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sexta-feira 26 de março de 2021 às 19:05h

Reunião entre governadores e Pacheco tem críticas a Bolsonaro e cobranças sobre comitê da covid-19

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A reunião de governadores com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na manhã desta sexta-feira (26) foi marcada por críticas ao comitê criado pelo presidente Jair Bolsonaro para enfrentar a covid-19. O grupo, formalizado após reunião de chefes de Poderes nesta semana, deixou de fora Estados e municípios, o que motivou críticas dos participantes do encontro. Para governadores, apesar do discurso de “união nacional” para combater a pandemia, Bolsonaro se recusa a mudar de postura e continua confrontando medidas adotadas nos governos locais.

Logo após o fim da reunião, realizada de forma virtual, Bolsonaro foi até a residência do presidente do Senado. Na ocasião, Pacheco relatou as principais demandas dos Estados, como ampliação nos repasses de recursos federais. Os governadores reivindicam que seja mantido o mesmo patamar de 2020, o que implicaria em um aumento de gastos R$ 43 bilhões de em relação ao planejado para este ano. No ano passado, porém, o governo federal tinha o respaldo do chamado “Orçamento de guerra”, que liberava despesas acima do permitido na lei, cenário que não pode se repetir em 2021.

“Dissemos da importância de que esse comitê nacional tenha a presença de Estados e municípios. Não é razoável sem a presença de Estados e municípios”, afirmou o governador do Piauí e coordenador do Fórum de Governadores para a crise de covid-19, Wellington Dias (PT). O comitê anunciado por Bolsonaro fará a primeira reunião na próxima segunda-feira, 29.

Apesar da insatisfação, os governadores concordaram em manter conversas periódicas com Pacheco para definir as demandas. “Houve muita crítica ao comitê criado e ao comportamento do presidente de enfrentamento aos governadores e alimentação de sua base política para enfrentar os governadores. Isso prejudicou o trabalho imensamente até agora”, disse o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).

Conforme o Estadão/Broadcast apurou, Pacheco listou erros na condução da crise, que já matou mais de 300 mil pessoas, mas evitou responsabilizar nominalmente o presidente da República pela falta de comando. Após a reunião, o senador tentou minimizar a polêmica e afirmou que o comitê é federal. A intenção, de acordo com ele, é promover uma integração entre os Poderes para conter o avanço da covid-19 e priorizar as “convergências”, colocando a vacinação como a principal meta.

O isolamento social, medida apontada como necessária por especialistas independentemente da imunização da população, é um dos principais temas que divide Bolsonaro e gestores estaduais. “O único caminho que nós temos é de união, e essa união será um grande exemplo para sociedade brasileira, que nós estamos buscando ter a solução para o problema nacional que nós vivemos hoje”, disse Pacheco em coletiva de imprensa.

Crítico de Bolsonaro e possível adversário do chefe do Planalto nas eleições presidenciais de 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não participou da reunião com Pacheco. Ele escalou o vice-governador do Estado, Rodrigo Garcia (DEM), para a teleconferência. No mesmo horário, o tucano dava entrevista à imprensa para anunciar o desenvolvimento de uma vacina produzida integralmente em São Paulo pelo Instituto Butantã. Assim que a iniciativa de criar o comitê foi anunciada, Doria havia definido a instância como “comitê de adulação” e avisou que não tinha intenção de aderir ao grupo.

Apesar do anúncio do Butantan, o governo federal aposta em outra vacina 100% brasileira a partir do segundo semestre, fabricada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Governadores também pediram uma distribuição igualitária de doses das vacinas contra covid-19 para que todos os Estados realizem a imunização conforme as mesmas faixas etárias ao mesmo tempo. A falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e medicamentos para tratar pacientes também foi cobrada na reunião.

Durante a conversa com Pacheco, governadores reagiram à estratégia de Bolsonaro de responsabilizar os Estados pelo descontrole da pandemia ao apresentar dados gerais sobre transferências de recursos federais. Na avaliação dos presentes, a inclusão de prefeitos e governadores no comitê poderia servir como um gesto de aproximação, o que não ocorreu. “Se o presidente quer estabelecer um novo comportamento com relação à pandemia, seria um gesto concreto de acolhimento e de compromisso com a mudança de postura”, afirmou Renato Casagrande.

Bolsonaro assinou o decreto que formaliza o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da Covid-19 na quinta-feira, 25. O órgão será coordenado pelo próprio presidente da República e, além de Pacheco, terá como integrantes o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) e um indicado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O Ministério da Saúde exercerá a secretaria-executiva do grupo. Estados e municípios ficaram de fora.

O formato foi criticado até por quem esteve na reunião de chefe dos poderes, na quarta-feira, 24, quando o grupo foi anunciado. “Esse comitê, instituído dessa maneira, excluindo Estados e Municípios brasileiros, é a negação do SUS e mais uma ação na direção do negacionismo. Certamente, não é o melhor caminho”, afirmou o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), que estava no encontro realizado no Palácio da Alvorada.

Além dos Estados, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) encaminhou um ofício aos presidentes da Câmara e do Senado solicitando participação no grupo. “Ninguém tem direito de fazer politicagem ou campanha eleitoral sobre 300 mil mortos. Eu esperava que o senhor presidente da República entendesse isso. Esse decreto é a prova que ele não entendeu e nem vai entender. Ele não sabe o que é coordenação nacional”, afirmou o governador Flávio Dino (PCdoB), durante a conferência com Pacheco.

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