Eleição parlamentar ocorre em meio a ascensão de ultranacionalistas e incerteza, dias após surpresa com êxito de candidato radical em votação presidencial marcada por acusações de ingerência de Moscou. Os romenos vão às urnas neste domingo (1º) em eleições parlamentares em que se espera que a extrema direita obtenha ganhos e em meio a incerteza sobre se será mantido o resultado surpreendente do primeiro turno da eleição presidencial, realizado há uma semana no país.
O Tribunal Constitucional ordenou a recontagem da votação após a vitória inesperada do ultradireitista pró-russo Calin Georgescu em meio a acusações de ingerência de Moscou.
A vitória surpreendente inflou o apoio dos eleitores a partidos ultranacionalistas e de extrema direita, alguns com simpatias pró-russas evidentes, que poderiam abalar a orientação pró-ocidental da Romênia e minar o apoio à Ucrânia, segundo analistas políticos.
Político pouco conhecido, Georgescu, apoiado por uma sofisticada e controvérsia estratégia no TikTok que alcançou centenas de milhões de visualizações, alegou não ter gasto nenhum dinheiro em sua campanha, levantando suspeitas de financiamento ilegal e interferência russa.
Após uma campanha dominada pelas preocupações dos eleitores com os problemas orçamentários e o custo de vida, a eleição coloca os candidatos de ultradireita contra os principais partidos pró-europeus que cansaram seus eleitores com brigas internas e alegações de corrupção.
Os partidos de ultradireita também usam o fato de a Romênia defender a Ucrânia para alimentar o temor de que a guerra possa se espalhar pela fronteira, a menos que o país interrompa seu apoio, assim como aumentar o ressentimento em relação ao suposto tratamento preferencial para os refugiados da Ucrânia.
A incerteza política pode favorecer as forças ultranacionalistas e punir as siglas governistas Partido Social Democrata (PSD) e Partido Nacional Liberal (PNL), que dominaram a política romena nas últimas décadas.
Uma pesquisa prevê a vitória nessas eleições legislativas à ultranacionalista Aliança para a União dos Romenos (AUR), com 22,4%, seguida pelo PSD, com 21,4%, e pelo partido pró-europeu Salve a Romênia (USR), com 17,5%.
Dois partidos dissidentes de extrema direita também têm chances de entrar no Parlamento, potencialmente dando aos ultranacionalistas um terço dos assentos no legislativo.
Preocupações sobre ingerência russa
O sucesso inesperado de Georgescu no último domingo levantou preocupações sobre uma interferência russa na campanha, provocou uma recontagem de votos e levou um candidato derrotado a pedir a repetição do primeiro turno da votação ao Tribunal Constitucional do país.
Com a confusão, a eleição parlamentar ocorre com os eleitores incertos se o resultado do primeiro turno da votação presidencial será mantido.
Eles também não sabem se o segundo turno presidencial – marcado para 8 de dezembro entre Georgescu e a centrista Elena Lasconi – prosseguirá como agendado ou será realizado em uma data posterior, o que o tribunal deve decidir na segunda-feira.
Georgescu, 62 anos, tem criticado a Otan e a postura da Romênia em relação à Ucrânia e disse que Bucareste deveria se aproximar d a Rússia, e não desafiá-la. As pesquisas de opinião não previram seusucesso.
O presidente em fim de mandato da Romênia, Klaus Iohannis, defendeu a manutenção do curso euro-atlântico do país.
“Os romenos escolheram o caminho euro-atlântico e o escolheram bem, e estamos bem integrados à União Europeia e somos altamente respeitados dentro da Otan. Mas para que isso continue assim, temos que votar dessa forma”, disse Iohannis após comparecer à votação.
Escolha entre “estabilidade e o caos”
O primeiro-ministro social-democrata, Marcel Ciolacu, que está deixando o cargo, também alertou que “os romenos precisam escolher entre a estabilidade e o caos, entre o desenvolvimento e os fundos europeus ou a falta de fundos para pensões e salários”.
Os políticos de ultradireita lançaram mensagens nacionalistas e contra os partidos tradicionais, que eles culpam pela falta de desenvolvimento e oportunidades na Romênia, o segundo país mais pobre da UE.
George Simion, líder da AUR, disse: “Eu votei para que, pela primeira vez em 35 anos, possamos nos libertar das correntes, das algemas, daqueles que tentam nos manter prisioneiros da pobreza em um país rico”.
O líder populista de ultradireita prometeu que, se chegar ao poder, suspenderá a ajuda militar à Ucrânia e, em uma retórica semelhante à de Viktor Orbán, ele que quer “paz” e uma “trégua” no conflito desencadeado pela invasão russa.