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terça-feira 10 de maio de 2022 às 06:27h

Quem são os candidatos de partidos ‘nanicos’ na disputa à presidência

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Entre os 12 pré-candidatos das eleições presidenciais de 2022, quatro são aqueles considerados nanicos, com siglas sem representação no Congresso e que acabam sem pontuar —ou às vezes até constar— nas pesquisas de intenção de votos. Em 2018, foram apenas 3 entre 13. Os números mais recentes não chegam nem perto do registrado em 1989, quando houve a primeira disputa pela Presidência da República após a redemocratização: metade dos 22 candidatos pertencia a siglas pequenas.

No período de 33 anos, houve nanicos que se tornaram antológicos, como Levy Fidelix, do PRTB. Embora tenha concorrido ao Planalto apenas duas vezes, participou de 12 disputas eleitorais em 24 anos, entre 1996 e 2020, quando concorreu à prefeitura de São Paulo pela última vez. Fidelix morreu em 2021, sem nunca ter sido eleito ou sequer atingido 1% dos votos.

Enéas Carneiro, do extinto Prona, foi mais bem-sucedido. O político, falecido em 2007, concorreu três vezes à presidência. Embora também nunca tenha sido eleito, em 1998 chegou a 7% dos votos, em terceiro lugar.

Neste ano, há um veterano entre nanicos. José Maria Eymael (DC) disputa a presidência pela sexta vez —um recorde entre os participantes atuais, ao lado do ex-presidente Lula (PT). Diferente do petista, no entanto, o democrata cristão nunca chegou a obter 1% dos votos. É dele o título de maior perdedor de eleições presidenciais desde a redemocratização: se não surpreender esse ano, somará seis derrotas.

Quando se fala de nanicos, há duas dimensões distintas. Primeiro, o partido que não consegue eleger ninguém e ele se torna fisiológico ou sigla de aluguel. Geralmente tem uma figura que o representa e fica lá, se promovendo. Do outro lado, existe o nanico que congrega figuras políticas com uma convicção ideológica tão forte que o partido acaba pequeno porque são de difícil diálogo, difícil convergência. Ele não é fisiológico, está ali para participar do processo democrático. Mesmo sem vencer, quer colocar suas convicções. São dois horizontes diferentes que formam esses partidos pequenos no Brasil hoje.Rodrigo Prando, professor de Ciência Política do Mackenzie

Na eleição deste ano, os perfis são variados, mas ainda pouco representativos. Entre os atuais pré-candidatos, só três são mulheres (duas delas de partidos nanicos) e apenas dois são negros (ambos também nessa lista). Se, em 2018, 7 das 13 chapas tinham presença feminina, para este ano só MDB, PCB e PSTU lançaram pré-candidatas e ninguém indicou nome feminino a vice.

O PCB (Partido Comunista do Brasil) volta a ter candidatura própria com a economista Sofia Manzano, que já disputou em 2014, mas como vice, e acabou com 0,05% dos votos. Já o PSTU voltou a indicar a cientista social Vera Lúcia, que concorreu à presidência pelo partido em 2018, mas também não conseguiu atingir 1%. Ao longo de 30 anos, ela já disputou nove eleições para cinco cargos diferentes e nunca foi eleita.

Na lista dos nanicos, há ainda partido e candidato estreantes. A UP (Unidade Popular) participa neste ano da sua primeira disputa presidencial, com Leonardo Péricles, que também nunca se lançou à disputa. Formalizada em 2019, a sigla só concorreu às eleições municipais de 2020, quando não conseguiu eleger nenhum prefeito ou vereador.

Conheça um pouco mais sobre cada um dos nanicos deste ano:

José Maria Eymael (DC)

Aos 82 anos, José Maria Eymael irá se candidatar à Presidência da República pela sexta vez. Gaúcho de Porto Alegre, foi deputado federal por São Paulo por dois mandatos (1986 a 1994), participou da Constituinte de 1988 e é o principal nome da democracia cristã no Brasil hoje.

Apesar do alto número de disputas, ele nunca atingiu 1% dos votos em eleições presidenciais. Seu melhor desempenho foi em 1998, com 0,2% dos votos válidos (9º entre os 12 candidatos).

Eymael não se diz nem de direita nem de esquerda. Porém, ao longo dos 60 anos de participação política, filiou-se tradicionalmente a partidos de direita. Como pauta principal, diz que pretende promover a democracia cristã no país. “Quem é que pode derrotar o Lula? Só a democracia cristã”, disse em entrevista ao UOL.

Leonardo Péricles (UP)

Formalizada em 2019, a UP participará pela primeira disputa à presidência da República com Leonardo Péricles, 40, líder de movimento social e presidente nacional do partido.

Técnico em eletrônica e mecânico de manutenção de máquinas, Péricles é o único homem negro na disputa, que reúne, em geral, homens brancos, com boa condição financeira, e trajetória na política tradicional.

Apoiador do socialismo, Péricles defende uma Constituinte formada por trabalhadores, “a maioria do povo”.

Entre suas propostas, também está revogar o teto de gastos e as reformas trabalhista e previdenciária, além de reestatizar empresas que foram privatizadas, taxar fortunas e viabilizar uma reforma urbana em prol da moradia —sua bandeira nos movimentos. Uma de suas propostas é a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas semanais, sem perda salarial.

Sofia Manzano (PCB)

Esta é a quarta vez desde a redemocratização que o centenário PCB aponta candidato próprio à presidência. A economista paulistana Sofia Manzano, 50, foi a escolhida para encarar o pleito. É a primeira vez que ela se lança a um cargo majoritário. Em 2014, compôs a chapa de Mauro Iazi (PCB) como vice, mas acabou em décimo lugar, com 0,05% dos votos, à frente apenas do PCO.

Manzano classifica como “um erro” qualquer tipo de aliança de partidos de esquerda com a direita. “Todas essas possíveis costuras, a conversa com o MDB, essa procura de coalizão que chamo de centro-direita, estão muito mais voltadas a reproduzir uma relação de classe mais rebaixada ainda do que era em 2003 [quando Lula assumiu].”

Vera Lúcia (PSTU)

Única mulher negra a concorrer na disputa à presidência neste ano, Vera Lúcia (PSTU) defende “reverter a lógica” do capitalismo, expropriar a riqueza dos bilionários e revogar as reformas trabalhista e previdenciária.

Aos 54 anos, ela disputa a segunda eleição presidencial pelo partido que ajudou a fundar. Pernambucana de Inajá, Vera cresceu em Sergipe, onde se formou em Ciências Sociais pela universidade federal e desenvolveu carreira política.

Filiada ao PT entre 1992 e 1993, foi expulsa e se tornou grande crítica do partido. Em 1994, participou da fundação do PSTU, sigla pela qual se candidatou quatro vezes à prefeitura de Aracaju, duas à Câmara por Sergipe, uma ao governo sergipano e uma à prefeitura de São Paulo —além da presidência, em 2018, quando acabou no décimo lugar, com 0,05% dos votos.

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