Governadores que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro e que vocalizam críticas à postura do governo federal na pandemia da Covid-19 tiveram os números mais expressivos de aumento de seguidores e de interações nas redes sociais desde março de 2020. O levantamento, feito pela plataforma MonitoraBR, considera separadamente dados de perfis dos governadores no Facebook, Twitter e Instagram, até o início deste mês, e de posts deles com referência ao coronavírus.
Na soma do engajamento — isto é, o total de reações, respostas e compartilhamentos em cada post, dividido pelo número de posts — nessas três redes, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), aparece com 25,5 mil interações médias, o maior índice dos governadores. Entre os resultados de maior destaque, aparecem também Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão; João Doria (PSDB), de São Paulo; e Rui Costa (PT), da Bahia, todos alcançando mais de 10 mil interações médias, considerando o engajamento em todas as redes.
Aliado de Bolsonaro, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é a exceção entre os governantes estaduais com maior destaque nas redes. Zema, segundo colocado no ranking geral de engajamento, é também um dos que mais ganhou seguidores no Twitter desde o início da pandemia, atrás apenas de Dino e Doria.
O governador de São Paulo, embora tenha a maior base de seguidores no Facebook na comparação com outros governadores, foi o único que teve variação negativa nesta rede: em relação a março do ano passado, Doria aparece com quase 120 mil seguidores a menos.
Doria, que tem estabelecido um antagonismo com Bolsonaro e é pré-candidato à Presidência em 2022, tornou-se um dos principais alvos da militância bolsonarista nas redes. Ele também é alvo de protestos, nas ruas e na internet, por conta de medidas restritivas para combate à pandemia no estado, normalmente com a participação de categorias que formam a base de apoio a Bolsonaro, como os caminhoneiros. A página de Doria no Facebook teve 624 mil reações negativas a mais do que reações positivas de internautas. Na outra ponta, Camilo Santana e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), outro crítico do presidente, tiveram os maiores saldos positivos, com cerca de 500 mil reações favoráveis a mais do que as reações negativas.
Entre os posts que citavam os termos “pandemia” ou “Covid”, publicações feitas por Doria e Camilo obtiveram as maiores repercussões individuais. No Facebook, um post do governador de São Paulo, em janeiro, comemorando a primeira aplicação da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan teve 112 mil interações. No Instagram, o governador do Ceará teve 125 mil interações com um post, no último mês, criticando “aqueles que debocham da ciência, ignoram a luta dos profissionais de Saúde e (…) desrespeitam a dor de milhares de famílias”, numa indireta a Bolsonaro.
A postagem mais recente de governadores a ter alcançado grande repercussão foi um tuíte do gaúcho Eduardo Leite, no último dia 27, com um apelo à população para reduzir a circulação do vírus, de modo a aliviar a lotação de leitos hospitalares, inclusive para outros problemas de saúde. Até o dia 1º de março, o post teve 37 mil interações.
Por Bernardo Mello / O Globo