Num dos diálogos captados pela Polícia Federal nas mensagens de WhatsApp do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Jair Bolsonaro Fabio Wajngarten comenta segundo a coluna de Malu Gaspar, a possibilidade de o Tribunal de Contas da União (TCU) obrigar o ex-presidente a devolver as joias recebidas de presente da Arábia Saudita.
“Por isso era muito melhor a gente se antecipar”, diz Wajngarten. “Mas o gênio do [Marcelo] Câmara e Fred contaminam tudo”, afirma ele em referência ao advogado Frederick Wassef e ao coronel Marcelo Câmara, que naquele momento articulavam o “resgate” de um relógio Rolex de ouro branco e diamantes para devolver ao tribunal. “Burro demais. Contaminado”.
Até onde se sabe, foram essas mensagens que levaram a PF a convocar Wajngarten a depor nesta quinta-feira. Wajngarten utilizou uma petição da OAB de São Paulo para ficar em silêncio, mas em seguida já começou a preparar uma ata notarial com o histórico das mensagens que, segundo ele, vão provar que ele só soube da venda das joias pela imprensa.
O que Wajngarten não diz, mas todo mundo no entorno de Bolsonaro sabe, é que a iniciativa visa blindar o ex-Secom de uma ameaça que Wassef vem fazendo sem cerimônia nos bastidores: de “acabar com Wajngarten”.
“Amigos em comum dos dois vêm relatando que Wassef diz nos bastidores que vai apontar o dedo para Wajngarten”, diz um dos personagens mais próximos do ex-presidente nessa investigação. “Vou me vingar”, teria dito Wassef, de acordo com relatos que chegaram inclusive a Wajngarten.
Tudo porque Wassef vem atribuindo as reportagens recentes citando seu nome ao que chama de “vazamentos” e “plantações” do “corno judeu” contra ele.
O advogado atribui a Wajngarten, por exemplo, a informação publicada pela jornalista Andréia Sadi na última segunda-feira, de que aliados de Bolsonaro teriam medo de gravações que o ex-advogado do presidente costumava fazer de seus interlocutores.
Wassef também acusa Wajngarten de espalhar no entorno de Bolsonaro o ex-presidente o apelido “Wasséfalo”, em referência às suas últimas iniciativas no caso das joias.
Essa última rixa entre os dois FWs é apenas uma de uma sequência que vem de longe, já produziu momentos tensos e gira em torno da disputa pela atenção e pela preferência do ex-presidente da República.
A quem lhe pergunta sobre a inimizade, Wassef costuma dizer que foi ele quem apresentou Wajngarten ao ex-presidente antes da eleição de 2018. O afastamento teria ocorrido, na sua versão, depois que o colega teria tentado “queimá-lo” junto ao chefe.
Já Wajngarten afirma que conheceu Wassef em um jantar de arrecadação de fundos promovido pelo empresário Meyer Nigri, diz que o desafeto é reconhecidamente leal a Bolsonaro e alega que os dois nunca brigaram.
Mas, na sequência de mensagens que ele vai entregar à PF em uma ata notarial, deve constar que o ex-Secom bloqueou Wassef em agosto de 2022, ainda na campanha.
Por que ele não diz.
Mas, a interlocutores em comum, o ex-assessor de Bolsonaro afirma que Fred Wassef tem dificuldade de trabalhar em equipe e não cumpre os combinados.
Wajngarten, porém, não é o único desafeto de Wassef no entorno de Bolsonaro. Outros profissionais que já integraram a defesa do ex-presidente em diferentes momentos já foram alvo da ira de Wassef, que se tornou conhecido do público depois de abrigar o ex-PM Fabrício Queiroz em seu sítio de Atibaia.
O “Anjo”, como era chamado pela família de Queiroz nas mensagens citadas pela PF, já dirigiu suas baterias contra a advogada Karina Kufa, por conta do controle dos casos criminais do então presidente, e o advogado do PL, Marcelo Bessa.
Quando a cúpula do PL procurou Bessa para discutir a estratégia jurídica no caso das joias, ele procurou a reportagem para dizer que só ele estava autorizado a falar pelo presidente e atribuiu a Wajngarten a entrada de Cunha Bueno no caso, como se estivesse querendo afastá-lo de Bolsonaro. Cunha Bueno foi apresentado a Bolsonaro pelo deputado estadual de São Paulo Tomé Abduch (Republicanos).