Em meio a um racha interno, o Partido Verde (PV) reelegeu no sábado o ex-deputado José Luiz Penna na presidência do seu diretório nacional. Alvo de críticas recentes de opositores por “falta de transparência” em decisões, Penna comanda a sigla há 26 anos e lidera a lista de dirigentes de maior longevidade das principais legendas nacionais, ao lado dos caciques como Valdemar Costa Neto (PL) e Gilberto Kassab (PSD). Para especialistas, a permanência dos mesmos dirigentes no posto pode dificultar a renovação de quadros.
Segundo reportagem de Rafaela Gama, do O Globo, após mais de 15 horas de reunião online na convenção anual da sigla, os integrantes do PV optaram no último final de semana pela recondução de Penna ao cargo. A chapa do presidente obteve maioria na composição da executiva nacional ao contabilizar 82 votos (61,65%), ante os 51 (38,35%) recebidos pela ala de oposição dentro do partido, liderada por Edson Duarte, ex-deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente do governo Temer.
No PV desde 1989, ano de sua fundação, Penna assumiu a presidência da legenda dez anos depois, em 1999. Sob a sigla, foi eleito vereador de São Paulo em 2008 e deputado federal pelo estado de 2015 a 2019. Reeleito sucessivamente para o comando do partido, Penna participou da articulação da federação Brasil da Esperança, firmada nas eleições de 2022, que reúne PV, PT e PCdoB.
O partido de Penna deverá assumir em 2025 a direção da federação, posição considerada estratégica pela direção do partido, após o encolhimento nas últimas eleições municipais. Em quatro anos, o PV passou de 47 prefeituras conquistadas para 14, uma queda de 70% no desempenho. Além disso, segundo a vice-presidente nacional Teresa Britto, a sigla enfrenta reduções progressivas da verba partidária.
Críticas internas
A distribuição desses recursos, juntamente aos valores do Fundo Eleitoral, levou ao racha interno que tem se perpetuado no partido. Isso porque, aos olhos de Duarte e de seu grupo, a repartição dos valores não tem sido “democrática” ou “transparente” e refletiria a concentração de poder em torno da figura do presidente.
— Toda atividade é concentrada nas mãos do presidente, que não presta contas dos seus atos. Há um gasto exagerado numa burocracia partidária federal pouco transparente, de um partido que não faz política, agenda ambiental, de diversidade ou cultural. O Partido Verde hoje não é mais, infelizmente, visto como aquele que interage e é porta-voz dos que defendem essas bandeiras — disse o ex-ministro ao GLOBO.
Ainda de acordo com Duarte, a interferência de Penna também ficou evidente durante o período de eleições internas do partido. Ele alega que não foi formada uma comissão eleitoral, tendo a coordenação do processo sido liderada pelo presidente que disputava a reeleição, além de ocorrência de situações de “ameaças e coação direcionada a lideranças de diretórios estaduais”.
Procurado para comentar as críticas, Penna não quis se manifestar. Ao GLOBO, integrantes do partido negaram a ocorrência de irregularidades nas eleições.
— Espero que todas as pessoas que participaram desse processo, muitos que são inclusive meus amigos, estejam dispostos a compor o novo diretório, mesmo aqueles que não foram eleitos. Eu gosto de fazer tudo com muita força de vontade, então, se depender de mim, juntos nós sairemos fortalecidos — diz Teresa Britto, vice-presidente da sigla.
Assim como Penna, outros seis caciques dos principais partidos do país estão no poder há mais de uma década. Quase empatado com o presidente do PV, Valdemar Costa Neto, está no comando do PL desde 2000, período em que liderou o partido em eras distintas, que incluem o escândalo do mensalão, a participação na base da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a recepção de Jair Bolsonaro como integrante da legenda, em 2021.
Em seguida, no ranking por tempo no comando das legendas, que considera apenas partidos com representação no Congresso, aparecem Gilberto Kassab, do PSD, e Marcos Pereira, do Republicanos, que ocupam as lideranças de suas respectivas siglas desde 2011.
Já Ciro Nogueira foi eleito presidente do PP, em 2013, e se mantém no cargo até hoje, enquanto Carlos Siqueira, que atua como presidente nacional do PSB, deve abdicar este ano da posição após onze anos no posto para dar lugar ao prefeito do Recife, João Campos. A longevidade no cargo também marca a atuação de Luciana Santos, atual ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações e presidente do PCdoB desde 2015.
Profissionalização
Para a cientista política Monalisa Torres, professora da Universidade Estadual do Ceará, a opção por manter as mesmas figuras no poder está diretamente relacionada à tentativa de partidos de “profissionalizar as suas funções e dividir as suas tarefas”:
— Esses nomes acumulam certas funções por tanto tempo, que vão ganhando tanto poder político, influência e habilidade para desempenhar esses papéis, que se tornam praticamente indispensáveis.
A tendência, no entanto, é vista como sinal de baixa renovação de quadros pela também cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Para a pesquisadora, a longevidade observada nesses casos garante que “vícios internos” do funcionamento dos partidos se perpetuem.
— Esse processo acaba tendo reflexo na diminuição da perspectiva de entrada de pessoas com potencial de ter visibilidade política. Isso, claro, reduz as chances de a gente ter até mudanças nos discursos dos partidos — avalia Santana.