A aliança entre militantes conservadores que serviu de base para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição de 2018 está ruindo no início da corrida pela reeleição. Com um mandato marcado pelo esforço para se livrar de uma ameaça de impeachment, Bolsonaro se viu obrigado a cortar laços com os aliados mais radicais, empecilhos para o acordo com o Centrão, que devolveu a estabilidade ao governo. As informações são do portal Metrópoles.
Alguns dos excluídos, sob a liderança do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, buscam agora uma revanche – mas ficariam felizes se, num acordo, ganhassem algum espaço nos planos eleitorais do presidente.
Esse acordo, que custa a bolsonaristas “raiz” como Weintraub, o ex-chanceler Ernesto Araújo e a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) a exclusão do xadrez eleitoral do presidente, custa bem mais ao país na opinião do cientista político Sérgio Praça, professor e pesquisador na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Bolsonaro tinha todos os motivos para ser destituído do cargo. Terminar o mandato ileso é uma vitória, sim, mas a um custo alto para o país, que fica claro especialmente no ‘orçamento secreto’”, afirma Praça, referindo-se aos R$ 16 bilhões do caixa federal que foram escoados para emendas parlamentares com pouca transparência e que geram gastos não necessariamente ancorados em necessidades planejadas via políticas públicas.
No ambiente político-eleitoral, por enquanto, não há trégua à vista, e a militância que se uniu em torno de Bolsonaro há alguns anos, agora, se divide em cantos opostos do ringue em busca de aprovação dos eleitores. Veja quem é quem nessa treta da extrema direita brasileira:
O movimento de bolsonaristas raiz que não acham Bolsonaro radical o suficiente na Presidência tem representantes bem extremistas nas redes, mas encontrou como porta-vozes dois ex-ministros que tentam poupar o presidente de críticas diretas, enquanto detonam seu governo.
Fora do país desde junho de 2020, quando seguiu às pressas para os EUA e assumiu um cargo no Banco Mundial por indicação do Brasil, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub é o protagonista da tentativa de rebelião. Junto ao irmão, o ex-assessor palaciano Arthur, tenta viabilizar uma candidatura ao governo de São Paulo à revelia dos planos de Bolsonaro e tem atacado o Centrão e outros inimigos desde que voltou ao Brasil, na semana passada, e iniciou um périplo por cidades paulistas e por lives na internet.
Cobrado a recuar e dialogar para não desunir a direita, disse que tenta falar com Bolsonaro há mais de um ano, mas não é atendido.
O fiel escudeiro dos Weintraubs nas críticas a uma desradicalização do governo Bolsonaro tem sido o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que foi demitido em março do ano passado e nunca escondeu a mágoa. Já chamou o governo de “sem alma e sem ideal”, já atacou seu sucessor, Carlos França, e agora acusa os partidos do Centrão de forçarem uma suposta entrega do Brasil para a China.
Antes de virar o que o ainda bolsonarista Mario Frias chamou de “oposição sonsa”, Araújo sonhava disputar uma vaga no Senado por São Paulo ou pelo Distrito Federal com a bênção do ex-chefe – mas ela nunca veio.
Célebre na direita desde que ajudou a redigir o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a jurista Janaína Paschoal se identificou com o bolsonarismo desde o início e quase foi candidata a vice-presidente na chapa de Bolsonaro (mas não queria se mudar de SP).
Eleita deputada estadual com votação recorde, ela ofereceu uma espécie de apoio crítico ao presidente ao longo desses três anos, o que não foi considerado suficiente. “Muda de comportamento quando lhe convém“, provocou, recentemente, o vereador Carlos Bolsonaro.
Para 2022, decidiu que quer ser senadora, mas está batendo com a cara na porta. Tentou unir os radicais renegados em uma costura política pelo Twitter, mas foi chamada de interesseira pelos Weintraubs, desdenhada por Ricardo Salles e agora vê Bolsonaro indicando que quer ver sua ministra da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, como candidata ao Senado por São Paulo em sua chapa preferida.
O ex-ministro do Meio Ambiente e a liderança religiosa mais próxima ao presidente da República também estão indignados com o espaço dado ao Centrão no governo, mas têm atuado para tentar amenizar o clima e justificar as escolhas do presidente. Eles andam juntos aos radicais revoltosos, mas são a esperança de uma solução mais ou menos pacífica para o confronto.
O deputado federal e filho 02 do presidente e o secretário especial de Cultura do governo federal foram os responsáveis por levar a batalha para o campo aberto ao criticar claramente a campanha “difamatória” dos Weintraubs. Eduardo disse que cansou de “engolir sapos” enquanto esperava a dupla “se corrigir”. Antes, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, já havia partido para cima do guru dos extremistas, Olavo de Carvalho, e do jornalista foragido nos EUA Allan dos Santos.
Já o ministro das Comunicações está atuando no flanco jurídico e processando Ernesto Araújo por calúnia e difamação por ter sido acusado de entregar o Brasil para os chineses via contratos do 5G.
O ministro da Infraestrutura nunca mostrou empolgação com a missão de se candidatar ao governo de São Paulo e preferia o Senado por algum estado do Centro-Oeste, mas Bolsonaro insiste em seu nome desde antes da filiação ao PL e impôs essa indicação como uma de suas condições, apesar da má vontade do cacique Valdemar Costa Neto.
Já Damares Alves não esconde a vontade de ser senadora, mas a indicação para concorrer por São Paulo também é uma escolha de seu chefe, que tenta, acima de tudo, montar uma chapa de pessoas nas quais confia pessoalmente. Ela tem ventilado a possibilidade de concorrer no Amapá.
O presidente do PL e o presidente do PP (licenciado desse cargo porque virou o ministro chefe da Casa Civil de Bolsonaro) são os principais avalistas da aliança de Bolsonaro com o Centrão.
No comando de partidos poderosos que compõem a nova base do presidente, eles têm poder para decidir o cardápio que será oferecido aos eleitores nas urnas em novembro.
Alvos preferenciais das críticas dos extremistas que uma dia marcharam com Bolsonaro, porém, eles não parecem dispostos a ceder espaço – decisão que deve fazer o arranca-rabo da extrema direita durar pelo menos mais alguns meses, até a consolidação das candidaturas.