O futuro de dois cidadãos americanos detidos na Rússia pode depender da libertação de um traficante de armas russo condenado, apelidado de “Mercador da Morte” por seus acusadores, cuja história de vida já inspirou um filme de Hollywood.
Viktor Bout, um ex-oficial militar soviético, está atualmente cumprindo uma sentença de 25 anos de prisão nos Estados Unidos sob a acusação de conspirar para matar americanos, adquirir e exportar mísseis antiaéreos e fornecer apoio material a uma organização terrorista. Bout argumenta que é inocente.
O Kremlin há muito pede a libertação de Bout, criticando sua sentença em 2012 como “infundada e tendenciosa”.
A CNN informou na quarta-feira (26) que o governo Biden ofereceu Bout em uma possível troca pela estrela de basquete Brittney Griner e pelo ex-fuzileiro naval dos EUA Paul Whelan, segundo fontes.
No mesmo dia, Griner testemunhou no tribunal russo como parte de seu julgamento por acusações de drogas após sua prisão em fevereiro em um aeroporto de Moscou. Whelan foi preso por supostas acusações de espionagem em 2018 e sentenciado a 16 anos de prisão em um julgamento que autoridades norte-americanas consideraram injusto.
Suas famílias pediram à Casa Branca que garanta suas libertações, inclusive por meio de troca de prisioneiros, se necessário. Agora, no centro dessa oferta está Bout, um homem que fugiu de mandados de prisão internacionais e congelamento de bens por anos.
O empresário russo, que fala seis idiomas, foi preso em uma operação policial em 2008 liderada por agentes antidrogas dos EUA na Tailândia se passando por Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. Bout acabou sendo extraditado para os EUA em 2010 após um longo processo judicial.
“Viktor Bout tem sido o inimigo número um do tráfico internacional de armas por muitos anos, armando alguns dos conflitos mais violentos ao redor do mundo”, disse Preet Bharara, advogado dos EUA em Manhattan quando Bout foi sentenciado em Nova York em 2012.
“Ele finalmente foi levado à justiça em um tribunal americano por fornecer um número impressionante de armas de nível militar para uma organização terrorista comprometida em matar americanos”.
O julgamento aprofundou o papel de Bout no fornecimento de armas às Farc. Os EUA disseram que as armas tinham como objetivo matar cidadãos americanos.
Mas a história de Bout no comércio de armas se estende muito além. Ele é acusado de montar uma frota de aviões de carga para transportar armas de nível militar para zonas de conflito em todo o mundo desde a década de 1990, alimentando conflitos sangrentos da Libéria a Serra Leoa e Afeganistão.
Alegações de atividades na Libéria levaram as autoridades americanas a congelar seus bens em 2004 e bloquearam quaisquer transações americanas.
Bout afirma repetidamente que operava negócios legítimos e agia como um mero provedor de logística. Acredita-se que ele esteja na casa dos 50 anos, com sua idade em dúvida por causa de passaportes e documentos diferentes.
“Seus primeiros dias são um mistério”, disse à CNN em 2010 Douglas Farah, membro do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia e co-autor de um livro sobre Bout.
Farah disse à revista Mother Jones em 2007 que, de acordo com seus múltiplos passaportes, Bout nasceu em 1967 no Tajiquistão, filho de uma contadora e de um mecânico. Ele disse que Bout se formou no Instituto Militar de Línguas Estrangeiras, uma escola bem conhecida para a inteligência militar russa.
“Ele era um oficial soviético, provavelmente um tenente, que simplesmente viu as oportunidades apresentadas após o colapso da URSS. Bout se aproveitou das aeronaves abandonadas nas pistas de Moscou, incapazes de voar por causa da falta de dinheiro para combustível ou manutenção; enormes estoques de armas; e a crescente demanda por essas armas de clientes soviéticos tradicionais e grupos armados emergentes da África às Filipinas”, disse Farah à revista.
Bout disse que trabalhou como oficial militar em Moçambique. Outros disseram que na verdade era Angola, onde a Rússia tinha uma grande presença militar na época, disse Farah à CNN. Ele se tornou conhecido quando as Nações Unidas começaram a investigá-lo no início da década de 1990, com ajuda dos EUA.
Acredita-se que Bout – que supostamente usou nomes como “Victor Anatoliyevich Bout”, “Victor But”, “Viktor Butt”, “Viktor Bulakin” e “Vadim Markovich Aminov” – tenha sido a inspiração para o personagem traficante de armas. interpretado por Nicolas Cage no filme de 2005 “O Senhor das Armas”.
Em 2002, Jill Dougherty, da CNN, se encontrou com Bout em Moscou, e o questionou sobre as diversas alegações contra ele, como venda de armas para Talibã e Al-Qaeda e negócios com rebeldes da África. Bout negou todas as alegações.
“É uma alegação falsa e é uma mentira”, disse ele. “Não tenho medo. Eu não fiz nada na minha vida que eu deveria ter medo.”