Há quatro anos, a onda bolsonarista aumentou as taxas de renovação pelos estados e no Congresso, tendência que não se manteve neste pleito.
Outra explicação para o percentual menor de renovação na maioria das unidades da federação é a implementação de novas medidas no sistema eleitoral, como a cláusula de barreira, que cria dispositivo para restringir a atuação de partidos políticos que não conseguirem atingir um quociente mínimo de votos para a Câmara Federal, e o uso do fundo partidário, que pode favorecer nomes mais consolidados.
— Tivemos mudanças na regra de distribuição das sobras (de votação), o financiamento de campanha ficou muito controlado por lideranças partidárias e políticas. Isso se soma ao fim das coligações da forma como era antes, que trazia muita gente nova. Esses são os principais elementos que explicam porque não tivemos tanta renovação quanto antes — diz o cientista político Bruno Bolognesi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Reeleições consecutivas
A baixa renovação é traduzida por alguns exemplos: em Minas, o deputado Cássio Soares (PSD) se encaminha para o quarto mandato consecutivo; no Espírito Santo, Marcelo Santos (Podemos) vai para a sexta legislatura seguida.
Entre os nove estados que registraram um grau de renovação superior a 2018, o destaque foi a região Nordeste. A mudança ocorreu em cinco das nove assembleias — além de Maranhão (64,3%) e Sergipe (62,5%), foi o caso de Ceará (47,6%), Paraíba (57,4%) e Piauí (50%). O grau de renovação também foi mais expressivo neste ano no Paraná (48,1%), Roraima (45,8%) e Tocantins (40%).
Mudanças nas assembleias — Foto: Editoria de arte/O Globo
Para Bolognesi, o comportamento observado no Nordeste tem ligação com a possibilidade de eleição do ex-presidente Lula (PT). Essa inclinação favorável ao petista, segundo ele, teria sido acompanhada nas eleições locais da região, tradicionalmente mais ligada ao PT.
— Toda vez que tem uma eleição para presidente em que há expectativa de alternância de poder pode ter renovações acontecendo de forma mais intensa. Estados em que ocorre uma conexão entre presidente e governador, por exemplo, Lula e um governador do Nordeste mais ligado a ele, espera-se uma renovação maior — afirma.
Segundo Josué Medeiros, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a migração de quadros estaduais para a disputa nacional abriu espaço para algum nível de renovação local.
— Normalmente, a estratégia dos partidos é dividir nomes grandes entre as assembleias e as Casas legislativas federais, mas agora os maiores quadros de cada legenda foram para o Congresso, que teve uma das menores taxas de renovação da história — avalia Medeiros. — Por outro lado, ao optar não concorrerem com seus principais quadros nos estados, as siglas garantem pelo menos alguma renovação nos legislativos locais.
Os principais colégios eleitorais do país ficaram longe de registrar as mudanças mais expressivas nas composições tanto em 2022 quanto em 2018. Isso ocorre, na avaliação dos especialistas, porque São Paulo, Minas, Rio e Bahia, que concentram a maior parte do eleitorado brasileiro, são também os locais em que os custos de campanha para garantir a competitividade do candidato são maiores. Também por isso acabam investindo em nomes já conhecidos, com mais chance de conquistar cadeiras.