Há pouco mais de um mês, os repórteres da revista Crusoé mostraram que uma mansão em Brasília servia de local para encontro de autoridades fora da agenda e até mesmo de espaço para que, que supostamente ministros conspirassem contra ministros.
A publicação conta a história de um escritório no coração de Brasília comprado pelos auxiliares mais próximos de Jair Bolsonaro e usado pelos filhos do presidente para “reuniões reservadas”:
Na região central de Brasília, a pouco mais de três quilômetros da Praça dos Três Poderes, há um prédio de salas comerciais à prova (ou quase) de curiosos. Relativamente nova, a edificação destoa de grande parte dos endereços comerciais da capital por oferecer discrição a seus condôminos. Muitos, aliás, procuram o endereço justamente por essa razão. Não por acaso, a região ficou conhecida por abrigar, junto com o exclusivo Lago Sul, uma das maiores concentrações de escritórios de lobistas da cidade.
No segundo semestre de 2017, uma das salas do 13º andar do prédio foi posta à venda. Não demorou muito para que aparecessem interessados. O negócio foi fechado em questão de dias. A venda da sala 1301, de quase 38 metros quadrados, foi registrada formalmente em cartório em 30 de outubro. O valor declarado do negócio: 235 mil reais, “pagos neste ato em moeda corrente nacional”, conforme a escritura. Os compradores eram três: Jorge Francisco, Jorge Antônio de Oliveira Francisco e Pedro Cesar Nunes Ferreira Marques de Sousa…
A relação do grupo com o clã [Bolsonaro] era tão estreita que, com a eleição de Jair Bolsonaro, tanto Jorge Oliveira quanto Pedro César (além de PM’s da reserva, os dois são formados em direito) passaram a ocupar posições de destaque no Palácio do Planalto. Jorge foi chamado para chefiar a área jurídica da Casa Civil. Depois, com a demissão de Gustavo Bebianno, foi promovido a ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ele é um dos cotados para assumir uma das próximas cadeiras a vagarem no Supremo Tribunal Federal. Já Pedro César ocupa, desde 2 de janeiro de 2019, a prestigiosa posição de chefe de gabinete do presidente.
A aquisição da sala, um ano antes da eleição, transcorreu na mais absoluta discrição. Embora Bolsonaro já estivesse perfilado para disputar o Planalto, o trio de compradores não era conhecido em Brasília. Tempos depois de o negócio ser fechado, porém, funcionários do prédio e ocupantes de outras salas perceberam que havia algo de diferente na 1301: ela passou a ser frequentada pelos filhos do presidente. Crusoé ouviu de diferentes testemunhas que Eduardo e Flávio Bolsonaro, em especial, já foram vistos por lá algumas vezes – à noite e em finais de semana, inclusive. À boca miúda, a sala passou a ser conhecida por alguns dos vizinhos como o bunker secreto dos filhos de Bolsonaro.
Nas últimas semanas, Crusoé falou com mais de uma dezena de pessoas, entre frequentadores assíduos do edifício e envolvidos no negócio. Também buscou, nos cartórios de Brasília, os registros da transação. Nesta sexta-feira, Pedro Cesar Nunes, o chefe de gabinete do presidente, disse primeiro que “não lembra” se os filhos de Jair Bolsonaro já foram à sala. Depois, afirmou que se eles frequentaram o local, “foi em situações muito específicas, esporádicas”…
O ministro Jorge Oliveira disse que desconhecia se filhos do presidente Jair Bolsonaro usaram a sala. Depois, afirmou:
“Na verdade, o que eu me recordo, é que em uma oportunidade eu fui lá com o Eduardo. Não sei se o Flávio ou o Carluxo foram com o Pedro. Não me recordo, não posso precisar. Eu me lembro de uma oportunidade em que fui com o Eduardo lá. Não me lembro de outras oportunidades. Pode ter acontecido, mas eu não me recordo”…