A Polícia Federal apurou que um Policial Militar de Pernambuco seria o ‘principal fornecedor de armas e munições’ da facção Honda, com ‘significativa expressividade e volume’ e tal comércio ilícito. Os investigadores encontraram diversos diálogos que remetem à venda ilegal de armas por Josenildo de Souza Silva, rastreando uma série de transferências PIX a sua conta.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras indicam que ele movimentou, em um período de 190 entre 2021 e 2023, cerca de R$ 2,1 milhões, ‘totalmente incompatíveis com sues rendimentos de sargento da PM’.
A investigação que fechou o cerco a Josenildo teve início com as informações colhidas em celular apreendido na Operação Astreia, as quais apontaram para ‘intensa atividade de comércio ilegal de armas de fogo, munição e acessórios’.
Os dados eram de Hiago Cruz, que atuava, em nome de Josenildo, na intermediação de compra e venda de armas de fogo – o qual fechou delação premiada. Seus relatos denunciaram a participação do policial militar de Pernambuco apontado como ‘principal fornecedor ilegal e articulador do esquema com uma grande rede de contatos’.
As investigações culminaram na abertura da Operação Fogo Amigo nesta terça, 21, no rastro de uma quadrilha de PMs, CACs e lojistas especializada em vender armas e munições para facções criminosas de Pernambuco, da Bahia e de Alagoas. Agentes foram às ruas para cumprir 20 ordens de prisão preventiva e 33 ordens de busca e apreensão.
Segundo a Polícia Federal, o grupo comercializava inclusive armas de uso restrito como fuzis e espingardas calibre 12 semiautomáticas, as quais são usadas frequentemente em assalto a carros fortes e bancos, além de serem empregadas em ações de ‘Novo Cangaço’.
O inquérito indica que a obtenção das armas se dava por meio de inserção de informação falsa em sistemas de fiscalização. A apuração identificou a venda de munições e acessórios por lojas em Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e Arapiraca (AL). Uma das empresas sob suspeita é registrada em nome da mulher de um bombeiro militar da Bahia. Outra companhia na mira dos investigadores é de um PM aposentado.
Além de Josenildo, foram identificados outros 19 supostos integrantes da quadrilha. A Polícia Federal pediu a prisão preventiva de tais suspeitos, solicitação que foi acolhida pelo juiz Eduardo Ferreira Padilha no último dia 14. O juiz também determinou o bloqueio de valores de até R$ 10 milhões dos investigados, além da suspensão das lojas que comercializavam as armas.
A avaliação do magistrado é a de que ficou evidenciada a ‘periculosidade concreta dos agentes, vez que estão engajados, de forma organizada e contínua, na distribuição de armas e munições ilegais nos Estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas, inclusive com indícios de que tais armamentos tem como destino organizações criminosas.
Os investigados são responsáveis pela negociação e remessa das armas. A PF identificou, por exemplo, o destinatário de 16 encomendas ‘pesadas’ a Josenildo. Tal investigado, Diego de Carmo teria, segundo a corporação, conexão com ‘figuras relacionadas a facções criminosas em Salvador e o armamento recebido por ele seria utilizado como aparato bélico que resulta em altos índices de violência na capital baiana.
Outro PM na mira dos investigadores, que também teria recebido ‘volume’ de Josenildo movimentou, em um ano, R$ 2,7 milhões, ‘apesar de ser policial militar’. Além disso, são investigados proprietários de lojas que teriam comercializado armas e munições de forma ilegal. Segundo as apurações, os objetos eram vendidos com certificados de registro de terceiro, e assim os suspeitos davam ‘baixa’ no sistema quando, na verdade, os armamentos eram comprados pela facção Honda.