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segunda-feira 11 de setembro de 2023 às 06:26h

Resgate após terremoto no Marrocos entra em fase crítica

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Vilarejos em regiões montanhosas são de difícil acesso, e muitos continuam presos sob escombros em áreas às quais só se pode chegar a pé ou em montaria. Especialistas falam em “corrida contra o tempo”.Quase 48 horas após o Marrocos ser abalado pelo pior terremoto em mais de seis décadas, equipes de resgate ainda pelejavam neste domingo (10) para libertar pessoas presas debaixo dos escombros de edificações que ruíram na pequena cidade de Amizmiz, aos pés da cadeia de montanhas do Alto Atlas.

Na sexta-feira, por volta das 23 horas da noite (horário local), um terremoto de magnitude 6,8 na escala Richter com epicentro próximo à cidade de Oukaimeden, a 90 quilômetros dali, atingiu o país.

Até a noite de domingo, as autoridades marroquinas contabilizavam mais de 2.100 mortos e mais de 2.400 feridos – boa parte em estado grave. Mas o saldo de vítimas pode ser muito maior, já que os abalos causaram danos em regiões no país de difícil acesso. A Organização Mundial da Saúde estima em mais de 300 mil o número de afetados pelo desastre.

Organizações especializadas em resgates consideram as primeiras 72 horas após um sismo críticas para salvar vidas. Passado esse período – ou seja, a partir das 23 horas de segunda-feira –, a chance de sobrevivência terá caído para entre 5% e 10%.

“É indescritível”, desabafa Naima Oufkir, moradora da cidade de aproximadamente 14.000 habitantes. “Minha vizinha estava grávida. Agora ela está debaixo dos escombros em algum lugar. Estamos rezando para que ainda esteja viva.”

Para além do Marrocos, os tremores foram sentidos na Argélia, Espanha e até em Portugal. Em 1960, um terremoto destruiu Agadir e provocou mais de 12.000 mortes – este, contudo, não superou em intensidade o evento de sexta-feira, segundo o órgão americano de monitoramento de atividade sísmica USGS.

Sem acesso às regiões mais afetadas pelos tremores

Equipes de resgate tentam chegar a áreas mais próximas do epicentro do terremoto, no distrito de Al Haouz, a cerca de 70 quilômetros de Marrakech. Muitas cidades e vilarejos nas montanhas ali são de difícil acesso e dispõem de poucos recursos. Algumas montanhas ultrapassam os 3.000 metros de altitude.

“São lugares muito remotos e é muito difícil acessá-los”, afirma Anja Hoffmann, que comanda o escritório da Fundação Heinrich Böll em Rabat, capital do Marrocos, e conhece a região. “As estradas já são bem estreitas. Mesmo em condições normais, levaria de três a quatro horas para chegar a um hospital relativamente bem equipado. Então dá para imaginar a situação quando essas estradas estão bloqueadas.”

Morador de Azgour, um vilarejo de 200 pessoas também afetado pelo terremoto, relata à DW que houve preparações para alargar algumas estradas principais na região. “Mas agora o terremoto acabou com tudo”, lamenta. Ele afirma que ainda há pessoas presas sob os escombros ali, e até a noite de sábado nenhuma ajuda havia chegado.

Algumas estradas só poderiam ser percorridas a pé ou com a ajuda de mulas, segundo Adel Boria, outro morador da região. “Mesmo pousar um helicóptero de resgate seria difícil em alguns desses vilarejos.”

“Corrida contra o tempo”

Diretora da Cruz Vermelha International, Caroline Holt afirma em entrevista à DW que será necessário maquinário pesado para abrir as estradas e chegar até esses lugares. “É uma corrida contra o tempo”, diz. Ela chama atenção também para os tremores subsequentes – foram ao menos 20 desde então, com um de 4,5 pontos no domingo na região de Ighil, ao sul de Marrakech –, que podem pôr abaixo edificações que ainda não ruíram.

A organização prometeu 1,1 milhão de dólares em apoio ao escritório marroquino da Cruz Vermelha.

“É importante cuidar dos sobreviventes também. Há muitos vivendo ao relento agora, expostos às intempéries, muitos feridos gravemente”, ressalta Holt. “Essas pessoas precisarão de abrigo, água, de comida, apoio psíquico.”

De fato, sobreviventes estão enfrentando dificuldades para se manter alimentados e abrigados. Comércios estão danificados ou fechados. Vários devem passar a terceira noite sob céu aberto, nas ruas – muitas casas no país são feitas de barro e madeira ou cimento e blocos de concreto, daí as estruturas terem desmoronado facilmente.

O governo, que decretou luto oficial de três dias, afirmou no sábado estar tomando medidas urgentes, incluindo o reforço de equipes de busca e resgate, fornecimento de água e distribuição de comida, abrigos e cobertores.

Ajuda do exterior

A Espanha anunciou o envio de 56 agentes e quatro cães farejadores, já em território marroquino; uma segunda equipe com mais 30 pessoas e outros quatro cães estava a caminho no domingo. Do Reino Unido, outros 60 especialistas em resgate, quatro cães e quatro profissionais de saúde foram despachados. O Catar também anunciou o envio de uma equipe para apoiar o país. Também no domingo, uma equipe de americanos chegou ao local para avaliar a situação.

Diversos países, entre eles Israel, Algéria – que havia rompido relações com o Marroco dois anos atrás –, Tunísia, Taiwan, Alemanha, França e Turquia também ofereceram ajuda – o último passou recentemente por uma tragédia semelhante que deixou mais de 50 mil vítimas.

Na turística Marrakech, retorno à normalidade

Quando Mourad começou a sentir os tremores na noite de sexta, ele achou que estava vivendo um ataque terrorista. Junto com outros funcionários do Café Zeitoun, em Jemaa el-Fna, icônica praça central da turística Marrakesh, ele começou a retirar os clientes do estabelecimento um por um, para evitar pânico. “Achamos que fosse uma bomba”, comenta, citando um ataque próximo dali em 2011.

Na noite do dia seguinte, porém, o estabelecimento voltou a ficar cheio – assim como a praça Jemaa el-Fna, apinhada de locais curiosos e turistas. Restaurantes voltaram a armar suas mesas – apesar da ameaça de tremores subsequentes.

“Como você pode ver, a vida continua”, afirma Mourad.

Ainda há, porém, pessoas dormindo nas ruas porque tiveram suas casas tão danificadas que já não a consideram mais seguras.

Socorro será necessário por muito mais do que algumas semanas

Hoffmann, da Fundação Heinrich Böll, diz que há muita solidariedade no Marrocos agora. “Ontem [sábado] teve uma campanha enorme para que as pessoas doassem sangue. [A resposta] foi muito impressionante. Ontem e hoje os centros [de doação de sangue] disseram que não podiam mais receber doações e pediram para esperar até a semana que vem porque vão precisar de sangue no longo prazo.”

Organizações humanitárias afirmam que levará meses, talvez anos, para ajudar os marroquinos na reconstrução e recuperação após o desastre.

“O terremoto estará no noticiário por algumas semanas, mas a ajuda será necessária por muito mais tempo – para reconstruir, reerguer a vida das pessoas. Essa vai ser a questão central no longo prazo”, ressalta Hoffmann.

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