Desde que foi eleito presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM) tem enfrentado a desconfiança de quem acredita que ele, no cargo, será um fiel aliado de Jair Bolsonaro. Um apoiador que fechará os olhos para os erros do Planalto e submeterá o Legislativo ao terrível papel de carimbador de assuntos de interesse do bolsonarismo.
No primeiro mês como chefe do Legislativo, o senador mineiro mostrou que a conversa não será assim. Pacheco cultiva boas relações com Bolsonaro, é verdade, mas nada que avance o papel institucional que lhe confere o cargo.
No teste de fogo das vacinas, desprezadas por Bolsonaro, o senador entregou a relatoria do texto que facilitava o processo de aquisição de imunizantes ao senador Randolfe Rodrigues, da oposição. Depois, chamou Flávio Bolsonaro para se juntar ao trabalho de articulação junto ao Ministério da Saúde. Equilibrou-se de forma política, como deve ser o trabalho do chefe do poder.
Nos últimos dias, quando Bolsonaro saiu em nova campanha contra governadores, para tentar dividir o desgaste das falhas de gestão do governo na pandemia, Pacheco atuo novamente para manter o foco da política na pauta do Congresso.
Pacheco conversou discretamente segundo a revista Veja com vários governadores. Como o presidente gosta do confronto, Pacheco aconselhou a turma a não morder a isca. Brigar com Bolsonaro, na visão de Pacheco, só retardará a votação de temas importantes para o país. O melhor manter o foco nas medidas que agilizam a vacinação e a recuperação econômica, sem deixar de fazer o que é necessário.
Nesta quinta, o presidente do Congresso deu seu recado. Sem citar Bolsonaro, cobrou “exemplo” dos homens públicos no enfrentamento ao coronavírus: “Algo que me chamou a atenção nessa audiência foi a fala do secretário-executivo do Ministério da Saúde em relação ao que precisa ser feito na pandemia: uso de máscara, higienização das mãos, o distanciamento social. Isso são exemplos, exemplos que nós esperamos que os homens públicos desse país tenham e deem para a população brasileira, que já está plenamente consciente do que precisa ser feito”.
Não que Pacheco acredite que Bolsonaro entenderá a mensagem e passe a usar máscaras, mas ela foi dita para ser lida como sinal de independência e foco do Legislativo no que importa.
Essa postura mostra que a gestão de Pacheco será marcada pelo equilibrismo. Ao focar no que importa, em determinado momento o chefe do Congresso entrará em choque com Bolsonaro. A esperança do empresariado e de figuras importantes da política é de que Pacheco saiba “tourear” o presidente de modo impedir que a pauta do Parlamento seja tumultuada por brigas desnecessárias como as vistas nos dois primeiros anos de governo.
Numa reunião virtual nesta semana, o empresário Abílio Diniz, na frente de dezenas de colegas, colocou uma gentil pressão no chefe do Congresso: “Você representa uma esperança ao país”, disse a Pacheco.
Pacheco e também o chefe da Câmara, Arthur Lira, estão fazendo a duras penas o trabalho de acelerar a vacinação no país. Algo que Bolsonaro poderia resolver numa canetada, mas se recusa. Essa rotina será constante em outros temas até o fim de 2022.