Perto de formalizarem a adesão ao governo, PP e Republicanos já têm indicados espalhados em cargos do segundo escalão e calculam quantos votos de cada bancada o Planalto receberá das duas siglas, caso a reforma ministerial contemple todas as demandas. Já no outro lado da base governista, sobe o nível de tensão com parlamentares aliados de PSB e PDT, insatisfeitos conforme Lauriberto Pompeu, Camila Turtelli e Julia Noia, do O Globo, com os contornos das mudanças que virão na Esplanada.
No Republicanos, um exemplo de proximidade antes da reforma é o do líder da sigla na Câmara, Hugo Motta (PB). Ele se diz independente, mas sua mulher, Luana Medeiros Motta, já ocupa cargo na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Ela foi nomeada ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e continua no governo Lula. O partido também emplacou um filiado em um cargo de assessoria na superintendência da Codevasf na Paraíba. Já a escolha pelo deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para o primeiro escalão, em pasta ainda a ser confirmada, foi natural. Ele tem boa relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
No caso do PP, o diretor de negócios do Banco do Nordeste, Anderson Possa, é próximo a nomes da sigla. Ele foi indicado na gestão Bolsonaro, no período em que o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira, chefiava a Casa Civil.
Do outro lado da base, no PDT a insatisfação é tema corrente entre os deputados, que ensaiam até rompimento. Eles se queixam da demora em uma definição da reforma porque, segundo a avaliação de parlamentares, a pasta entregue à legenda, Previdência Social, não dá margem para que façam políticas públicas nos seus redutos.
— A insatisfação é grande, mas ainda temos expectativa de que o governo valorize quem efetivamente tem dado apoio na Câmara — afirma Max Lemos (PDT-RJ).
Já o PSB soma 15 deputados e está à frente de três pastas: Justiça e Segurança Pública, com Flávio Dino; Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com o vice-presidente Geraldo Alckmin; e Portos e Aeroportos, com Márcio França. A cobrança é por reconhecimento.
— A bancada do PSB tem tido um papel que vai além da disciplina nas votações em temas centrais do governo, pela relação dos seus parlamentares dentro do bloco que atua, tem tido papel decisivo junto a partidos de centro. Esperamos reciprocidade e reconhecimento do governo — afirma o líder da bancada, Felipe Carreras (PSB-PE).
Hospitais e Dnit
No último dia 27, o deputado André Figueiredo (PDT-CE), líder do maior bloco da Câmara, o do presidente Arthur Lira (PP-AL), disse ao jornal que, mesmo com a reforma, votos da base não são garantidos e que o governo coloca os aliados em segundo plano. Também em julho, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, criticou ao GLOBO uma possível perda de espaço para “aqueles que apoiaram Bolsonaro”. Para ele, “quem perde é o país” e a política, que fica “pior”.
Enquanto os atuais aliados reclamam, no Republicanos a estimativa é obter o apoio de 35 dos 41 deputados da legenda, uma vez que cinco ou seis são bolsonaristas convictos e não vão votar com o governo. Da mesma forma, o PP avalia que 34 dos 49 deputados estão abertos a apoiar o Planalto.
— As coisas podem ir avançando, mas na hora certa o presidente Lula vai conversar com Marcos Pereira (presidente do Republicanos) e com presidentes de outros partidos — afirma Costa Filho, que deve assumir uma vaga na Esplanada, ainda cauteloso sobre a definição.
As queixas pedetistas envolvem nomes indicados por petistas em postos estratégicos, como na chefia de portos e hospitais federais, e já começaram articulações por diretorias da Eletronuclear e de cargos de gestão em autarquias, como o Dnit. Indicações como essas atenderiam ao apetite da sigla.
No Centrão, que pode assumir o Desenvolvimento Social (PP) e os Esportes (Republicanos), o histórico de fidelidade mostra que há ganho potencial de votos sólidos para a base do governo, mesmo com as barreiras do bolsonarismo. Levantamento do jornal O Globo, mostra que, entre 2003 e 2015, período de Lula e Dilma Rousseff no Planalto, o PP votou ao lado do governo, em média, em 86% das vezes. O Republicanos deu apoio em 88% das votações.
Neste ano, porém, os patamares são distintos: o Republicanos votou alinhado ao Planalto em 59% das ocasiões, taxa que é de 56% no PP. Com a movimentação, que deverá integrar os deputados Silvio Costa Filho e André Fufuca (PP-MA) à Esplanada dos Ministérios, o governo busca uma base mais previsível. Na leitura de governistas, a situação de hoje, em que a maioria precisa ser construída voto a voto, é insustentável a longo prazo e gera desgaste aos articuladores políticos.
Alianças passadas
Fufuca, líder do PP na Câmara, diz que não tem relação com a manutenção de Possa no Banco do Nordeste. O deputado não apoiou publicamente nenhum candidato a presidente em 2022, mas é do grupo do ministro da Justiça, Flávio Dino, e presidiu o PP em 2021 e no início de 2022, liberando o apoio do partido ao PT em estados como Pernambuco, Mato Grosso e Ceará. Já o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) também tem postos sob a influência do PP, a exemplo de AJ Albuquerque (PP-CE).
Outros nomes dentro desses dois partidos também são próximos a Lula. É o caso dos deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Eduardo da Fonte (PP-PE), Fernando Monteiro (PP-PE), Wilson Santiago (Republicanos-PB), Augusto Coutinho (Republicanos-PE). Santiago era líder do MDB na Câmara no primeiro mandato de Lula e próximo ao governo. Ao sair do MDB em 2013, ele, inclusive, avaliou se filiar ao PT, mas acabou entrando no PTB, do qual também saiu para ingressar no Republicanos em 2020.
Em um aceno ao PP, Lula lembrou que Aguinaldo Ribeiro já foi ministro de Dilma.
— O Aguinaldo Ribeiro é um deputado do PP, que foi ministro da Dilma, teve um comportamento exemplar. Não brincou com a reforma, levou a sério — disse o presidente em transmissão ao vivo nas redes sociais em julho.
Pauta travada
As negociações para os cargos só devem avançar a partir desta semana, quando Lula retornará a Brasília. A indefinição tem afetado a pauta da Câmara. PP e Republicanos pressionam para travar as votações de interesse do governo enquanto não forem definidos os cargos. A análise do arcabouço fiscal, por exemplo, está sem previsão de ser votada.
— A decisão da inclusão dos dois partidos já está tomada. O problema é só desenhar a engenharia. Como não estamos em uma fase de reforma ministerial ampla, é uma coisa específica, tem que fazer um desenho de tal forma que satisfaça quem chega e não maltrate quem já está — diz o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
No segundo escalão, o PP quer também emplacar a ex-deputada Margarete Coelho no comando da Caixa Econômica Federal. Já a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é alvo de uma disputa interna do Centrão, que envolve as bancadas da Câmara de PP e Republicanos, além do PSD.