A Espanha, o segundo destino mais popular do mundo depois da França, recebeu 94 milhões de visitantes estrangeiros no ano passado, principalmente durante o verão, em junho e julho, um recorde que foi aplaudido pelas autoridades, mas que mais uma vez destacou a superlotação do turismo, o que gera desconforto entre a população.
De acordo com uma primeira estimativa, a Espanha recebeu “cerca de 94 milhões de visitantes internacionais no ano passado, 10% a mais do que em 2023”, quando o número foi de 85,1 milhões, anunciou o ministro do Turismo, Jordi Hereu, em uma coletiva de imprensa.
O país “continua batendo recordes na recepção do turismo internacional” e confirma “sua liderança” a nível mundial, disse o ministro.
Hereu destacou o benefício do turismo para a economia do país, com os gastos dos visitantes em 2024 chegando a 126 bilhões de euros (valor em 790 bilhões de reais na cotação atual), um aumento de 16% em relação ao ano anterior.
Em seu último relatório, publicado em dezembro, a associação comercial Mesa del Turismo previu 95 milhões de visitantes e um nível de gastos de 200 bilhões de euros (valor em 1,2 trilhão de reais na cotação atual), incluindo turistas nacionais, até 2024.
A associação atribuiu essa tendência ao aumento das chegadas de Reino Unido, França e Alemanha, os principais países de origem dos turistas à Espanha, e à “dessazonalização” do turismo, ou seja, maior participação fora dos períodos de férias.
Manifestações contra
“A Espanha está se movendo em direção a um modelo de turismo de maior qualidade e mais diversificado, tanto em termos de temporada quanto de produtos e destinos”, disse Hereu, que priorizou a variação de um setor que ainda depende em grande parte do turismo de sol e praia.
O aumento do turismo, que responde por cerca de 13% da economia espanhola, é uma boa notícia para o país, que deve atingir um crescimento de 3,1% até 2024, de acordo com o Banco da Espanha, um nível significativamente mais alto do que na zona do euro, onde o crescimento deve chegar a 0,8%, de acordo com o Banco Central Europeu.
No entanto, a superlotação do turismo causa inquietação entre a população, especialmente em destinos populares como Barcelona, Málaga, Ilhas Baleares e Ilhas Canárias, onde as manifestações contra o excesso de turismo se multiplicaram nos últimos meses.
Os moradores reclamam da superlotação, do desaparecimento de lojas tradicionais, substituídas por lojas voltadas para turistas, mas também, e principalmente, do aumento dos aluguéis, já que muitos proprietários recorrem a aluguéis turísticos mais lucrativos.
Diante da indignação de seus habitantes, várias regiões e municípios anunciaram medidas nos últimos meses, como a Prefeitura de Barcelona, que se comprometeu a não renovar as licenças de cerca de 10.000 apartamentos turísticos, que vencem em novembro de 2028.
“Sobram Airbnbs”
“Em nosso país, há muitos Airbnbs e não há moradias suficientes”, reconheceu o primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez, na segunda-feira, e anunciou um novo plano para combater a crise da habitação, concentrando-se em parte nos aluguéis para turistas.
“O dever das administrações públicas, do governo espanhol em primeira pessoa, é priorizar o uso residencial dos apartamentos e impedir que o uso turístico e especulativo continue a se expandir de forma absolutamente descontrolada e justamente às custas dos moradores”, enfatizou Sánchez ao apresentar as medidas, várias das quais devem receber a aprovação do Parlamento.
O líder socialista busca aumentar a tributação dos aluguéis de férias, que serão tributados como atividades comerciais, e introduzir um imposto de até 100% sobre a compra de imóveis por cidadãos não residentes de fora da UE.
A última medida, inédita na Espanha, poderia afetar até 27.000 transações por ano, de acordo com Sánchez, que não deu mais detalhes sobre a data de sua possível aprovação.