Um estudo feito na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e divulgado pelo Jama Surgery, em março deste ano, reforça que pacientes utilizadores de medicamentos que contenham a semaglutida, presente no Ozempic e Wengovy, precisam tomar cuidados com jejum antes de passarem por procedimentos médicos que necessite de anestesia ou sedação.
Apesar de serem originalmente utilizados no tratamento de diabetes, os medicamentos tomaram popularidade por resultar em perda de peso. Entretanto, o uso dos remédios deixa o esvaziamento do estômago mais lento, o que aumenta o risco de culminar em aspiração pulmonar no caso de um paciente ser sedado ou anestesiado.
Durante um procedimento cirúrgico em que há a aplicação de anestesia ou sedação, o paciente perde os reflexos de defesa, o que gera o risco de regurgitar o que está em seu estômago e aspirar tal conteúdo, causando danos pulmonares severos. É para evitar isso que deve haver um jejum pré-cirúrgico que geralmente é de oito horas para dieta geral e de duas para líquidos como água e chá.
Nos 124 pacientes observados pela pesquisa da Universidade do Texas, mais da metade dos que consumiam Ozempic ou Wengovy apresentaram resíduos no estômago mesmo após jejum.
Os medicamentos que contém a semaglutida, liraglutida e dulaglutida, emulam os efeitos do GLP-1, um hormônio produzido pelo intestino que é liberado caso o corpo detecte a presença de glicose. Tal substância é responsável por alertar o cérebro de que a pessoa está alimentada, reduzindo o apetite e a velocidade do esvaziamento do estômago.
As drogas como Ozempic e Wengovy agem diretamente no sistema digestório, reduzindo a velocidade dos órgãos e estimulando a liberação de insulina no pâncreas, além de diminuir a liberação do glucagon, controlando a hiperglicemia.
O médico anestesiologista do Hospital Albert Einstein, Wilson Nogueira Soares Junior, afirmou que o impacto dos medicamentos no esvaziamento do estômago não foi tão valorizado inicialmente. “Após episódios em que foram detectados resíduos mesmo muito tempo após a última dose, as sociedades vêm mudando as recomendações”, declarou o médico.
Recomendações médicas
A partir do ano passado, a Sociedade Brasileira de Anestesiologia e a de Diabetes recomendam uma pausa no uso do Ozempic e do Wengovy antes de um procedimento cirúrgico que envolva sedação ou anestesia. A instrução vale até mesmo para endoscopia.
Dessa forma, especialistas reiteram que pacientes que utilizam a liraglutida devem parar de usar tais medicamentos até dois dias antes de um procedimento cirúrgico. O consumo de drogas que possuam a dulaglutida, tirzepatida e a lixisenatida necessita de 15 dias de interrupção. A semaglutida, contida no Ozempic e Wengovy, precisa ser evitada 21 dias antes. Tais instruções não se aplicam a cirurgias obstétricas ou de emergência.
Procedimentos de emergência não necessitam do cumprimento das recomendações devido ao uso de técnicas que minimizam os riscos de regurgitação e aspiração.
Conforme o anestesiologista do Einstein, os profissionais que prescrevem os medicamentos que contém semiglutida não vêm orientando as pessoas em relação ao jejum pré-cirúrgico, aumentando riscos de saúde e gerando atrasos ou suspensões de procedimentos. Portanto, é crucial que a equipe médica seja alertada do consumo de drogas como Ozempic e Wengovy pelo paciente antes de cirurgias.
Em caso de descumprimento das recomendações de interrupção no consumo de tais medicamentos, se torna necessária a realização de um ultrassom que irá averiguar o volume dos resíduos no estômago. A partir desta observação, os médicos podem optar por suspender ou permitir o procedimento cirúrgico.