O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (10) que o Banco Central estuda acabar com o crédito rotativo do cartão de crédito. A modalidade tem taxas de juros que ultrapassam os 450% ao ano e está na mira do governo federal para tentar atacar a alta inadimplência da modalidade e também reduzir as taxas do crédito oferecido para pessoas físicas.
“A gente tem 90 dias para apresentar uma solução, que está se encaminhando para que não tenha mais rotativo. O crédito vai direto para o parcelamento, que seja com uma taxa ao redor de 9% [ao mês]. Extingue o rotativo, quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9%”, disse Campos Neto durante uma audiência no Senado. A taxa de juros atual do rotativo é de 15% ao mês, em média. Segundo o presidente do BC, a proposta para o rotativo deve ser apresentada nas próximas semanas.
O rotativo do cartão de crédito é uma linha oferecida quando o cliente não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte. Segundo dados do próprio Banco Central, a inadimplência dessa operação atinge cerca de 50% das operações – um índice sem precedentes em outros países. A redução dos juros do cartão virou uma das prioridades do Ministério da Fazenda, que vem se reunindo com BC e os bancos para apresentar uma nova modelagem.
Campos Neto também afirmou que o BC estuda modificar o sistema atual de financiamento por cartão de crédito, que permite aos correntistas parcelas compras em até 13 parcelas sem juros, ou seja, mais de um ano. Segundo ele, o BC estuda em criar uma tarifa para desincentivar a compra no crédito em muitas parcelas. “Não é proibir o parcelamento sem juros. É simplesmente tentar que fique um pouco mais disciplinado”, afirmou.
O parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito virou tema de debate após grandes bancos apontarem a modalidade como uma das culpadas pelas altas taxas de juros do rotativo dos cartões. A preocupação em mexer no parcelamento sem juros é afetar o consumo no país, já que o cartão de crédito movimenta 40% desse fluxo. O número de cartões de créditos emitidos no Brasil é de 215 milhões atualmente, número maior que a população do país, de 203 milhões de habitantes, segundo dados do último Censo.
Estudo
De acordo com o presidente do BC, outra alternativa em estudo seria limitar os juros do cartão de crédito. “O problema é que os bancos provavelmente iriam retirar os cartões de circulação porque, para as pessoas que têm mais risco, os bancos não ofereceriam aquele cartão devido a uma relação de risco-retorno ineficiente”, ponderou.
“O problema de cortar o número de cartões é que você sabe como começa, mas não sabe como termina, pode gerar um efeito muito grande na parte de consumo e na parte de varejo”.