chanceler alemão pediu que se continuasse a trabalhar para melhorar a vida das pessoas no Leste. “Onde quer que a política possa criar melhores oportunidades de vida e condições de vida iguais. Isso deve acontecer. E é exatamente nisso que estamos trabalhando juntos, em todos os níveis”, disse Scholz.