O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou nesta sábado, durante debate em uma rede social, que acredita que o país está consolidando uma frente ampla em defesa da democracia.
“Eu acho que esta frente vem se consolidando, nos últimos meses as pessoas têm conversado mais. Pessoas de posições ideológicas distintas tem dialogado mais”, disse Maia.
O debate contou com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do ex-ministro do STF Nelson Jobim, além dos governadores do Ceará, Camilo Santana (PT), e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
“Eu tenho conversado com políticos com quem eu não conversava antes”, acrescentou Maia.
O ex-presidente Fernando Henrique disse que a frente ampla precisa ser a mais diversa possível.
“As Forças Armadas fazem parte do país. Precisamos incluí-los na conversa. Não podemos dar de barato que eles querem golpe”, disse o ex-presidente, lembrando democracias podem ser corroídas por dentro.
Divergências
Dino defendeu que o importante, neste momento, é focar nos pontos de união e minimizar as divergências:
“Estou cada dia mais otimista, pois há uma proliferação de ações. Temos uma agenda imediata que é a de saúde e evitar o caos econômico e social do país. Há um terceiro ponto que é o de um eventual impeachment do (presidente Jair) Bolsonaro, esse divide mais”, disse o governador. “Eu preferia derrotá-lo na urna em 2022, mas ele precisa se ajudar”.
Na prática, contudo, ainda há divergências para a criação de uma frente ampla, segundo especialistas.
As manifestações contra o presidente Bolsonaro ganharam as ruas, mas ambições eleitorais e o sentimento de suspeita mútua entre integrantes de partidos da esquerda e da direita além de feridas não cicatrizadas do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, atrapalham esse processo de convergência.
Em relação aos movimentos de rua, apenas o PSOL se engajou. Maior partido da esquerda, o PT oscilou entre a orientação para ficar em casa, em razão da pandemia da Covid-19, e o apoio aos atos. A maioria dos partidos de centro e de esquerda, entretanto, assinaram uma nota conjunta pedindo para que seus apoiadores permaneça em segurança.
Para o cientista político da FGV, Eduardo Grin, um dos entraves à união é o fato de que os partidos têm projetos políticos diferentes e estão de olho nas eleições deste ano e também de 2022, cientes do desgaste do governo com a Covid-19.
“Nas Diretas, os atores políticos tinham uma agenda comum contra a ditadura. Hoje, a aproximação dessas lideranças é mais difícil porque há mágoas” afirma Grin. – Além disso, existe na sociedade enorme desconfiança dos partidos .
À direita, membros do Movimento Brasil Livre (MBL) têm criticado a forma de atuação dos protestos e também o movimento “antifa” (referência a “antifacista”), historicamente vinculado à esquerda.