O presidente colombiano, Gustavo Petro, renovou sete ministérios na quarta-feira (26) e se cercou de antigos aliados políticos, em meio à pior crise desde que assumiu o poder, em agosto de 2022. O primeiro líder de esquerda do país tem dificuldades para implementar as reformas prometidas no sistema trabalhista, de saúde, previdenciário, judiciário, entre outros. Para especialista ouvido por Marie-Eve Detoeuf, correspondente da RFI em BogotáI, as mudanças no gabinete são “coerentes”.
O governo de coalizão durou cerca de nove meses. Sete ministros centristas deixaram o governo Petro, a começar pelo chefe da pasta da Fazenda, José Antonio Campo, que convenceu o Congresso colombiano a adotar a ambiciosa reforma fiscal, a única votada até o momento.
A saída deste acadêmico liberal que promovia consensos no gabinete foi uma das principais surpresas do remanejamento. O Ministério do Interior e da Agricultura, setor chave para Petro, também foram renovados. Além disso, o presidente acatou a demissão da ministra da Saúde, Carolina Corcho, no centro das disputas entre o executivo e parte do Congresso.
No início de seu mandato, o presidente colombiano apostou na abertura ao centro, com o objetivo de constituir uma maioria parlamentar. No entanto, houve oposição à reforma constitucional para reduzir a participação privada no sistema de saúde – o que foi a gota d’água para o líder de esquerda.
“Há semanas, as mudanças pelas quais as pessoas votaram estavam comprometidas pelo comportamento e a chantagem de líderes de partidos tradicionais. O país precisa saber disso. Nosso pacto fundamental é com as pessoas, não com as elites políticas agarradas a seus privilégios”, explicou à RFI a senadora de esquerda Maria José Pizarro.
À turbulência política se soma a queda na popularidade de Petro, que ficou em 35% em abril, contra 40% que aprovaram suas políticas. Os dados constam da sondagem do instituto Invamer, realizada em fevereiro e divulgada na quarta-feira.
Guinada à esquerda
De fato, anunciando o nome de novos ministros, Petro mostra que está disposto a implementar as reformas que prometeu. Também está claro que, com a eliminação de representantes do centro, o presidente se direciona ainda mais à esquerda.
“É um governo focado no presidente e em seu projeto, mais coerente. Mas também com apoios políticos mais limitados do que no início”, analisa o pesquisador Yann Basset, do Instituto de Altos Estudos da América Latina (Iheal), sediado em Paris.
O presidente colombiano considera que “um governo de emergência” deve ser instalado no país, já que o Congresso não conseguiu aprovar artigos simples e pacíficos sobre, por exemplo, a repartição igualitária de terras. O líder quer “que as equipes trabalhem para diminuir o preço dos alimentos, doar terrenos aos camponeses, aumentar a produção agrícola, mantendo os preços baixos, porque são iniciativas fundamentais para a paz”.
A primeira composição de governo formada se apoiava no centro, na direita e no mundo universitário, e não sobre as forças de esquerda que levaram Petro ao poder. Desde sua chegada à presidência, ele enfrentou várias renúncias e, no final de fevereiro, demitiu três ministros.
O terremoto no gabinete representa a pior crise governamental interna em pouco mais de nove meses de mandato. Seu grande desafio agora será de governar sem maioria no Congresso.