“Queremos estabilidade e não um impasse à espanhola”. A mensagem repetida pelo primeiro-ministro de Portugal, o socialista António Costa, às vésperas das eleições deste domingo (6) resume bem seu objetivo: aproveitar a vantagem e conseguir a maioria absoluta no parlamento.
“Tivemos quatro anos de estabilidade, e a Espanha teve quatro eleições em quatro anos, e isso nós não podemos ter no futuro”, enfatizou Costa em debates e comícios sempre que teve a oportunidade.
As referências do primeiro-ministro ao impasse na Espanha — onde a falta de acordo entre as maiores legendas de esquerda levou à convocação de novas eleições — pretendem combater o fantasma de uma voluptuosa abstenção de 44% no último pleito e arrancar votos suficientes para conseguir a maioria necessária para governar sem depender da formação de alianças com outros partidos.
A “geringonça”, como ficou conhece popularmente a aliança da esquerda portuguesa que levou o Partido Socialista ao poder em 2015, terminou seu mandato com final feliz. Mas, de maneira irônica, Costa anunciou meses atrás que a parceria “não dá para casamento” e espera agora recuperar o “celibato”.
Os portugueses terão a última palavra neste domingo. Os cidadãos poderão escolher entre 21 candidatos, embora, na prática, apenas seis sejam protagonistas no complexo tabuleiro político do país.
António Costa — Partido Socialista (PS)
Seus colaboradores dizem que o socialista tem uma extraordinária habilidade política para negociar e convencer seus oponentes. Filho de um ex-dirigente comunista e de uma jornalista, António Costa era bem conhecido entre a esquerda, o que, sem dúvida, facilitou a aliança com o Bloco e o Partido Comunista que o levou ao poder em 2015.
Formado em Direito, sua extensa trajetória política, sempre ligada ao PS, inclui cargos como ministro da Justiça e de Administração Interna, vice-presidente do Parlamento Europeu e prefeito de Lisboa, entre outros.
Após quatro anos de governo, Costa — ou melhor, o partido — aparece nas últimas pesquisas com 38% da preferência. Para convencer os indecisos, ele se apoia na visão de um país que impactou o mundo com contas saneadas e abraçou o compromisso da estabilidade política.
Líder da oposição conservadora, Rui Rio tenta se eleger
Rui Rio — Partido Social Demócrata (PSD, centro-direita)
Líder da oposição conservadora há um ano e meio, Rio corre o risco de se transformar no rosto do fracasso da direita, caso as estimativas das pesquisas se confirmem.
Além de vasta experiência no setor privado como economista, ele foi deputado e prefeito da cidade do Porto, o que o transformou em um peso pesado do partido no norte do país, mas afastado de Lisboa.
Rio tomou as rédeas do PSD em fevereiro de 2018, quando sucedeu Pedro Passos Coelho em um momento complicado para a legenda.
Sua liderança, com escassa presença midiática e bastante tímida na hora de desafiar Costa, levantou vozes críticas dentro do PSD.
O social-democrata superou uma moção de confiança apenas um ano depois de assumir as rédeas do PSD, mas uma parcela do partido segue fazendo contas para antecipar sua saída caso não vire o jogo nas urnas.
Marxista Catarina Martins tenta consolidar o Bloco de Esquerda na liderança
Catarina Martins — Bloco de Esquerda (BE, marxista)
Martins lidera um dos partidos que permitiu que Costa governasse. Agora, a legenda espera evitar que os socialistas consigam a maioria absoluta para que o Bloco mantenha poder de decisão durante a próxima legislatura.
Linguista e com experiência como atriz, ela fez sua estreia como deputada em 2009 e, apenas três anos depois, já liderava o partido. Nas eleições passadas, obteve o melhor resultado da história da legenda, que se tornou a terceira força política do país, com mais de 10% dos votos.
Martins apontou Costa como seu principal rival no pleito de domingo e se mostrou dura com o socialista, embora não tenha fechado a porta para futuros entendimentos, desde que com condições.
Essa é a primeira eleição de Assunção Cristas ao cargo de premiê
Assunção Cristas — CDS-PP (democratas-cristã).
Em sua primeira tentativa de virar primeira-ministra, Cristas (Luanda, 1974) luta contra um desastre da direita antecipado pelas enquetes.
Jurista, ela foi ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território com Pedro Passos Coelho, quando o PSD governou em coalizão com o CDS.
Em 2016, foi a primeira mulher a liderar o partido mais à direita do plenário português. Desde então, tentou aproveitar as baixas perspectivas para o PSD para aumentar a projeção do CDS. Sob seu comando, o partido apresentou duas fracassadas moções de censura contra Costa.
O candidato ecologista, Jerônimo de Souza
Jerônimo de Sousa — CDU, comunista e ecologista
Com quatro eleições legislativas nas costas, De Sousa (Loures, 1947) é o candidato mais veterano, líder da coalizão que uniu o Partido Comunista Português (PCP) e Os Verdes, legenda que perdeu fôlego nas urnas mas foi chave para permitir que Costa governasse.
Antes de se dedicar à política, de Sousa trabalhou em uma fábrica metalúrgica e se filiou ao PCP após a Revolução dos Cravos.
Em 2004, chegou à secretaria geral do partido e, em 2015, deu uma virada na posição do PCP e pactuou com os socialistas. Uma decisão da qual Sousa diz não se arrepender, embora, alerte que a conjuntura que permitiu aquele acordo não mais existe.
O líder do Partido Pessoas, Animais e Natureza, André Silva
André Silva — PAN, ambientalista
Engenheiro civil de formação, Silva lidera o Partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN) desde 2014, sendo que, no ano seguinte, foi eleito o primeiro deputado do grupo.
Silva afirma que o PAN não se encaixa na tradicional classificação entre esquerda e direita, embora no governo passado tenha se alinhado mais com posições progressistas e se unido aos esforços para acabar com o uso de animais selvagens em circos ou aprovar multas por lançar bitucas nas ruas.
As pesquisas indicam um aumento de votos para Silva, especialmente depois que o partido elegeu um eurodeputado em maio, o que projetaria o PAN como possível aliado de Costa caso precise de apoios para governar.