O ex-PM Ronnie Lessa afirmou que os mandantes da morte de Marielle Franco ofereceram a ele e a um comparsa dois loteamentos clandestinos na zona oeste do Rio para a implantação de uma nova milícia. A fala consta de delação premiada à Polícia Federal, cujo Fantástico (Globo) teve acesso.
Pela primeira vez, o ex-policial detalha como recebeu a proposta, que ele chama de “sociedade”, dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, que resultou no assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Segundo Ronnie Lessa, Domingos lhe ofereceu um loteamento, ou seja, um minibairro, em Jacarepaguá, para explorar serviços como gatonet, transporte alternativo e outros. O lucro estimado seria de R$ 100 milhões. Para o matador de aluguel, a morte da vereadora seria o grande “negócio” da vida dele. Mas, para isso, era preciso retirar “uma pedra no caminho”: Marielle. Os citados na delação negam as acusações.
Lessa, que admitiu ter matado a vereadora, contou que ficou impactado com a proposta dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. “Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade”.
Segundo o ex-PM, os lotes foram oferecidos a ele e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, assassinado em 2021. “Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (…) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente.”
Ele não citou quando o empreendimento teria início, mas disse que seria um dos donos. “A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de gatonet, a exploração de kombis, venda de gás… A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto.”
Ronnie Lessa está preso desde março de 2019. A arma usada no crime nunca foi encontrada.