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Erik Navarro e Samer Agi — Foto: Reprodução
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segunda-feira 16 de outubro de 2023 às 07:06h

Sai a toga, entram os likes: juízes trocam a carreira nos tribunais pela de influenciador

JUSTIÇA, NOTÍCIAS


Primeiro da família a concluir o Ensino Superior, Erik Navarro optou pelos concursos públicos em busca de estabilidade e um bom salário. Dezenove anos e cem mil seguidores no Instagram depois, a busca por remuneração persiste, mas a flexibilidade se tornou mais atrativa — e o juiz federal trocou os despachos pelos likes e a “fama” que os cursos on-line proporcionaram, registra Paolla Serra, do O Globo.

Não é um movimento incomum. Nos últimos anos, juízes deixaram a toga para aproveitar o prestígio de ter passado pela magistratura, ensinando o caminho das pedras a estudantes e advogados, com “fórmulas inovadoras”, conselhos e toques de autoajuda nas redes sociais. O espaço virtual pode ser tão tentador quanto perigoso para representantes da categoria.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), desde agosto de 2022, foram abertos seis procedimentos contra magistrados para apurar supostas violações a regras sobre a função do magistério desempenhada nas redes sociais. Alguns deles teriam descumprido uma resolução do órgão que veda o oferecimento de serviços de coach ou mentorias. Em quatro desses casos, incluindo o de Navarro, os juízes pediram exoneração ao tomarem conhecimento das investigações e preferiram seguir o novo caminho.

— Agora quero me realizar no magistério, mesclando o direito processual com a neurociência — resume Erik, que já conciliava a carreira nos tribunais com a de professor, dando aula em cursos preparatórios.

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Na internet, o ex-juiz do Tribunal Regional Federal da 2ª Região — função na qual diz que ganhava cerca de R$ 30 mil mensais — promete lucro de R$ 24 mil por mês a partir de aulas ao vivo sobre “teses vencedoras e escaláveis”. Também sinaliza com o “passo a passo de um modelo de um negócio sofisticado, simples e altamente rentável”.

Ex-juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), Samer Agi dava aulas enquanto atuava nos tribunais. Na pandemia, extrapolou temas jurídicos e passou a oferecer ensinamentos nas redes sobre escrita criativa e fez lives indicando títulos de literatura clássica. Há um ano, decidiu pedir exoneração para se dedicar integralmente ao novo ofício.

— Refleti que haveria um duplo prejuízo em largar o cargo público, de segurança financeira e de posição social de prestígio e poder, mas tentei me visitar 30 anos mais velho para me aconselhar e concluí que seria mais feliz tomando a decisão que tomei — diz Agi.

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Quem tem utilizado as plataformas para tirar dúvidas, dar conselhos e postar reflexões sobre família e fé é o juiz federal Marcelo Bretas. Afastado do cargo há oito meses pelo CNJ por supostas irregularidades na condução de processos da Lava-Jato no Rio, ele acumula mais de 94 mil seguidores no Instagram.

“Tenha uma rotina equilibrada: cuide da sua saúde física e mental. Tirar um tempo para relaxar e se rejuvenescer é fundamental para manter o foco e o bom desempenho nos estudos”, orientou Bretas.

Mudança de perfil

O ministro Luis Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, pontuou ao jornal O Globo, que, normalmente, as condutas infracionais objetos de apuração do CNJ são as que extrapolam a ética da profissão. São casos em que são transmitidos, por plataformas on-line e perfis no Facebook e no Instagram, “meios e técnicas para advogados obterem vantagens processuais, circunstância que pode transbordar o campo ético exigido do magistrado”.

Presidente da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), Frederico Mendes Junior reconhece a queda na magistratura, vista no desinteresse dos candidatos nos últimos concursos e na perda dos profissionais. Nesse segundo quesito, embora não haja dados específicos sobre os destinos, houve diminuição de 115 juízes dos quadros desde 2018.

— O jovem agora elenca o sonho de ser juiz depois do de ser defensor, advogado público, procurador, auditor. Além disso, foram sendo perdidos direitos previdenciários que deixaram de manter os salários atraentes — diz Mendes Junior.— Somado a esses fatores, nessa carreira, há uma maior cobrança social, da imprensa e até das próprias corregedorias, sem falar nos níveis de estresse.

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