Cinco anos depois de pedir recuperação judicial, a incorporadora Viver encerrou o processo no último dia 2 de agosto, afirmou conforme matéria da Folha de S. Paulo, que 98% das dívidas já haviam sido quitadas e planeja agora empreendimentos para o público de renda média em São Paulo.
“A companhia entende que este é o momento de crescer e se fortalecer visando uma estrutura cada vez mais sólida, retomando os lançamentos imobiliários cautelosamente”, afirma o fato relevante divulgado pela companhia.
O diretor-executivo da empresa, Ricardo Piccinini, disse que a Viver planejava ter lançamentos ainda neste ano em bairros como Santana, Vila Mariana e Butantã.
A estratégia da empresa para o pós-recuperação é bem diferente daquela que a levou a esse processo. A Viver, que até 2011 se chamava Inpar, abriu seu capital em 2007 e expandiu a atuação por várias regiões do Brasil.
“A Viver fez mudança estratégica depois do IPO, saiu do alto padrão nos Jardins para fazer econômico de Porto Alegre ao Pará, o que se mostrou pouco rentável e culminou na recuperação judicial”, afirma Arthur Ruperes Marin, vice-presidente de operações da incorporadora desde 2019.
A expansão geográfica pelo país foi um caminho traçado por muitas incorporadoras que abriram capital nessa época -e não foram poucas as que tiveram problemas.
“Nós tivemos um grande volume de IPOs em 2005 e 2006 e, ao meu ver, as empresas foram todas superavaliadas. Elas acessaram volumes impressionantes de capital relativamente à sua capacidade de gestão”, diz João da Rocha Lima, coordenador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP.
Da noite para o dia, essas incorporadoras passaram a ter muito mais recursos financeiros, mas também a obrigação de investi-los. A atuação em novas regiões, contudo, exige uma adaptação grande da empresa, já que costumes, exigências e a capacidade de pagamento dos consumidores mudam.
A mudança de padrão das construções também é uma decisão arriscada, afirma Alberto Ajzental, professor e coordenador do curso de Negócios Imobiliários da FGV. “É mais difícil ir de produto para classe média para o popular do que o inverso, porque você tem que saber fazer barato”, avalia o professor.
Segundo Ricardo Piccinini, entrar em recuperação judicial apenas para resolver os problemas financeiros não seria uma boa escolha, por isso foi pensada a mudança na atuação da Viver.
Entre as estratégias, foi criada uma nova empresa, a Solv, especializada em recuperação de prédios que estão com as obras paradas.
“A Viver serviu de laboratório, construímos uma solução, e podemos ajudar quem tem esse problema”, afirma Arthur Marin. A Solv também recupera empreendimentos de outras empresas.
Além da parte de construção civil, a retomada das obras envolve lidar com processos judiciais e credores, e vender os apartamentos.
A empresa está recuperando obras em Recife e Goiânia, e agora vai trabalhar em empreendimentos parados em São Paulo e Santo André, na região metropolitana.
Diferentemente da nova fase da Viver, a Solv tem atuação nacional, restrita a regiões com mais de 1,5 milhão de habitantes. A preferência é por obras residenciais ou que possam ser convertidas em residências, e com pelo menos 40% de conclusão.
Segundo Marin, a empresa pretende trabalhar com cinco ou seis obras por ano.
Piccinini diz que o pedido de encerramento da recuperação judicial animou investidores. As ações da Viver tiveram um pico após o pedido, feito em meados de junho. O valor dos títulos da companhia, que estava em R$ 2,62, chegou a R$ 9,81.
OS CAMINHOS DA INCORPORADORA
1992
A incorporadora Inpar é fundada pelo empresário Alcides Parizotto, que 30 anos antes havia criado a rede Atacadão
2007
A Inpar realiza abertura de capital, com captação de R$ 756 milhões
2008
O fundo imobiliário americano Paladin se torna o principal acionista
2011
A Inpar muda de nome para Viver
2016
Em setembro, com cerca de R$ 1 bilhão em dívidas, a Viver pede recuperação judicial
2020
É criada a Solv, negócio da incorporadora focado na recuperação de obras habitacionais paradas
2021
Em 2.ago., a incorporadora comunica o encerramento da recuperação judicial, com 98% das dívidas aos credores pagas