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sexta-feira 26 de fevereiro de 2021 às 14:12h

Rui confirma que pode ser candidato a presidente e admite disputar prévias no PT

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O governador Rui Costa (PT) disse abertamente pela primeira vez, em entrevista para revista Época, que pode ser candidato à presidência da República em 2022.

1. O ex-presidente Lula citou o senhor e os outros governadores do PT que estão no segundo mandato (Wellington Dias, Piauí; e Camilo Santana, Ceará) como possíveis candidatos à Presidência. O senhor vê essa possibilidade?

Lula já tinha, tanto para mim quanto para Wellington e Camilo, sinalizado que a gente devia apresentar mais no plano nacional o que estamos fazendo nos estados. Ele acha que serviria tanto para nos projetar nacionalmente em caso de uma candidatura como para divulgar tudo que estamos fazendo. Eu estou à disposição para ajudar no projeto nacional porque temos de salvar o Brasil. Todos os homens e mulheres de bem devem estar preocupados com isso. O Brasil não resistirá a mais quatro anos desta incapacidade, incompetência de gestão e planejamento, qualquer coisa que possa se entender como governo.

2. Mas o senhor admite a possibilidade de ser candidato a presidente?

Sim. Meu nome está à disposição. Mas repito que isso não é e não será transformado em um projeto pessoal no sentido de trabalhar, costurar. Sempre fiz política de forma coletiva, e não mudei essa forma de pensar e agir e não mudarei isso agora. Mas meu nome está à disposição. Independentemente de ser candidato ou não, quero contribuir com este debate nacional de conteúdo para derrotar o governo.

3. Em alguns setores do PT, há consenso de que, ao pedir ao ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad para colocar o “bloco na rua”, Lula sinalizou sua escolha. Como o senhor interpreta esse movimento?

Em minha opinião, o que Lula fez legitimamente com a direção nacional do PT foi dar início a um debate programático, de conteúdo e mobilização em relação ao que será feito em 2022. Essa é a leitura que eu faço. Não significa nenhuma decisão legal de candidatura, porque havendo condições legais ele próprio (Lula) seria ou será o candidato. Não acho que haja qualquer definição sobre candidatura, mas é legítimo. Haddad tem toda a legitimidade, por ter sido candidato (em 2018), de dar início a esse debate.

4. O senhor considera a possibilidade de disputar prévias presidenciais no PT?

Aí depende muito das circunstâncias. É algo para pensar e resolver no futuro. Já disse que não farei isso enquanto projeto individual, o que já ocorreu no PT (com Eduardo Suplicy contra Lula em 2002). Acredito que devemos fazer uma construção coletiva sem prévias, até porque a disputa seria extremamente dura. O PT vive ainda um momento difícil pelo massacre que sofreu e aos poucos vai reconstruindo sua imagem. A imagem do PT chegou muito desgastada a 2016, mas, neste ano, pelas pesquisas que acompanhamos nas eleições municipais, o PT já tinha recuperado sua imagem em boa parte dos municípios da Bahia, embora ainda não tenha voltado a seu melhor momento. Não sei se podemos ou devemos nos dar ao luxo de uma disputa interna.

5. Ao desencadear o debate sobre 2022 com tanta antecedência, o PT não divide a oposição?

Sou defensor de que a prioridade não é, neste momento, discutir nomes, por isso entendo como positiva a decisão de colocar o bloco na rua. A prioridade é construir o debate. Tenho defendido que haja primeiro um debate de ideias e projeto. É assim que vamos reconstruir a maioria na sociedade, é assim que vamos encantar a sociedade para um projeto de inclusão social e desenvolvimento. É assim que vamos construir a oposição, não será o inverso. Não é começando pelo debate de nomes ou pelas vaidades pessoais que vamos construir esse projeto. O que é possível é colocar todo mundo em torno da mesa e pactuar. E não é obrigatório que todo mundo dessa mesa esteja junto no primeiro turno. Não acho que se deva cercear qualquer partido que queira ter candidato. Até porque o cenário que eu enxergo é que Bolsonaro dificilmente estará fora do segundo turno.

6. Qual a melhor forma de conduzir essa unidade?

O erro grande é não pactuar antes e tentar no intervalo entre o primeiro e o segundo turnos conseguir apoio naqueles poucos dias. Aí é difícil. Naquele momento os candidatos vão estar feridos, machucados pela derrota. É muito melhor dialogar e pactuar antes. Por isso acho que devemos abandonar qualquer debate de nomes neste momento. Mas também não acho que deve haver camisa de força para estar todo mundo junto. O eleitor saberá escolher o melhor nome para o segundo turno.

7. Forças que estão fora do campo da esquerda, como o governador de São Paulo, João Doria, também devem participar deste diálogo?

Todo mundo que está fora do governo Bolsonaro deve ser chamado para conversar. O próprio Doria, o Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul), os governadores de Espírito Santo (Renato Casagrande, do PSB) e Paraná (Ratinho Junior, do PSD). Não necessariamente eles devem ir com o PT no primeiro turno. Não seria o fim do mundo. Isso só seria uma questão de vida ou morte se houvesse a possibilidade de tirar Bolsonaro do segundo turno, mas não vejo condições para isso.

8. Assim como Lula, o senhor acredita que a chegada de Arthur Lira à presidência da Câmara descarta a possibilidade de impeachment de Bolsonaro?

Já era difícil antes e se criou uma oportunidade singular para um esquema de rateio de dinheiro para parlamentares que sobrevivem e se reelegem com essa estrutura. Eu diria que, neste modelo tradicional de toma lá dá cá, virou um paraíso para quem vive disso, porque o país está em frangalhos. O momento pode ser péssimo para o país, mas excepcional para alguns ou muitos deputados.

9. Alguns partidos da base de Bolsonaro também são seus aliados na Bahia. Não é contraditório?

Do ponto de vista da política local, é difícil analisar uma situação a partir de uma fotografia. É uma construção mais de história, de fatos seguidos, do que de uma fotografia do momento. Nossa aliança vem lá de trás. Ao romperem com o governo Dilma, vários desses partidos não romperam conosco. Pela construção política regional, você estabelece relações não só políticas, mas pessoais. Duvido que esses parlamentares vão fazer campanha por Bolsonaro na Bahia. A não ser que queiram perder a eleição.

10. E qual é sua prioridade para 2022?

O plano número um é fazer o sucessor aqui na Bahia. Além disso, me colocar à disposição para a tarefa que o partido entender que eu posso cumprir no plano nacional. Mas repito que a prioridade na Bahia não é necessariamente uma candidatura ao Senado, e sim fazer a sucessão ao governo. Não tomo nenhuma decisão sozinho, mas não há sangria desatada nem projeto pessoal de candidatura ao Senado colocada.

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