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Quem eram os “antipapas” que desafiavam a Igreja na Idade Média

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A Igreja Católica Apostólica Romana já teve 266 papas. De acordo com a tradição, o primeiro líder da igreja foi o apóstolo Pedro, no primeiro século. Os sumos pontífices foram eleitos pelos cardeais da Igreja, e tem um cargo vitalício. Nos últimos 2.000 anos entre Pedro e papa atual, Francisco, algumas pessoas discordaram dos cardeais e dos papas eleitos de forma legítima. Na verdade, de acordo com reportagem de  Eduardo Lima, da revista Super, várias pessoas.

Durante a Idade Média, cerca de 40 pessoas questionaram a autoridade do papa e reivindicaram o título de bispo de Roma para elas. Os antipapas, como ficaram conhecidos, eram normalmente apoiados por facções da Igreja ou líderes seculares para ocupar o posto supremo do catolicismo. Em alguns poucos casos, não há consenso sobre quem era o papa ou o antipapa, e os registros dessas eleições são incompletos ou enviesados.

Esses antipapas não eram, em sua maioria, hereges que queriam mudar as crenças da Igreja. Muitos deles eram eleitos por cardeais da Igreja e faziam parte do alto clero. Suas brigas eram tanto políticas quanto teológicas: muitas vezes, esses assuntos estavam intrinsecamente conectados. A seguir, entenda quem foram os antipapas – e porque não temos mais desses hoje em dia.

Quem foram os antipapas?

O primeiro antipapa provavelmente foi Hipólito de Roma, que hoje é considerado um santo da Igreja Católica e um dos mais importantes teólogos dos séculos 2 e 3 d.C. De acordo com a tradição religiosa, ele era o líder de um grupo separatista contra o papa Calisto I, que estava, na visão de Hipólito, afrouxando a doutrina da penitência (os atos que um fiel católico oferece a Deus para provar o arrependimento pelos pecados).

Hipólito se reconciliou com a Igreja antes de sua morte, no ano de 235 d.C, durante o papado de Ponciano. Logo depois de fazer as pazes com o establishment cristão (que na época não era nada establishment, já que os fiéis ainda eram perseguidos pelo Império Romano), ele morreu como mártir. Não havia muito glamour entre esses primeiros papas e antipapas: Ponciano e Hipólito foram exilados para trabalhar nas minas romanas na ilha de Sardenha.

Assim que a Igreja Católica foi se estabelecendo como força política e religião oficial de Roma, os antipapas começaram a se tornar mais presentes. Mas essa mistura de Império e Igreja não seria sem atrito: o momento com mais antipapas, entre os séculos 11 e 12, foi marcado por disputas entre os imperadores romanos e os pontífices católicos. Os governantes seculares frequentemente impunham seus indicados, para favorecer seus interesses. Os papas revidavam e apoiavam anti-reis para tentar derrubar os líderes romanos.

Em 1378, a Igreja passou pelo Grande Cisma do Ocidente, uma crise que se estendeu até 1417. No século 14, a residência papal saiu de Roma e foi para Avinhão, na região da França, por causa da pressão do rei francês Filipe, o Belo (deve ser bom ser lembrado assim nos anais da história). Quando o papa Gregório XI voltou a Roma, um novo pontífice foi eleito: Urbano VI.

Urbano desagradou parte dos cardeais católicos por ser autoritário demais. Um novo conclave (cerimônia de eleição dos papas) foi organizado, elegendo Clemente VII, que foi se estabelecer na França. Tanto o papa em Roma quanto o antipapa em Avinhão alegavam que o poder sobre a Igreja era deles. Em 1409, também apareceu outro antipapa em Pisa. Toda essa treta só foi se resolver em 1417, depois do Concílio de Constança.

Há casos em que os registros históricos são ambíguos sobre quem era o verdadeiro papa e quem era o impostor. O papa Leão VIII, por exemplo, disputou o papado com João XII entre o fim de 963 e o começo de 964. Benedito V, que sucedeu João XII, ficou pouco tempo como papa, entre maio e junho de 964. Dessa vez, a oposição de Leão VIII deu certo, e ele deixou de ser um antipapa e virou um pontífice legítimo, reconhecido pela Igreja Católica.

O último antipapa foi Amadeu VIII, o duque de Saboia. O nome que ele escolheu para seu antipapado foi Félix V. Ele foi eleito por alguns membros do Concílio de Basileia, em 1439, que declararam que o papa Eugênio IV era um herege depois de mover a reunião para a cidade italiana de Ferrara. No fim, o Concílio ainda passou por uma terceira cidade, Florença. Félix continuou desafiando os papas até 1449, quando se reconciliou com a Igreja e virou um cardeal.

Antipapas hoje em dia?

Uma parte importante de ser um antipapa é que você realmente tem poder para bater de frente com o bispo de Roma oficial. A divisão da Igreja em diferentes tendências e grupos separatistas favorecia a aparição dessas figuras, que muitas vezes atuavam como papas para um grupo reduzido de pessoas, ministrando cerimônias religiosas e assumindo a autoridade sobre a religião cristã.

Depois da Contrarreforma, movimento católico no século 16 para combater a Reforma Protestante, antipapas com relevância deixaram de existir. Agora, quem questiona a legitimidade de um papa católico pode simplesmente se juntar a uma denominação protestante, ou inaugurar sua própria vertente cristã.

Mesmo assim, alguns mini-antipapas continuam aparecendo para questionar a autoridade da Igreja Católica de dentro, mas sem o apoio de nenhum cardeal, como os antipapas do passado. O último antipapa a aparecer foi o filipino Rogelio Martinez, que escolheu para si o nome de Michel II e foi eleito em um conclave extraoficial na Áustria em 2023.

Martinez segue o primeiro (anti)papa Michel, o norte-americano David Bawden, que afirmava que a Igreja Católica tinha apostatado (deixado a fé para trás) depois do Concílio Vaticano II, na década de 1960, que ajudou a atualizar a Igreja abandonamdo a missa em latim e outras tradições litúrgicas.

Esse movimento de católicos independentes, junto de outros grupos como a Igreja Palmariana e os sedevacantistas, consideram o papa Francisco um impostor e defendem a existência de outros papas, esses, sim, verdadeiros. Tem papa e antipapa para todos os gostos.

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