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Armazém de soja - Foto: Reuters
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terça-feira 17 de janeiro de 2023 às 15:25h

Safra de verão do Brasil será maior que capacidade de armazéns pela 1ª vez em 20 anos

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O Brasil vai colher mais grãos na safra de verão 2022/23 do que sua capacidade total de armazenagem, com um salto na produção de soja levando o país a registrar uma situação que não acontecia desde 2003, o que acende alerta para o histórico déficit de silos e possíveis impactos mais acentuados quando chegar a colheita de inverno, especialmente a de milho.

A projeção, baseada em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) obtidos pela Reuters, mostra que o Brasil vai colher 189,5 milhões de toneladas apenas dos principais produtos na primeira safra (soja, milho e arroz), enquanto tem capacidade total de armazenagem de 187,9 milhões de toneladas, o que aperta gargalos logísticos e de infraestrutura.

Na segunda safra, só de milho, são estimadas mais 96,3 milhões de toneladas, elevando o déficit de armazenagem e potencialmente causando maior lentidão na retirada de grãos das lavouras e no escoamento, porque esses produtos geralmente passam por processos de secagem e limpeza nos armazéns.

“É possível que no pico da colheita da soja, na segunda quinzena de fevereiro, março, que tenhamos a velha dificuldade de não encontrar armazéns, talvez seja um pouco pior este ano”, disse o superintendente de Armazenagem da Conab, Stelito dos Reis Neto, à Reuters.

“Mas a preocupação que vejo agora não é com a primeira safra, porque já estamos com esses números apertados já há muito tempo. A preocupação é a segunda safra, vai ter mais produto esperando no campo para entrar no armazém…”, acrescentou ele.

O principal motivo para a colheita de verão superar a capacidade dos armazéns, algo que não acontecia desde 2003, quando o Brasil colheu quase 97 milhões de toneladas de soja, milho (primeira safra) e arroz (ante capacidade estática na época de 93 milhões de toneladas) se deve ao salto esperado de mais de 20% na produção de soja em 2022/23, que cresce no país a taxas muito mais rápidas dos que os investimentos em silos, que não são baratos e exigem do produtor fôlego financeiro para um retorno do capital investido.

Capacidade de armazenagem, por outro lado, significa que o produtor pode guardar produtos como soja e milho para comercializar nos melhores momentos de preços, evitando a pressão sazonal das colheitas no mercado.

As grande safras também apertam mais a armazenagem brasileira em momento em que o novo governo sinaliza com uma mudança na política agrícola, que pode culminar com uma retomada de compras de produtos para a formação de estoques públicos –os armazéns da Conab, contudo, respondem por cerca de 1% da capacidade do país, um desafio a ser enfrentado, além do próprio déficit de silo no setor privado.

Na última temporada, o Brasil só não viveu situação parecida com a projetada para 2022/23 por conta da quebra da safra de soja pela seca no Sul, com o país deixando de colher cerca de 20 milhões toneladas da oleaginosa. A nação colheu pouco mais de 161 milhões de toneladas (de soja, milho primeira safra e arroz) no ciclo anterior (2021/22), enquanto a capacidade era de 187,69 milhões de toneladas.

As perdas na safra de soja acabaram amenizando os problemas de infraestrutura, mas ainda se viu produtor armazenando a colheita de milho de inverno a céu aberto em Mato Grosso, sintoma do déficit de silos e da safra recorde do país lembrado por Reis Neto.

A situação nacional difere de outros grande produtores agrícolas. Os Estados Unidos, concorrente do Brasil na exportação de milho e soja, são capazes de armazenar mais do que uma safra completa, disse o superintendente da Conab.

Para Paulo Polezi, CFO da Kepler Weber, líder em equipamentos agrícolas pós-colheita na América Latina, a situação reforça “sobremaneira” a importância de ampliar a capacidade de armazenagem no país. Sem isso, agricultores perdem uma “grande oportunidade de ampliar ganhos com a produção”.

“Além disso, por não haver estoques reguladores suficientes no país, ocorre a necessidade de transportar grande volume de grãos ao mesmo tempo, gerando sobrecarga no sistema logístico, o que inflaciona o custo do frete”, pontuou.

Um estudo recente da associação Abimaq, citado por Polezi, indica que seriam necessários investimentos de 10 bilhões de reais em estruturas de armazenagem, durante dez anos, para conseguir acabar com o déficit. Ele lembrou que os financiamentos disponíveis para tais aportes têm sido “insuficientes” para acompanhar o ritmo de crescimento das safras.

Melhorias logísitcas

O superintendente da Conab ponderou que o Brasil, maior produtor e exportador de soja do mundo, tem conseguido contornar o déficit de armazenagem com o escoamento de boa parte da safra da oleaginosa no primeiro semestre, enquanto a colheita de milho de inverno chega ao mercado em sua maioria no início da segunda parte do ano.

Ele destacou ainda melhorias logísticas nos portos, norte a sul do país, assim como os investimentos privados em ferrovias e no importante canal hidroviário do Tapajós, que leva a produção da região central do país ao Norte, aliviando o Sul/Sudeste.

“Esta primeira safra (que supera a capacidade total de armazenagem) vai colocar à prova a competência logística do Brasil, se não tivermos grandes problemas, quer dizer que conseguimos evoluir bastante em relação a esta questão logística”, destacou Reis Neto.

Ele lembrou que o Brasil fica boa parte do primeiro semestre sozinho no mercado internacional de soja, o que facilita o escoamento, enquanto no segundo semestre a importância da armazenagem em tese tende a crescer, pois há maior concorrência, especialmente após a chegada da safra norte-americana.

Para lidar com o problema, os produtores brasileiros têm lançado mão dos “silos bags”, que são estruturas provisórias que permitem a armazenagem dos grãos, enquanto não se consegue espaço nos armazéns.

O especialista da Conab comentou que algumas regiões mais tradicionais, como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, têm melhor condição de capacidade, mas nas áreas das novas fronteiras agrícolas, como Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba), o déficit é mais agudo, o que demandaria políticas direcionadas para esses Estados.

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