Oito em cada dez profissionais do agronegócio, ou 82% deles, tiveram um aumento salarial acima da inflação em 2024, segundo o Guia Salarial 2025 da Michael Page, consultoria especializada em recrutamento de média e alta gerência. Por outro lado, 18% dos cargos analisados não apresentaram mudanças salariais.
Os três cargos com maiores variações salariais são: diretor industrial, com uma variação de 19% e um salário que oscila, em média, entre R$ 35 mil e R$ 60 mil; gerente de manutenção, que recebe entre R$ 14 mil e R$ 24 mil, também com variação de 19%; e gerente de fazenda, cujo salário varia de R$ 15 mil a R$ 24 mil, com uma variação de 18%.
Para chegar a essa conclusão, o levantamento ouviu cerca de 6,8 mil profissionais e empresas do setor em todo o Brasil para compreender suas percepções sobre o mercado atual. Os entrevistados ocupam cargos que vão desde analista até diretoria. A Michael Page afirma que buscou entender como os profissionais enxergam suas carreiras, a posição do empregador em seu desenvolvimento profissional e outros fatores que compõem a remuneração.
A partir dessa consulta, a organização traçou a remuneração mensal de 2.282 cargos em 12 setores (Agronegócio, Bancos e Serviços Financeiros, Engenharia, Finanças, Logística, Marketing e Digital, Saúde e Ciências, Recursos Humanos, Seguros, Tecnologia, Varejo e Vendas). Os cargos foram listados em faixas salariais mensais que variam de acordo com a experiência do profissional (analistas júnior, pleno, sênior, especialista, coordenador, gerente e diretor) e o porte da empresa (pequeno, médio ou grande).
O aumento salarial no setor agropecuário pode ser explicado, na visão de Stephano Dedini, diretor-executivo da Michael Page, por uma soma de fatores, como a inflação na economia, mas também pelo fato de o agronegócio estar passando por um processo de profissionalização e sofisticação.
“Os últimos anos foram muito bons para o setor, o Brasil se tornou protagonista no segmento, e tudo isso ajudou a alavancar os salários. Em regiões como o Centro-Oeste, um local muito forte no agronegócio, porém mais afastado, temos casos de pleno emprego. Para atrair os talentos, as empresas precisam fazer propostas mais agressivas financeiramente para que os profissionais aceitem sair dos centros urbanos, por exemplo. Todos esses aspectos ajudam no crescimento salarial”, pontua.
Um dos grandes gargalos, assim como nos setores de Tecnologia da Informação (TI) e Transporte e Logística, tem sido a escassez de profissionais qualificados, especialmente aqueles com domínio das novas tecnologias e compreensão da parte técnica.
“É fundamental ter um misto entre tradição e inovação. Os profissionais precisam conhecer o setor e ter o conhecimento histórico, mas também é necessário transitar e entender as novas tecnologias. Não temos tantos perfis com essas habilidades disponíveis no mercado de trabalho, o que colabora para essa escassez”, destaca Dedini.
Ainda conforme o diretor-executivo da Michael Page, profissionais em início de carreira também estão sendo impactados com o aumento salarial, principalmente os que estão em outros setores, como tecnologia, e que querem migrar para o agronegócio. “Ainda não observamos um movimento tão forte quanto o de média e alta gerência, mas já há um impacto”, lembra.
Lucas Ferreira, de 29 anos, não ocupa um dos três cargos com maior crescimento salarial, mas é um exemplo de como o agronegócio se tornou um setor cada vez mais interdisciplinar e atrativo para os jovens, especialmente para aqueles que buscam oportunidades fora das grandes metrópoles, onde têm surgido boas vagas de emprego e salários competitivos. Natural de Caetité, no sudoeste baiano, ele estudou Geografia na Universidade de São Paulo (USP) e, há dois anos, mudou-se para Barreiras, na região oeste, para atuar na área de Agricultura de Precisão.
“Meu trabalho como geógrafo na Agricultura de Precisão é ajudar produtores a usarem melhor a terra e os recursos naturais. No dia a dia, analiso mapas, imagens de satélite e dados de drones para entender como está o solo, a umidade e a produtividade das plantações. Com essas informações, conseguimos indicar onde é preciso corrigir o solo, melhorar a irrigação ou até evitar desperdício de fertilizantes”, explica.
“O futuro da agricultura está na tecnologia e na sustentabilidade, e os jovens são essenciais para isso. Eles não precisam nascer no campo para fazer a diferença no setor – basta terem vontade de aprender e aplicar o que sabem. Vejo um agro cada vez mais moderno e inteligente, e fico animado em fazer parte dessa transformação”, completa Lucas.