Há exatos 49 anos, em 6 de dezembro de 1969, morria com 89 anos João Cândido, um dos líderes da Revolta da Chibata, também chamado de Almirante Negro.
Ele liderou o movimento que denunciou o uso sistemático da violência dentro da Marinha. Um período em que os marinheiros brasileiros eram punidos com castigos físicos com 25 chicotadas.
História
João Cândido Felisberto, também conhecido como “Almirante negro”. Nascido em Encruzilhada do Sul no Rio de Janeiro em 24 de junho de 1880, ele foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata.
O uso da chibata como castigo na Marinha brasileira já havia sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, o decreto número 3, de 16 de Novembro de 1889, assinado pelo então presidente marechal Deodoro da Fonseca. Todavia, o castigo cruel continuava de fato a ser aplicado, a critério dos oficiais da Marinha de Guerra do Brasil. Num contingente de 90% de negros e mulatos, centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata, como no tempo da escravidão. Entre os marinheiros, insatisfeitos com os baixos soldos, com a má alimentação e, principalmente, com os degradantes castigos corporais, crescia o clima de tensão.
Mas foi só em 22 de novembro de 1910, que João Cândido, ao assumir, por indicação dos demais líderes, o comando geral de toda a esquadra revoltada, controlou um motim, faz cessar as mortes, e envia radiogramas pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra brasileira.
Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro. Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao Presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam: “Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira“.
A rebelião terminou com o compromisso do governo federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, dia 27, o governo promulgou em 28 de novembro um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco, o que era um nítida quebra de palavra, uma traição do texto da lei de anistia aprovada no dia 25 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme publicação no diário oficial de 26 de Novembro, levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira Leite.
Discriminado e perseguido pela Marinha até o final da sua vida, recolheu-se no município de São João de Meriti, onde aproximou-se da Igreja Metodista. Passou mal em casa e foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na capital do Rio de Janeiro, onde morreu de câncer, pobre e esquecido, a 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos de idade.