A imunização contra Covid-19 no Brasil entre os primeiros grupos prioritários veio acompanhada de muitos planos de quem está na espera para o dia seguinte da agulhada: festas, viagens e abraços nos avós. Mas calma.
De acordo com cientistas, nosso organismo pode levar quase dois meses para construir seu próprio escudo após o início da vacinação. E, vale lembrar, a pandemia continua e o número de novos contaminados só vai começar a cair quando muita gente estiver vacinada.
Segundo a Folha, as vacinas desencadeiam uma reação de defesa no organismo a partir, por exemplo, de um vírus inativado ou de um adenovírus geneticamente “vestido” de coronavírus (o chamado vetor). Esse processo fica na memória do nosso sistema imunológico que, ao encontrar, de fato, o vírus, estará preparado para barrar sua entrada nas células. Isso tudo leva um tempo.
“A resposta do organismo pode variar de acordo com faixa etária e outros aspectos individuais. Não sabemos quando se dá exatamente a imunidade de cada pessoa”, diz a epidemiologista Ethel Maciel, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).
No caso da Coronavac, o aprendizado do sistema imune ainda leva, aproximadamente, duas semanas após a aplicação da segunda dose.
Às contas: a enfermeira Mônica Calazans, por exemplo, recebeu a primeira dose da Coronavac em SP em 17 de janeiro -aquele domingo na qual se comemorou a aprovação dos primeiros imunizantes no país para uso emergencial (a Covishield, da farmacêutica AstraZeneca e da Universidade de Oxford, também teve aval).
A segunda dose de Calazans foi ministrada no dia 12 de fevereiro. Tecnicamente, considerando a média, proteção imune contra Covid-19, então, só depois de 26 de fevereiro.
No caso da Covishield, essa proteção contra o vírus começa em torno de 21 dias depois da primeira dose (a segunda dose tem um papel de prolongar a proteção adquirida). Essa vacina começou a ser aplicada dia 25 de janeiro no país.
Então, alguns meses após a vacina já dá para descartar as máscaras faciais e aglomerar?
Não. Nenhuma vacina do mundo garante proteção imune total. Enquanto o vírus estiver circulando, há possibilidade de doença inclusive entre os imunizados.
Sabemos que a Coronavac, por exemplo, reduz pela metade o risco de que os vacinados desenvolvam Covid-19. Isso é ótimo, mas ainda há possibilidade de se ficar doente (ainda que não com a forma grave).
Dados publicados neste mês no periódico científico The Lancet mostram que a Covishield reduz em 70% a possibilidade de desenvolvimento da Covid-19 em pessoas com menos de 55 anos. Novamente: ainda há risco de ficar doente.
E, mesmo sem desenvolver a doença, os vacinados ainda podem se contaminar e transmitir o novo coronavírus.
Como ainda há pouquíssimos vacinados no Brasil -menos de 3% da população até agora-, o risco de alguém que tomou a vacina encontrar o vírus e transmiti-lo (mesmo sem ficar doente) para quem ainda não esteja protegido é bem grande.
Por isso, mesmo quem já tenha tomado as duas doses da vacina contra Covid-19 tem de seguir todos os protocolos amplamente conhecidos para segurar a transmissão da doença: higienização das mãos, distanciamento social e máscara facial. Sem festinha.
Não há, ainda, nenhum estudo científico revisado e devidamente publicado sobre redução de transmissão do novo coronavírus entre vacinados pelas imunizações disponíveis no Brasil.
“A Pfizer reduz a carga viral em até quatro vezes e, por isso, poderia estar também reduzindo a transmissão do vírus. Mas ainda não temos essa certeza”, diz a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin (EUA). Vale lembrar: não temos a vacina da Pfizer no Brasil.
Para a microbiologista Natália Pasternak, as medidas de proteção devem ser relaxadas quando o número de casos, de hospitalizações e de mortes cair significativamente. “Vacina não é passaporte de imunidade, é uma ferramenta para chegar lá”, diz.
Por enquanto, os dias seguintes de quem tomou vacina contra Covid-19 têm de ser iguais ao dia anterior à imunização.