O Reino Unido e a França trabalham juntos em “um plano para acabar com os conflitos” entre a Ucrânia e a Rússia, anunciou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a poucas horas de uma cúpula de cerca de 15 líderes europeus e internacionais em Londres, neste domingo (2). Quando finalizado, o plano deverá ser apresentado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A cúpula na capital britânica visa imaginar novas garantias de segurança na Europa num momento em que os Estados Unidos indicam se alinhar à posição de Moscou no conflito e virar as costas para os seus aliados históricos.
“Concordamos que o Reino Unido, a França e talvez mais um ou dois outros países trabalharão com a Ucrânia em um plano para interromper os conflitos, e então discutiremos esse plano com os Estados Unidos”, disse Keir Starmer à BBC.
“Não estou criticando ninguém aqui, mas em vez de avançar país por país na Europa, o que seria um ritmo bem lento, provavelmente precisamos formar uma coalizão de pessoas dispostas agora”, explicou.
Londres e Kiev também assinaram um acordo de empréstimo de 2,26 bilhões de libras (R$ 16,7 bilhões) no sábado (1º/3) para apoiar as capacidades de defesa da Ucrânia, que serão pagos com lucros de ativos russos congelados na Europa.
“O dinheiro será usado para produzir armas na Ucrânia”, escreveu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no Telegram. Ele acrescentou estar “grato ao povo e ao governo do Reino Unido”.
Zelensky deve se encontrar com o rei Charles 3º e participar da cúpula de segurança esta tarde. A reunião terá a participação do presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, o primeiro-ministro polonês Donald Tusk, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, e os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen e António Costa. O encontro acontece antes de uma cúpula europeia extraordinária sobre a Ucrânia, marcada para quinta-feira (6/3) em Bruxelas.
De acordo com o governo londrino, as discussões em Londres se concentrarão em “fortalecer a posição da Ucrânia hoje, incluindo apoio militar contínuo e aumento da pressão econômica sobre a Rússia”.
Garantias de segurança
Os participantes também discutirão “a necessidade de a Europa desempenhar seu papel na Defesa” e “os próximos passos no planejamento de fortes garantias de segurança” no continente, diante do risco de retirada do guarda-chuva militar e nuclear dos EUA. A Ucrânia e a Europa acompanham com preocupação a reaproximação entre Donald Trump e o russo Vladimir Putin.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a mudança radical na política externa dos EUA em relação à Rússia coincide “em grande parte” com a visão de Moscou, em uma entrevista gravada na quarta-feira pela televisão estatal – ou seja, antes mesmo da discussão pública no Salão Oval entre Trump, Zelensky e o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, na sexta-feira (28/2).
Moscou e Washington iniciaram negociações, sem convidar a Ucrânia ou os europeus, para pôr fim à guerra. O presidente americano se recusa a considerar Moscou responsável pelo conflito, o que marca uma virada de 180º da posição americana sobre o assunto.
“Uma nova era de infâmia começou, (…) na qual devemos mais do que nunca defender a ordem internacional baseada em regras e a força da lei contra a lei do mais forte”, declarou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, no sábado.
Europa aborda dissuasão nuclear
Baerbock disse que era “urgente” que a Alemanha e a União Europeia relaxassem suas regras orçamentárias para liberar recursos adicionais para ajudar a Ucrânia e fortalecer suas próprias defesas.
“Ficou claro que o mundo livre precisa de um novo líder. Cabe a nós, europeus, assumir esse desafio”, havia dito a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, no dia anterior.
O presidente francês disse estar pronto para “abrir a discussão” sobre uma possível futura dissuasão nuclear europeia, após um pedido nesse sentido do futuro chanceler alemão, Friedrich Merz, que considerou necessário que a Europa se preparasse para “o pior cenário” da OTAN ser abandonada por Washington.
“Acredito que hoje é o momento de um despertar estratégico, porque em todos os países há uma perturbação, uma incerteza, sobre o apoio americano a longo prazo”, explicou Macron.