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sexta-feira 6 de janeiro de 2023 às 18:00h

Salários e inflação disparam nos EUA, uma equação incerta

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Entregadores, garçons e vendedores viram seus salários disparar nos Estados Unidos nos últimos dois anos, graças a uma significativa escassez de mão de obra, mas há sinais tímidos de moderação, uma condição indispensável para que a forte inflação reinante desapareça.

Em dezembro, o salário médio por hora registrou o menor crescimento desde agosto de 2021: 4,6% com relação a dezembro de 2021, enquanto em novembro esse aumento foi de 4,8%, segundo dados do Departamento de Trabalho americano publicados nesta sexta-feira (6).

Estes números mostram que o crescimento dos salários está “moderando-se”, concluiu Ian Shepherdson, economista da Pantheon Macroeconomics, em uma nota de análise.

Isso é “essencial para que a inflação se mantenha fraca” assim que o aumento de preços começar a arrefecer, acrescentou.

O pico de aumento dos salários ocorreu em março, com um incremento de 5,6% em estimativa anual.

Na medição mês a mês, o aumento foi de 0,3% em dezembro, enquanto em novembro foi de 0,4%.

“Observamos uma redução da pressão sobre os salários”, indicou, nesta quinta-feira, em uma conferência telefônica, Nela Richardson, economista-chefe da ADP, uma firma que gerencia o pagamento de salários e publica uma pesquisa mensal sobre emprego privado.

É um dado “positivo, já que, para que a inflação se modere, os salários devem crescer num ritmo saudável”, destacou.

Os dados sobre salários são uma notícia não tão boa para os trabalhadores, já que “os salários, inclusive a níveis elevados, não acompanham [em magnitude] uma inflação muito forte”, destacou Richardson.

As duas curvas, contudo, se aproximam. A inflação em novembro marcou 7,1% em 12 meses, em comparação com 7,7% em outubro, segundo o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

No entanto, disparada dos salários continua sendo “um risco para a inflação, em particular [no setor de] serviços ao consumidor”, acrescentou a economista.

Escassez de mão de obra

A situação continua sob tensão.

“As empresas continuam obrigadas a aumentar salários para reter os trabalhadores e têm dificuldades para cobrir os postos vacantes”, explicou à AFP Julia Pollak, economista-chefe do site de anúncios de empregos ZipRecruiter.

“Portanto, a pressão para cima nos salários continuará num futuro próximo”, antecipou.

Além disso, a escassez de mão de obra poderia se prolongar.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, mencionou em dezembro uma escassez “estrutural” de 4 milhões de pessoas que “fazem falta” no mercado.

Este número se explica pelas saídas por aposentadoria desde o início da pandemia, pelo milhão e meio de mortos pelo coronavírus, e pela imigração insuficiente devido à política restritiva do governo do ex-presidente republicano Donald Trump (2017-2021), ao que se somou o fechamento de fronteiras por um ano e meio por causa da covid-19.

Há dois anos, não há pessoal de serviço, motoristas e professores suficientes. As empresas e instituições propõem melhores planos de saúde, horários flexíveis ou reduzidos, a possibilidade de teletrabalho e, obviamente, mais dinheiro.

Os empregadores aumentam salários, e esse fenômeno repercute depois nos preços dos produtos por causa de uma demanda maior, que pressiona a inflação.

 Aumentos de dois dígitos

Em abril de 2020, quando os Estados Unidos atravessavam um período de confinamento, os salários subiram 8% com relação a abril de 2019, segundo o Departamento de Trabalho.

Os funcionários do comércio varejista e da saúde, que estavam na linha de frente durante um momento de alto risco sanitário, tiveram os primeiros aumentos importantes.

Em seguida vieram os salários dos setores de hotelaria, transporte e logística, onde “os vencimentos são relativamente baixos”. Os trabalhadores sem cargos executivos tiveram aumentos de salários de dois dígitos durante certo tempo, detalhou Julia Pollak.

Ao mesmo tempo, muitos trabalhadores se veem seduzidos pela possibilidade de teletrabalho, “por exemplo, em empregos de assistência ao cliente, que antes eram exercidos em espaços bastante pequenos, em ‘call centers’ barulhentos” e não eram atrativos, mas agora podem ser feitos do conforto de sua própria casa.

O parâmetro de emprego é importante para o Fed, que, ao aumentar as taxas de juros, tenta esfriar a economia reduzindo a disponibilidade de crédito e, portanto, a pressão do consumo e do investimento sobre os preços, o que, por outro lado, traz o risco de aumento do desemprego, um efeito que, até agora, não ocorreu nos Estados Unidos.

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