Os discursos públicos das autoridades que estavam na reunião no Palácio do Planalto sobre a tragédia da Braskem tentaram passar a mensagem de que o encontro desta terça-feira (12) serviu para apaziguar os ânimos de uma disputa política que envolve dois grupos diferentes.
De um lado está o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL). Do outro lado está o senador Renan Calheiros (MDB) e o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB).
O recado que o presidente Lula repetiu aos presentes é que o encontro serviu para pacificar, ainda que temporariamente, a disputa. No entanto, relatos ouvidos pelo blog de quem estava na conversa apontam para uma reunião tensa, com direito a ataques, interrupções de falas e insatisfações de parte a parte.
Pela primeira vez, Renan, Lira e seus aliados dividiram uma mesma mesa para tratar do assunto. O encontro durou quase três horas.
O esperado embate entre Lira e Renan não aconteceu. Os dois evitaram o confronto direto, enquanto seus aliados, JHC e Paulo Dantas, protagonizavam a troca de farpas.
O primeiro a falar foi o governador de Alagoas. Segundo relatos, ele foi interrompido pelo prefeito de Maceió e houve uma discussão sobre o acordo firmado entre a Braskem e a Prefeitura de Maceió.
Quando JHC estava com a palavra, foi a vez de Renan Calheiros interrompê-lo algumas vezes para criticar o mesmo acordo. Lira ficou a maior parte do tempo quieto. Quando teve a palavra, demonstrou incômodo com o nível e os rumos da conversa.
Dantas e Renan defendem a anulação do acordo entre a Braskem e a Prefeitura de Maceió, com o argumento de que os termos são desvantajosos para o poder público, além de serem insuficientes para indenizar toda a população afetada pela tragédia.
A empresa pagou R$ 1,7 bilhão de indenização ao município para não sofrer mais nenhum tipo de responsabilização. JHC e Lira defendem a manutenção do acordo, ainda que a Braskem possa vir a sofrer condenações na Justiça.
Ainda de acordo com relatos dos participantes, Lula pediu uma trégua na briga política para que o foco seja o atendimento às vítimas. Argumentou que um ambiente político conturbado atrapalha a busca por uma solução.
O Palácio do Planalto é contra a instalação da CPI da Braskem por avaliar que pode atrapalhar o andamento das pautas no Congresso nessa reta final do ano e, também, pelo potencial de azedar a relação do governo com Lira.
Segundo os relatos, Lula não pediu textualmente que a CPI não seja instalada, mas deu o recado ao questionar a efetividade de uma comissão nesse momento e ao citar a máxima de que “CPI sabe-se como começa, mas não como termina”.
Na avaliação de um dos presentes, a conversa serviu para Lula “medir a temperatura da beligerância” em Alagoas e constatar que a disputa é mais profunda do que se imaginava.
Apesar do apelo de alguns dos presentes, Lula afirmou que não vai visitar Alagoas enquanto não for pacificada a relação entre o governo do estado e a Prefeitura de Maceió.
Houve um acordo para que ocorra uma nova reunião entre Lula, o governo estadual, a prefeitura, a bancada de Alagoas e a Braskem, ainda sem data definida.
Na próxima quinta-feira (14), procuradores da Advocacia-Geral da União que atuaram em tragédias recentes, como Mariana (MG) e Brumadinho (MG), terão uma reunião em Maceió com representantes do governo e da prefeitura da capital.