A política existe para viabilizar a governança e para garantir estabilidade do governo. No Brasil, no entanto, a política existe para garantir o poder, não para viabilizar o governo.
Política no Brasil é tudo junto e misturado e de tal maneira que ninguém sabe quem é quem no processo eleitoral. A coisa é tão confusa que o PP, o PSD e o PR, que na eleição presidencial que passou apoiou o candidato do PSDB, Geraldo Alkmin, na Bahia apoiaram o candidato do PT, Rui Costa. E o PDT, que nacionalmente apoiou Ciro Gomes, na Bahia também apoiou o candidato do PT e isso se repete em vários estados.
E assim fica tudo junto e misturado e na cabeça do eleitor paira uma dúvida: mas, e agora após as eleições, no Congresso Nacional, quem vai apoiar quem? É por causa disso que, após as eleições, o presidente eleito Jair Bolsonaro enfrenta tantos problemas.
No Brasil, partido político não tem programa de governo, tem apenas projeto de poder e, de tal maneira, que o candidato cujo partido defendia as teses de esquerda resolveu defender as propostas do Centrão para assim ter apoio de um leque de partidos liberais, e aquele outro cujo partido era favorável ao fim do imposto sindical resolveu ficar contra pelo mesmo motivo.
Em outros países é diferente. Nos Estados Unidos, por exemplo, há quase 200 anos se sabe que o Partido Democrata defende mais gastos sociais e o aumento da carga tributária e que o Partido Republicano quer reduzir a carga tributária e acabar com programas sociais. Simples assim. No Brasil é diferente, todos os partidos aumentam a carga tributária e ninguém se atreve a mexer em programas sociais. Além disso, ao sul do Equador, os interesses dos grupos de pressão e os interesses dos partidos políticos estão tudo junto e misturado.
Grupos de pressão, ou grupos de interesse, existem em todo o mundo e defendem que seus interesses privados sejam adotados ou assimilados pelo estado. A Fiesp, a CUT, o MST e até a CNBB são grupos de pressão legítimos e têm todo o direito de defender os interesses particulares dos seus associados.
Um partido político é diferente, ele não pode defender apenas os interesses de um grupo e necessita ter um programa de governo que busque atender a todos, por isso não faz sentido ter um partido das mulheres ou um partido dos aposentados.
Mas no Brasil é tudo junto e misturado, por isso um grupo de pressão como o MST passa a ser braço direito de um partido e outro, como a Fiesp, faz do seu presidente o candidato de um partido. Enquanto a política for feita dessa maneira, com dezenas de pequenas agremiações políticas que nada representam, com partidos que não definem claramente suas propostas e com políticos que não têm a governabilidade como meta, mas apenas a conquista e manutenção do poder, o Brasil vai continuar sendo essa geleia geral – tudo junto e misturado –, um país instável controlado por um Congresso Nacional cujo objetivo é apenas o poder pelo poder.
Infelizmente, o próximo presidente será escolhido nesse contexto e queira Deus que consiga apoio para governar sem que seja necessário vender a alma.
Por Armando Avena