“Não desestruturou o teto. Desestruturou a política fiscal”, afirma Meirelles ao Correio Braziliense, ele que liderou a equipe responsável pela elaboração da emenda constitucional que criou a regra, em 2016, ao ser questionado sobre a antecipação da modificação orquestrada pelo governo e aliados no cálculo no teto. A alteração deveria ocorrer apenas em 2026, e, combinada com a pedalada dos precatórios previstos neste ano, abriu mais de R$ 100 bilhões de espaço para gastos em ano eleitoral.
Para ele, a política fiscal foi desmoralizada e a inflação está mascarando a realidade, apesar de a equipe econômica e o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, insistirem no discurso de que o governo não abandonou o caminho da consolidação fiscal. “O teto de gastos continua com a mesma força e, agora, evidentemente, a política fiscal precisa respeitar o limite de gastos. Isso é fundamental”, afirma. Ele ressalta que a atual política fiscal é “expansionista” e o Banco Central está sozinho no combate à inflação. Por isso, a carestia persiste afetando o bolso da população.
Meirelles compara a situação atual à de 2015, quando a inflação elevada ajudou a colocar o país em recessão. No entender dele, a situação agora é “similar”. “Naquela época, a incerteza foi de tal magnitude que levou a uma recessão. Agora, estamos, simplesmente, em uma estagflação: crescimento muito baixo e inflação elevada”, destaca.
Na avaliação do ex-ministro da Fazenda, será um desastre para o país ter mais quatro anos de governo Bolsonaro. “O país iria sofrer muito, caso ocorresse isso. Seria um desastre. E o problema é que a história nos diz que tudo que está ruim tem espaço para piorar mais”, diz. “Nós temos que evitar que isso aconteça, sem dúvida”, complementa.
Segundo Meirelles, o Brasil, sim, tem jeito. Como exemplo, cita a gestão dele à frente do BC, do Ministério da Fazenda, e, recentemente, no estado de São Paulo, que é responsável por mais de um terço dos empregos criados no país. “Acredito, sim, que o Brasil pode voltar a crescer e pode voltar a crescer de forma robusta”, afirma.
O ex-candidato à Presidência em 2018 pelo MDB e atualmente filiado ao PSD acha que ainda há espaço para uma terceira via e a tendência, segundo ele, é de mudança do atual cenário polarizado, quando a campanha se intensificar e as eleições se aproximarem. “As pessoas estão preocupadas com a inflação, estão preocupadas com o emprego, estão preocupadas em comprar, em se alimentar e em conseguir sustentar o consumo de suas casas e das suas famílias. O foco na eleição, hoje, está muito baixo”, frisa.