Líder do governo Lula no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) defende em entrevista a Camila Turtelli, do jornal O Globo, a necessidade dos partidos da base cederem espaço para a entrada no governo de siglas do Centrão, como PP e Republicanos. Ele também evita exigir um percentual de adesão dos novos integrantes do Executivo nas votações na Câmara e no Senado, como chegou a fazer em outras ocasiões. No primeiro semestre, após enfrentar disputas apertadas em função da falta de apoio consolidado, o Planalto passou a dar mais acenos a legendas como o PP, que abriga o presidente da Câmara, Arthur Lira.
Há o risco de o PT abrir mão de pastas importantes para partidos do Centrão?
Os ministérios não são de nenhum partido, nem do PT ou do MDB. Quem comanda e quem dá diretriz é o presidente. Ele dispõe desses cargos da forma que lhe convier. Estamos sob a égide de um modelo de governabilidade fundado pela Constituição, o presidencialismo de coalizão. O povo brasileiro elegeu um presidente e uma maioria congressual, sobretudo na Câmara, mais conservadora. Então, é necessário, para conduzir o programa vencedor das eleições, fazer composição.
O Bolsa Família pode ficar sem a gestão do PT?
O programa é uma das marcas do governo. Esse debate nunca foi tratado, e o presidente já deixou claro qual é a posição dele, a expectativa dele.
O senhor já disse que o União deveria entregar 80% dos votos. PP e Republicanos devem fazer o mesmo?
O nosso desafio é sempre procurar ampliar a composição do governo. Eu não diria hoje, necessariamente, um percentual. O que eu sei dizer é que esses três partidos, tanto União quanto PP e Republicanos, entregaram para o governo votos decisivos nas reformas que nós fizemos até aqui.
Arthur Lira disse que Lula deveria ser mais radical e afastar ministros que não cumprem acordo. Concorda?
Eu não sei precisamente a que o presidente Arthur se referiu. Eu só posso dizer que a recomendação do presidente Lula — e isso eu acompanhei em reunião com todos os ministros e líderes do governo — é atender ao Congresso, conversar com os parlamentares e dar toda a atenção que é devida.
Como está o processo de tomada de decisões entre líderes e a Secretaria de Relações Institucionais?
A relação é direta. O ministro Alexandre Padilha, eu sou testemunha, tem se esforçado para dispor a sua agenda a conversas com os parlamentares. Na questão de emendas, o governo tem dado celeridade.
Lira também disse que o ministro fechava acordos, mas não eram cumpridos. O senhor acha que Padilha errou na articulação?
Não tenho notícia disso. Todos os acordos que eu testemunhei foram cumpridos. Um exemplo é a questão da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Nós tivemos uma reunião com parlamentares em que 90% dos encaminhamentos foram cumpridos logo em seguida.
A Câmara tem deixado MPs perderem validade para tratar de assuntos por projetos de lei. Isso não prejudica o governo?
Não entendo isso como uma medida de retaliação ao governo. Há uma divergência institucional sobre o rito das Medidas Provisórias pautado pela Câmara. Eu acho que é uma reivindicação legítima que tem de ser debatida na esfera constitucional. O governo foi pego no meio dessa história. Isso tem sido um desafio a mais para a articulação.
O governo vai trabalhar pela aprovação de lei orgânica das PMs, projeto dos agrotóxicos e marco temporal, pautas das bancadas ruralista e da bala?
A lei orgânica o governo está disposto a debater. Sobre os agrotóxicos, o governo quer discutir e construir. Se, por um lado, o governo tem uma posição firme em defesa da questão ambiental, e não quer nenhum liberou geral; por outro lado, há de se reconhecer que tem de ter uma modernização da legislação para o advento de novos produtos que não fazem mal às pessoas.
E o marco temporal das terras indígenas?
É a mesma questão. Não pode ser o texto que veio da Câmara. Esse texto aqui está em boas mãos, que são as da senadora Soraya Thronicke. Como está agora, não tem acordo, mas vamos buscar uma mediação.
O senhor se desfiliou da Rede após embate com Marina Silva. Como está a relação?
Eu nunca tive um embate com ela. Posso ter tido divergências específicas apenas. Vejo Marina como patrimônio da causa ambiental global.