quinta-feira 21 de novembro de 2024
A operação da Polícia Federal que apura um suposto plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) — Foto: Arte O Globo
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quarta-feira 20 de novembro de 2024 às 17:35h

Radicais seguem defendendo a execução de Lula e de Alexandre de Moraes nas redes sociais

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A banalização da violência no Brasil tem ganhados tons alarmantes, diz Sergio Denicoli, em artigo no Estadão. A pouca valorização da vida, diante da enorme quantidade de assassinatos de brasileiros, todos os dias, parece ter deixado muita gente insensível a algo que ultrapassou, há muito, os limites da razoabilidade e que avança para o ambiente político.

Esse sintoma de um País adoecido foi um dos pontos que corroborou para que militares articulassem um plano para assassinar um presidente eleito, seu vice e um ministro do STF. E é também o que leva uma ideia criminosa, que deveria chocar toda a nação, a ter apoio de uma parte minoritária, mas expressiva de internautas.

Ao analisarmos 132 mil publicações no X, feitas nas últimas 48 horas, sobre o plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, observamos que, apesar de 69% das publicações condenarem o plano de execução, 12% das manifestações demonstraram apoio direto ou simpatia à ideia de eliminar fisicamente figuras públicas, em nome de uma suposta “salvação nacional”.

Esses dados evidenciam como os limites do discurso democrático têm sido rompidos em determinados setores da sociedade. Muitos dos defensores e apologistas do chamado plano “Punhal Verde e Amarelo”, revelado pela operação Contragolpe, da Polícia Federal, justificam suas posições sob a alegação de que o governo Lula é ilegítimo, repetindo narrativas conspiratórias amplamente disseminadas em redes sociais e aplicativos de mensagens.

Há também muitas manifestações de ódio ao presidente e ao ministro Alexandre de Moraes. São perfis que acreditam que essas autoridades devem ser retiradas dos cargos que ocupam a qualquer preço.

Para esses, a democracia não entra na equação, pois não aceitam o contraditório. São radicais que se intitulam “de direita”, mas que, na verdade, mancham a imagem da direita legítima, que entende os preceitos conservadores em oposição aos progressistas, e que defende suas ideias dentro da arena democrática e respeitando as instituições.

Infelizmente, entre essas pessoas estão os militares identificados pela PF, que, pelas mensagens divulgadas, confundiram aloprados, que gritavam nas portas dos quartéis pedindo intervenção, com a maioria da população. Interpretaram erroneamente o barulho desses poucos como um sinal de apoio generalizado da população às suas ideias criminosas.

Esqueceram que foi justamente a maioria dos brasileiros que, após a chamada às urnas, escolheu o presidente, como ocorre desde o estabelecimento das eleições diretas.

Felizmente, também no meio militar os extremistas são uma minoria e não encontraram eco entre seus pares para colocar em prática uma operação que beira o surrealismo e que envergonharia as próprias instituições das quais fazem parte.

A questão que emerge é como a violência política se tornou uma ferramenta aceitável para um volume considerável de pessoas.

A narrativa de que eliminar opositores é uma “ação patriótica” foi construída ao longo de anos, alimentada por líderes que, se não incitam diretamente a violência, optam por silêncios cúmplices ou retóricas ambíguas que deixam margem para interpretações perigosas. Nas redes sociais, onde o anonimato e os algoritmos amplificam vozes extremistas, essas ideias encontram um terreno fértil, criando um ciclo vicioso de ódio e radicalização.

A democracia, com todas as suas imperfeições, continua sendo a única alternativa viável para a construção de um País mais justo e igualitário. O ato de votar é um direito conquistado com muita luta e não um capricho a ser colocado em xeque por quem deveria defender a Pátria, mas caiu na tentação de se inebriar pelo poder.

 

Opinião por Sergio Denicoli – Ele é autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

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