O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi à Câmara dos Deputados nesta terça-feira (13) para prestar esclarecimentos aos parlamentares sobre a atuação da autoridade monetária. Durante a audiência, o presidente da autarquia defendeu a atuação do BC e disse que as decisões sobre a taxa Selic, questionadas pelo governo Lula, buscam direcionar a inflação para o intervalo da meta. Segundo Campos Neto, essas decisões visam proteger a população mais pobre.
Durante a sessão, Campos Neto admitiu que as taxas de juros praticadas no país são “absurdamente altos”, mas que não são “exorbitantes” e defendeu a condução feita pela autarquia, que encerrou um ciclo de cortes nos jutos e manteve a Selic em 10,5% na última reunião, realizada no fim de julho. “É obvio que a taxa de juros alta freia a economia, mas o crescimento tem surpreendido para a melhor. Se a gente não cuidar da inflação quem vai pagar de verdade a conta é a população mais pobre”, disse Campos Neto, que fica no cargo até o fim deste ano.
O presidente do BC afirmou que a variação média da Selic nos últimos 5 anos está se consolidando mais baixa do que em períodos anteriores. O mesmo, disse, se dá com a média da inflação no período. “Não é possível afirmar que temos uma taxa de juros exorbitante apesar de termos uma inflação muito baixa”.
Campos Neto afirma que a política monetária conduzida pela autoridade monetária tem como foco um limite dos juros “que não gera inflação e nem desinflação”. “Quanto mais baixa essa taxa de juros neutra, melhor, porque você pode trabalhar com uma taxa mais baixa, sem gerar inflação”, explica.
Questionado sobre a relação entre a taxa neutra e a taxa real de juros, Campos Neto apontou que na visão do mercado, a neutra está em 5%, enquanto a real está 6%. “A gente está 1% acima de neutra, 1% acima da neutra é um esforço pequeno que você tem para fazer a inflação convergir. Então se a gente acha que a taxa de juros real de 6% é muto alta, o que é a alta é a taxa neutra de 5%, e tem razões estruturais que a gente precisa combater”.
Contas públicas
O presidente do Banco Central afirmou nesta terça-feira que o Brasil precisa fazer um superávit primário entre 2% e 2,5% para estabilizar o crescimento da dívida pública nos níveis médios atuais. O presidente do BC ressaltou que se o país começar a “atacar” o tema da dívida e demonstrar para os agentes econômicos que o Brasil vai entrar em uma trajetória de convergência da dívida, os juros serão mais baixos.
A convocação de Campos Neto atende a requerimento dos deputados Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) e Mário Negromonte Jr. (PP-BA), integrantes das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação, respectivamente. Deputados questionam a manutenção da Selic em 10,5% ao ano. A avaliação considera que as últimas decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) contrariam os interesses de empresários, consumidores e membros do governo.