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sexta-feira 30 de dezembro de 2022 às 11:34h

São Paulo deverá ter mais de 650 ônibus elétricos nas ruas em 2023

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Após três anos de testes com 18 veículos movidos a bateria que rodam na zona sul -e um 19º que passou a circular na mesma região neste mês-, a cidade de São Paulo deverá trocar 657 ônibus a diesel por modelos elétricos em 2023, a partir de abril.

Segundo a prefeitura, no total as concessionárias que operam no transporte coletivo da capital encomendaram 1.109 ônibus elétricos para serem entregues nos próximos dois anos.

A expectativa é que as encomendas cresçam. O programa de metas da prefeitura 2021-2024 prevê a inclusão de 2.600 ônibus elétricos até o fim da gestão Ricardo Nunes (MDB).

A frota atual do município tem 14 mil veículos, a maioria com motores a combustão, sendo que 201 são trólebus, também movidos a energia elétrica.

Em 17 de outubro, a SPTrans, estatal que administra o transporte público municipal, enviou uma circular às empresas de ônibus proibindo, a partir daquela data, a inclusão de veículos movidos a diesel na frota paulistana.

O veto não inclui miniônibus, já que ainda não há oferta desses veículos com tecnologia de zero emissão no mercado nacional.

Na época, as concessionárias afirmaram que foram pegas de surpresa e que esperavam esclarecimentos a respeito da nova regra por parte da administração municipal.

A prefeitura diz que cumpre a Lei de Mudanças Climáticas e meta de que a frota tenha, no mínimo, 20% de veículos elétricos até o fim de 2024.

Segundo o prefeito, apesar das queixas de empresários, a mudança estava prevista na assinatura de novos contratos do sistema de ônibus na cidade, em setembro de 2019.

“Não houve surpresa alguma”, diz. “Temos de substituir mil ônibus por ano, por causa da idade [quando completam dez anos de uso], e vão entrar os elétricos no lugar”, afirma Nunes, em entrevista à Folha.

A substituição gradual obrigatória da frota fez com que o Ministério Público instaurasse um inquérito civil para investigar os impactos nos cofres municipais com a medida e para pedir transparência.

A reportagem viajou nesta quinta-feira (29), por cerca de uma hora, em um ônibus elétrico entre o terminal Santo Amaro e o ponto final na Vila São José. Por causa do silêncio com a ausência do motor a diesel, é possível perceber o barulho de partes plásticas.

O veículo, que em parte do caminho chegou a ter todos os assentos ocupados e se comportou bem em subidas e descidas, vibra menos que o modelo tradicional. “Pelo silêncio, acho que dá mais qualidade de vida para quem dirige”, diz o motorista Nevilton Ramos, 40.

A balconista Elizeth Souza, 32, que pega o ônibus diariamente para ir trabalhar em uma loja na avenida Senador Teotônio Vilela, não sabia que o veículo em que iria embarcar era diferente dos demais do terminal onde esperava para embarcar. “Se é mais econômico, o preço da passagem deveria ser menor.”

O prefeito não soube dizer se a mudança vai refletir no subsídio já pago pela prefeitura para manter o transporte público.

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (28), o Nunes disse que a prefeitura deverá gastar cerca de R$ 4,8 bilhões com subsídios em 2022, valor que tende a aumentar para 2023, já que tanto ele quando o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) prometem manter a tarifa de ônibus, trens e metrô em R$ 4,40.

Um ônibus a bateria custa até o triplo de um a diesel. De acordo com a própria prefeitura, atualmente, os valores cotados para um veículo elétrico modelo padrão (para 85 passageiros) estão em torno de R$ 2,5 milhões, contra cerca de R$ 800 mil do convencional. Mas o preço pago pode variar de acordo com o tipo de veículo e o fornecedor.

As empresas ainda terão de investir na estrutura, como implantação de pontos de recarga em suas garagens -no momento, a SPTrans não tem planos para instalação de tomadas nos terminais de ônibus. “Mas se surgir algo inovador podemos adaptar”, afirma Nunes.

Questionada sobre os custos e a implantação de eletrificação, a SPUrbanuss, o sindicato das concessionárias, afirma em nota que as empresas estão em processo de aquisição dos veículos e que no momento não têm informações mais precisas.

A Transwolf, que opera os veículos elétricos a bateria em testes, instalou 15 carregadores para os 18 modelos da chinesa BYD, em operação desde novembro de 2019, e outro implantado recentemente para recarregar um ônibus com tecnologia nacional da fabricante Eletra, que há duas semanas começou a transportar passageiros na zona sul.

Os veículos em testes têm autonomia de 250 km com uma carga completa de bateria, o suficiente para seis viagens de 32 km cada na linha 6030-10 (Vila São José-terminal Santo Amaro). A recarga total leva até quatro horas.

Nunes acredita que o custo a mais com a aquisição do ônibus elétrico será compensado pela economia com combustível que será trocado pela eletricidade.

Pelos números da prefeitura, o gasto médio mensal com diesel para um ônibus padrão chega a R$ 25 mil. Já no caso do elétrico, o valor gira em torno de R$ 5 mil.

O custo de manutenção também é menor, segundo Paulo Lima, diretor de novas tecnologias da Transwolf.

“É uma operação ainda experimental, com problemas passivos de acontecerem, mas de forma geral [os elétricos] estão se comportando bem”, afirma.

Em nota, a SPTrans diz que durante os testes, os veículos apresentaram problemas pontuais que foram sanados “com adequação do projeto às condições operacionais do sistema de transporte da capital”. As falhas não foram especificadas.

No mês passado, empresários disseram à Folha que há questões a serem esclarecidas, como a capacidade da indústria de atender os pedidos, com qualidade, confiabilidade (testes em larga escala, com linha de produção estável) e razoabilidade (custo para a implantação).

Metas de saúde A prefeitura aposta que a longo prazo haverá redução de gastos com saúde pública pela redução na emissão de gases com a troca de veículos a combustão por elétricos.

Um relatório da Aliança Zebra (sigla do inglês Zero Emission Bus Rapid-Deployment Accelerator sobre implantação de ônibus com emissão zero de gases) apontou que a eletrificação gradual de 50% da frota paulistana de ônibus até 2028 poderá evitar 151 mortes prematuras em quatro anos, a partir de 2022.

No período, o estudo aponta que haverá redução de 0,6% na concentração de material particulado (PM2), quando se compara com níveis de 2021.

No acumulado até 2032, com eventual eletrificação de toda a frota, o número de mortes evitadas poderá subir para 388 e a redução da concentração de PM2,5 cairá 1,1%, enquanto a redução de 100% de outros gases poluentes é atingida.

Como a frota atual é em sua maioria movida a diesel Euro 5, o documento considerou os fatores de emissão dessa tecnologia nos cálculos de emissões evitadas com a entrada de elétricos.

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