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sexta-feira 28 de agosto de 2020 às 07:17h

Saiba quem é Cláudio Castro, que assume o governo do Rio de Janeiro

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Cerca de três meses depois de assumir o cargo, em janeiro de 2019, o governador agora afastado Wilson Witzel chamou o vice, Cláudio Castro, para um almoço no Laranjeiras. À mesa, a revelação e a pergunta: “Serei candidato a presidente em 2022, você está preparado?”. A resposta segundo o jornal O Globo veio, conforme assessores próximos, com uma movimentação estratégica do vice, que assume o cargo interinamente nesta sexta-feira. Em vez de se restringir ao Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e ao Detran, sob seu guarda-chuva, começou desde então a ter uma participação e uma visão mais amplas da gestão. Foi o interlocutor de deputados e prefeitos, visto que Witzel dispensava o tête-à-tête. Sete meses depois, em entrevista à Época, o governador anunciava seu rompimento com o presidente Jair Bolsonaro, já escancarando uma suposta concorrência com ele nas eleições presidenciais.

Cláudio Castro, 41 anos, foi vice do azarão Wilson Witzel sem rezar a mesma cartilha do governador. Jamais imaginava que seria eleito, tanto que seu discurso de volta à Câmara dos Vereadores já estava pronto na antevéspera do resultado das eleições. No PSC, cumpria seu segundo ano de mandato quando foi convidado a concorrer na chapa de Witzel. Com o afastamento, duas mudanças indicam essa diferença: vai sair do PSC, deve migrar para o DEM (mesmo tendo convites de outros partidos) e já deixou claro que não seguirá a política de segurança do governador. Não é bélico, e tem uma inclinação para atuações na área social. Hoje sua agenda seria a inauguração de um projeto na Fundação Leão XIII, com Witzel.

O catolicismo, que exerce intensamente como pároco da Igreja Santa Rosa de Lima, na Barra, onde cantou no último domingo. Cantor gospel, tem funções especificas na Igreja, como participar da liturgia e dos cânticos nas missas. Foi por meio da religião que chegou à política. Tudo começou no Encontro de Jovens com Cristo. Com o padre Zeca, participou, em 1998, do movimento Deus é Dez. Ali se tornou amigo de Márcio Pacheco, também católico, de quem se tornou, mais tarde, assessor, no Detran, na Câmara dos Vereadores e na Assembleia Legislativa.

Tentou ser vereador em 2012, teve oito mil votos. Em 2016, com 10 mil votos, foi eleito. Foi Claudio Castro que levou o famoso Padre Omar, da paróquia São José da Lagoa, ao catolicismo: os dois estudaram juntos na adolescência e começaram juntos a frequentar o encontro de jovens com Cristo. Guarda as imagens do encontro que teve com o Papa Francisco, em Roma, no ano passado, e também um terço que mantém no bolso permanentemente. Nascido em Santos (SP), veio para o Rio com 1 ano de idade e perdeu a mãe aos três. Casado, tem dois filhos.

A habilidade que prefeitos e deputados garantem que tem para a conversa começou de um modo literalmente paroquial. Nos seus dois anos de mandato como vereador, recebia padres e autoridades religiosas em seu gabinete. A preocupação de parlamentares é que amplie seu rol de preocupações e se concentre nas questões financeiras do estado.

– Ele não se mostra muito, não entra em polêmicas, não é de ir para o front. Quando soube que se candidataria a vice, achei que seria maluquice – lembra a vereadora Rosa Fernandes (PSC), colega de mandato de Cláudio Castro por dois anos.

– Em favor dele, tem o fato de que é do ramo. O tratamento com deputados e prefeitos melhora muito. E também deve olhar com mais atenção para o Plano de Recuperação Fiscal – diz o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), ao lembrar do rompimento de Witzel com Bolsonaro.

Prefeitos confirmam a boa relação. O de Barra Mansa, Rodrigo Drable, diz ter relação antiga de amizade com Cláudio Castro. A definição dele e de outros prefeitos, de partidos distintos, é de um vice com temperamento oposto ao do governador afastado – que com orgulho se apresentava como um defensor do confronto.

– É um pacificador. Ouve mais do que fala e tenta construir um caminho suave – diz o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable (DEM).

– É um grande conciliador e tem experiência na vida pública – confirma o prefeito de Teresópolis, Vinícius Claussen (PSC).

Nos últimos tempos esquentou o café do vice-governador, no jargão da política. O que significa que passou a ser mais procurado por parlamentares. Criou-se, no Palácio Guanabara, a chamada “antessala do vice”, onde o beija-mão era traduzido na aglomeração de políticos com pedidos e cientes da expectativa de poder. Witzel poderia tanto ser afastado pelo STJ, como ocorreu hoje, quanto sofrer impeachment pela Assembleia Legislativa, depois de envolvimento em escândalo de corrupção na Saúde.

– Ele não é pessoa de arroubos emocionais. É racional. O fato é que não foi um vice decorativo, e tem duas características essenciais para a política: é confiável e cumpre o que combina – afirma o deputado estadual Jorge Felipe Neto (PSD).

A expectativa de poder agregou novos aliados. Mas dentro do Palácio há ressentimentos. O grupo ligado a Witzel considera que o governador foi traído pelo vice, quando assumiu as funções de interlocutor com a Assembleia Legislativa, em busca de uma maioria contra o impeachment. Em pouco tempo, foi substituído na função pelo Secretário da Casa Civil, André Moura. E acompanhou de casa o desenrolar de seu destino e do governador.

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