O chamado 5G puro chegou ao Brasil há pouco mais de um ano com a promessa de internet ultraveloz, mas a tecnologia de quinta geração segue segundo Bruno Rosa, do O Globo, concentrada e com cobertura que frustra as expectativas de boa parte dos usuários.
Os investimentos das operadoras estão dentro do cronograma previsto pela Agência Nacional de Telecomunicações, mas os resultados ainda estão aquém das expectativas de quem contava migrar em caráter permanente para o 5G.
5G requer mais antenas
Segundo dados da Anatel, São Paulo, Rio e Distrito Federal concentram 54% das 13.500 antenas de 5G no país. Nas capitais, o 5G conta com uma antena para cada 50 mil habitantes. Embora esteja dentro da meta estipulada pelo governo, é essa proporção que traz a sensação de estar “fora da área de cobertura” ao passar de um bairro a outro ou simplesmente atravessar uma rua e enfrentar o “rebaixamento” para o 4G ou até 3G.
O número de torres instaladas no país para a tecnologia anterior, 4G, chega a 90.869. Isso significa proporção de uma antena para cada dez mil pessoas. A mesma correlação só será alcançada no 5G, de acordo com o edital, em 2025.
Para se ter uma ideia do tamanho do desafio, na China, a nova rede de quinta geração conta com uma antena para cada mil habitantes.
Segundo especialistas, a quinta geração opera em uma frequência que precisa de maior quantidade de antenas que as gerações anteriores. Estima-se que cada antena 5G custe de R$ 500 mil a R$ 600 mil.
Nos cálculos de Andre Gildin, da RKKG Consultoria, a quinta geração precisa de ao menos cinco vezes o número de antenas do 4G para ter a qualidade adequada em ambientes fechados e áreas externas. Nos grandes centros, a estimativa é que seria preciso incrementar em 20% a 25% o número de torres em relação ao total de antenas de 4G.
O que o 4G levou dois a três anos para conquistar, o 5G fez em um ano. A previsão é que, no ano que vem, já tenhamos uma antena 5G para cada 30 mil habitantes. Moisés Queiroz, conselheiro da Anatel
Moisés Queiroz, conselheiro da Anatel e presidente do Gaispi, grupo responsável por acompanhar a instalação da nova rede 5G, reforça que as teles estão implantando a rede acima do previsto no edital do leilão:
— O que o 4G levou dois a três anos para conquistar, o 5G fez em um ano. A previsão é que, no ano que vem, já tenhamos uma antena 5G para cada 30 mil habitantes. E devemos chegar a uma antena para dez mil habitantes em 2025.
Apenas 4,5% das linhas
A infraestrutura não é o único desafio para fazer a internet ultraveloz virar parte da rotina. Apesar de uma forte estratégia de marketing das operadoras, com ampliação do portfólio de produtos e redução no preço dos aparelhos, o país tem pouco mais de 11 milhões de linhas habilitadas para o 5G, o equivalente a 4,5% do total. Os celulares da quinta geração já somam mais de 60% dos modelos à venda.
O cenário macroeconômico também serve de freio ao apetite do consumidor. Os juros ainda estão em dois dígitos, o que limita o interesse por longos parcelamentos. Ainda assim, segundo o IDC, as vendas de aparelhos 5G cresceram 31% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, enquanto as vendas totais de smartphones recuaram 11%.
Os modelos de quinta geração respondem por 33,7% do total comercializado. Andréia Chopra, da IDC, estima que o preço médio do aparelho 5G vai cair cerca de 30% até o fim do ano.
O empresário Matheus Garcia tem uma pizzaria em Copacabana, na Zona Sul, e trabalha em uma construtora e diz não ter percebido grandes diferenças na rotina com 5G:
— Ainda é bem instável. Efetivamente, acho o ganho imperceptível. A sensação que tenho é que só mudaram o símbolo na tela do aparelho. Falta uma estrutura melhor para a rede, pois na Tijuca e em Vila Isabel percebo muita oscilação. Com o 5G, eu esperava algo revolucionário, mas segue basicamente igual.
Novas funcionalidades
Segundo especialistas, as teles estão com apetite moderado em relação à ampliação da nova rede no interior. A Anatel já liberou a implantação em 1.712 cidades, tornando a tecnologia disponível para quase 70% da população.
Estamos vendo os celulares ficando cada vez mais baratos e isso ajuda na troca do smartphone. Com mais demanda, haverá mais oferta de rede, diz Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis
As empresas, porém, lançaram suas redes de forma comercial em 224 locais. Até dezembro, o órgão regulador pretende chegar a um total de dois mil municípios aptos até dezembro.
Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis, que reúne empresas de telecomunicações, diz que as empresas investiram R$ 38,1 bilhões no ano passado em infraestrutura. Ele destaca que o edital previa que o 5G teria que estar disponível em locais com mais de 500 mil habitantes até 2025, o que já foi feito:
— Há um anseio da população por velocidade, mas a densidade leva tempo. Estamos vendo os celulares ficando cada vez mais baratos e isso ajuda na troca do smartphone. Com mais demanda, haverá mais oferta de rede.
Para Rodrigo Vidigal, diretor executivo de Vendas da Motorola, a migração mais intensa só vai ocorrer quando novas aplicações surgirem. O modelo mais barato da empresa passou de R$ 2 mil para R$ 1.299. Ele lembra que o 4G trouxe aplicativos inéditos de transporte e alimentação:
— Só a velocidade não é suficiente para acelerar a migração. Isso vai mudar quando houver senso de urgência, com iniciativas de latência zero (tempo de resposta) em carros inteligentes, entretenimento e games.